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16/01/2009 - Socrates, o maior genio corintiano fala do atual futebol brasileiro

Ícone da Democracia Corintiana, movimento que marcou época no futebol brasileiro no início dos anos 80, e considerado um dos maiores talentos da seleção comandada por Telê Santana, que encantou o mundo nas Copas de 1982 e 1986, Sócrates sempre foi diferenciado, com ou sem a bola nos pés.

Formado em medicina, o doutor Sócrates encantava tanto dentro de campo, com sua postura elegante, visão de jogo e seus famosos e inesquecíveis toques de calcanhar, quanto fora dele, por suas declarações marcantes, sempre embasadas e com fundo político.

Comentarista esportivo, Sócrates agora marca presença no mundo empresarial, cedendo seu nome a uma linha de produtos esportivos da Topper, empresa que o patrocinava desde a época de jogador e que traz aos dias atuais uma réplica da chuteira usada por ele no Mundial da Espanha, há 26 anos, além de outros artigos assinados pelo craque, como camisetas, tênis, bolas e mochilas.

Tricampeão paulista pelo Corinthians em 1979, 1982 e 1983, o doutor também passou pela desagradável experiência de disputar a Segunda Divisão Nacional com a camisa alvinegra, à época denominada Taça de Prata. "Era uma Segunda Divisão falsa", sorriu, lembrando que Timão disputou a elite no mesmo ano, graças ao regulamento da competição, sucumbindo apenas nas semifinais da ‘Série A’, a Taça de Ouro, diante do Grêmio.

Em entrevista, Sócrates foi abordado sobre o atual momento de duas de suas paixões: o Corinthians e a seleção brasileira. E não escondeu seu descontentamento com o modo como a camisa verde e amarela vem sendo tratada pelos ‘pupilos’ do técnico Dunga. "Não é de hoje que estamos agredindo nossa cultura futebolística. Nosso futebol não é esse".

Apesar das críticas, Sócrates surpreendeu ao não criticar diretamente o comandante da seleção nacional e ao se recusar a apontar o treinador ‘ideal’ para a equipe. O Doutor espera, no entanto, que a seleção se espelhe na Espanha, campeã da Eurocopa, para voltar a encantar o mundo com a bola nos pés.

Ao falar sobre a atual saga alvinegra na Segundona do Brasileiro, Sócrates mostrou confiança total no retorno da equipe para a elite, mas fez um alerta: "Não vai ser tão fácil quanto a Fiel está pensando. O time ainda não voltou".

O lado político do Doutor também ficou evidente durante a conversa quando Sócrates foi abordado sobre a vitória de Roberto Dinamite nas eleições presidenciais do Vasco da Gama, a primeira de um ex-jogador de futebol na história recente do país. "Pode ser importante para contaminar outras áreas do esporte no país", opinou Sócrates, para, na seqüência, admitir um sonho bem recente, impulsionado justamente pela vitória de Dinamite: assumir um cargo diretivo no Timão. "Por que não?", questionou.

GE.Net – Você foi um dos grandes nomes da seleção brasileira nas Copas do Mundo de 1982 e 1986. Como analisa o atual momento da equipe brasileira, quinta colocada nas Eliminatórias?

Sócrates – Não é de hoje que estamos agredindo a nossa cultura futebolística. Nosso futebol não é esse. Estamos trilhando um caminho que não é nosso e seguindo culturas mais pragmáticas, como a inglesa e a alemã, mas o futebol brasileiro é criatividade, beleza, espetáculo.

GE.Net – E qual a saída para a seleção voltar a jogar um futebol bonito?

Sócrates – Espero que a vitória da Espanha na Eurocopa possa mudar a tendência mundial e que o futebol brasileiro possa ter novamente uma filosofia voltada para o espetáculo.

GE.Net – A demissão do Dunga do comando da seleção é o 1º passo para recuperar essa filosofia? Quem é o técnico ideal para você?

Sócrates – O futebol brasileiro tem que reencontrar o caminho que nunca deveria ter perdido, mas o nome do técnico que comanda a seleção é o de menos. O que conta é a idéia, a filosofia. Não dá para imaginar o futebol brasileiro triste. Seria como tirar o Carnaval do povo. Temos que deixar fluir nossa cultura, pois nosso futebol é alegre.

GE.Net – Dizem que não há mais jogadores talentosos no Brasil e que foi por isso que a forma de atuar mudou. Você concorda?

Sócrates – Não. É claro que não dá para comparar a qualidade técnica de hoje em dia com a de 20, 30 ou 40 anos atrás, mas o talento existe. O problema é que os jogadores estão amarrados, pois, quando a filosofia restringe a sua liberdade, você fica acanhado. Mesmo assim, há muitos jogadores brasileiros em destaque atualmente.

GE.Net – Você teme pela campanha nas Eliminatórias? Acha que o Brasil corre o risco de ficar fora da Copa de 2010?

Sócrates – Não. De jeito nenhum. Independentemente dos problemas que a seleção está enfrentando, ela ainda não tem adversários. A equipe terá que fazer muito esforço para não ficar ao menos entre os cinco primeiros. Se fosse como na minha época, com divisão de grupos, poderia até ser...

GE.Net – Falando agora de Corinthians: como você vê a atual situação do Timão?

Sócrates – Aquele momento mais difícil, o momento da queda, passou. A equipe fez boa campanha na Copa do Brasil e também está bem na Série B. A tendência é de crescimento.

GE.Net – Tem muita gente dizendo que o time já garantiu a vaga. Você, que já teve a experiência de jogar a Segundona, concorda?

Sócrates – Eu joguei uma Segundona falsa (risos), pois, na época da Taça de Prata, os melhores subiam para a elite no mesmo ano. Eu não acho que o Corinthians já voltou. Ele tem uma vantagem grande, principalmente porque no começo do campeonato houve um respeito muito grande pelo Corinthians, mas agora começou a complicar. Acho que vai ser mais suado do que o corintiano espera.

GE.Net – Então você acredita que a volta para a Série A corre riscos neste ano?

Sócrates – Risco sempre há, mas no Corinthians há pessoas com competência para entender as dificuldades e superá-las. As condições para o time subir de novo para a Primeira Divisão são bastante favoráveis e acho que é natural que isso ocorra.

GE.Net – Você sempre foi uma pessoa muito ligada aos movimentos políticos, tanto que é um dos responsáveis pela Democracia Corintiana. Vê com bons olhos a vitória do Roberto Dinamite para presidente do Vasco, seguindo o exemplo do Michel Platini (francês, presidente da Uefa) e do Rumenigge (alemão, presidente do Bayern de Munique)?

Sócrates - Acho que pode ser importante para contaminar outras áreas do esporte no Brasil. Será uma mudança de filosofia interessante em termos de gestão, pois, para assumir cargos de gerenciamento no esporte, a pessoa tem que ter experiência dentro dele. O Platini e o Rumenigge foram escolhas naturais, pois estão levando para fora do campo a experiência que acumularam quando jogaram.

GE.Net - Você nunca pensou em exercer algum cargo diretivo no futebol?

Sócrates - Nâo era uma idéia muito forte não, até porque aqui no Brasil não se dava muita importância a isso, mas, no futuro, pode ser. Acho interessante, pois há eleição direta e eu participei disso. Penso em me aproximar e, quem sabe, ficar mais por dentro da situação do Coringão. Por que não?


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