O radialista José Paulo de Andrade é recordista de apresentação no rádio brasileiro: seu programa "O Pulo do Gato", transmitido pela Rádio Bandeirantes, fez 35 anos. Paulistano, são-paulino, jornalista e bacharel em Direito, Andrade ingressou na Bandeirantes em 1963. Entre 1977 e 1994, ocupou cargo de chefia no veículo de comunicação que considera o mais intimista: "As pessoas que te ouvem reconhecem seu estado de espírito pela voz. O ouvinte detecta seus sentimentos".
Apesar de lembrar que muitas pessoas consideram o rádio o "primo pobre dos meios de comunicação", Andrade não acredita no seu fim. "Eu acho que o futuro do rádio é segmentar. Cada emissora vai seguir o seu caminho - policial, esporte, infantil, cada um vai ter o seu filão".
Andrade fala do meio de comunicação com romantismo e autoridade de quem dedicou a vida à causa: "O rádio ainda é o melhor veículo para chegar na orelha do ouvinte", diz. "Ele é verborrágico, mas tem que falar a coisa certa, se não, não funciona. As mensagens do rádio ficam guardadas, são duradouras".
Portal IMPRENSA - Seu programa fez 35 anos, mas você sempre fez outras coisas. Como é conciliar várias atividades?
José Paulo de Andrade - Eu fiz e ainda faço. Meu programa não é minha única atividade. Eu era radialista do programa "Primeira Hora", jornal falado das 7h. Mas já fui narrador de esporte, locutor de esporte, conciliava todos os trabalhos. Com Mauro Magalhães, fazia um programa de TV, na época que foi criado "Pulo do Gato". Em 1977 comecei a chefiar a rádio, e ocupei este cargo até 1994. Quando me botaram na parede e a empresa cresceu, pensei: "sou um homem do microfone e estou chefe". Então voltei a ser radialista. Já fiz de tudo: narrei esporte, fui narrador de luta livre, só não lembro de ter narrado velório ou féretro. Mas muitos amigos meus fizeram isso. Lembro quando Tancredo Neves morreu, do povo acompanhando a pé o féretro do Incor até Congonhas, ou quando morreu Elis Regina, Airton Senna.
IMPRENSA - O que você cobriu?
Andrade - Isso eu nunca cobri, mas já fiz cobertura de carnaval, aquelas coisas que se você não tomar muito cuidado, vira uma bobagem. Fora as jornadas esportivas, quando o jogo começava às 16h, mas às 13h eu já estava no estádio, abrindo a transmissão. Para manter os ouvintes interessados, levava de tudo, violão, cavaquinho, fazia uma festa. Normalmente, quem dá certo na TV veio do rádio, porque sabe improvisar, prender a atenção.
IMPRENSA - Qual é a principal característica de trabalhar em rádio?
Andrade - Rádio é muito mais intimista, as pessoas que te ouvem reconhecem seu estado de espírito pela voz. O ouvinte detecta seus sentimentos, e com essa facilidade da internet, manda e-mail, dizendo "hoje você estava nervoso, hoje você estava alegre". A voz transmite seus sentimentos, até se você está falando verdades ou mentiras. Na TV, passa um pozinho na cara e esconde o sentimento, mas não fica natural, e você tem que se prender ao texto. O rádio já é verborrágico, mas tem que falar a coisa certa, se não, não funciona.
IMPRENSA - Você acha que as novas tecnologias, como a internet, mudaram a rádio?
Andrade - A internet ajudou o rádio, leva a informação para onde as ondas curtas não podem levar, leva sua mensagem para onde ela não pode ser transmitida. Entretanto, a técnica ainda deixa a desejar, principalmente na recepção. Dificilmente, com essas novas tecnologias, como o MP3, se encontra rádio AM, por exemplo. Não se consegue ouvir. Acho que associações como Abert, ou Aesp, deveriam tomar atitudes, colocar receptores de boa qualidade. A TV, a cada ano, tem modelos novos. O rádio pode ser considerado o "primo pobre dos meios de comunicação".
IMPRENSA - Qual será o futuro do rádio?
Andrade - Eu acho que o futuro do rádio é segmentar. Cada emissora vai seguir o seu caminho - policial, esporte, infantil, cada um vai ter o seu filão. Mas o rádio ainda é o melhor veículo para chegar na orelha do ouvinte. São mensagens que ficam guardadas, que são duradouras. Até hoje pessoas de mais idade falam: "ah, lembra daquela história daquela rádio...".
IMPRENSA - Como é fazer o mesmo trabalho há trinta anos?
Andrade - É um desafio diário, às vezes me sinto cômodo, porque hoje estou com 65 anos, com uma safena no meio do caminho, stent, aumento de peso, preocupações. Mas me sinto feliz e realizado, porque olho para trás e vejo a consolidação da minha carreira. Manter a programação no ar com liderança é um desafio diário. E, para realizar isso, quando entro no estúdio deixo para trás todos os meus problemas pessoais, penso só no meu programa e nos meus ouvintes.
Mais sobre Jose Paulo de Andrade.
TNW - Desde quando você torce pelo São Paulo?
JPA - Desde que me entendo por gente, há cinquenta e oito anos (1950, com 8 anos), influenciado por meu pai, são-paulino e ouvinte dos grandes narradores de rádio da época, Aurélio Campos, da Rádio Tupi, e Geraldo José de Almeida, da Rádio Record.
TNW - Você costuma ir ao estádio?
JPA - Desde que deixei a assessoria de Comunicação, em 1997, nunca mais fui.
TNW - Qual o melhor time do São Paulo que você viu jogar?
JPA - Pelas conquistas mais importantes, o dos anos 90, bi da Libertadores e Mundial.Mas como torcedor, inesquecível o de 1957, campeão paulista,sob o comando do técnico hungaro Bella Gutman e, no campo, do "Mestre Ziza".
TNW - Qual foi a última partida que você assistiu no Morumbi?
JPA - Não guardei, porque não sabia que seria a última...
TNW - Qual foi o jogo que mais marcou em sua vida, aquele jogo que você não vai esquecer jamais?
JPA - Os 5 x 1 de 1993, contra o Universidad Catolica, em que o time deu show de bola, e, assim mesmo, o goleiro Zetti praticou a sequência mais impressionante de defesas que já vi: quatro, de chutes à "queima roupa", superando a marca de três seguidas do uruguaio Rodolfo Rodriguez, no gol do Santos.Esse é um lance que gostaria de ver repetido em programas esportivos e que raramente foi mostrado.
TNW - Você estava presente neste jogo?
JPA - Sim, mas houve outros, como os 4 x 0 contra o Newell's, também de 93, em que tivemos de reverter os 2 x 0 da Argentina.
TNW - Qual o título mais importante que o São Paulo ganhou, em sua opinião?
JPA - A síntese de uma era vitoriosa foi o jogo com o Barcelona, na final do Mundial Inter-clubes de 1992. O gol de falta de Raí resume a história gloriosa do São Paulo.
TNW - Faça uma Seleção do São Paulo de todos os tempos, do goleiro ao ponta-esquerda. A composição tática fica por sua conta.
JPA - Zetti - Cafu- Mauro Ramos de Oliveira - Roberto Dias e Leonardo;
Dino Sani - Cerezzo - Raí - Cacá; Muller e Careca.
Muitos outros mereceriam citação, do presente e do passado como Poy, Gerson, Pedro Rocha, Chicão, Sergio Valentim, Waldir Peres,Rogério Ceni, Silas, Gino Orlando, Serginho Chulapa, Ricardo Rocha, Valber, Palhinha,Denilson, etc...
TNW - Qual o seu maior ídolo entre os jogadores do Tricolor em toda a história?
JPA - José Ribamar de Oliveira, o Canhoteiro, "show man", porém jogador de um só título.
TNW - Você é sócio do clube?
JPA - Sou sócio desde 1958, logo após a conquista do título paulista de 1957.
TNW - Pratica algum esporte no clube?
JPA - Como cardiopata tenho minha atividade esportiva limitada.
TNW - Participa de alguma maneira da vida do São Paulo?
JPA - Fui conselheiro entre 1990 e 1998 e, como assessor de Comunicação, no primeiro mandato do Presidente Fernando Casal de Rey, elaborei o projeto de criação da atual Diretoria de Comunicação, aprovado pelo CD, e que permite a inclusão, no órgão diretivo, de mais um são-paulino disposto a trabalhar, geralmente profissional da área, que engloba Imprensa, Propaganda e Marketing e Relações Públicas;
TNW - Acompanha o noticiário de algum esporte amador do São Paulo?
JPA - Bastou ter a camisa tricolor para acompanhar (voley, futebol de salão, boxe). Infelizmente não temos tido destaque ultimamente em nenhum deles.
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