Alguns dos motivos que me levam a acreditar que o futebol dos anos 70 e 80 foram os melhores da história.
O cenário do futebol brasileiro era bem diferente do atual.
Os times tinham jogadores de frente mais técnicos.
Havia espaço para eles encantarem com bonito dribles, tabelas envolventes e outros lances de bela plástica.
A Europa contratava pouco daqui.
Os valores das transações, se comparados aos de meados dos anos 90 em diante, podem ser chamados de esmolas.
O esquema tático preferido dos técnicos era o 4-3-3, com pontas e laterais autênticos.
Os 3 da frente não marcavam ninguém, e ai do treinador que desse a idéia seria execrado. Alguns já escutavam "um monte" quando o ponta recuava para a meia.
O doutor Socrátes (foto) era fabuloso e o Mário Sérgio era inteligente, dono de passes precisos, chutes refinados e individualista. Mário Sérgio jogava pra dedéu!!! Só que era preguiçoso e baladeiro.
Seu perfil de atleta é a antítese do que exige de seus comandados.
Apesar da importância, os técnicos nunca se transformavam na estrela da agremiação.
A famigerada Lei do Passe ditava as regras de transferências fora de campo.
Dentro dele, as vitórias valiam 2 pontos, o goleiro podia pegar com a mão todas as bolas recuadas, e quem partisse da mesma linha dos zagueiros em direção a gorduchinha estava impedido.
O sobrepasso do goleiro foi substituído pelo limite de 6 segundos com a bola nas mãos.
Mas raramente os árbitros, na época denominados juízes, assinalavam esse tipo de infração.
Em 1981, a então jovem CBF, presidida pelo confiável Giullite Coutinho, implantou pela primeira vez como critério de participação do Brasileirão, na época chamado de Taça de Ouro, os resultados dos Estaduais.
Não havia primeira e segunda divisões definidas.
Participaram da Taça de Ouro, os 6 primeiros colocados do campeonato paulista, os 5 primeiros do carioca, campeão e vice de RS, MG, PR, BA, PE, CE e GO, mais os campeões dos outros 13 estados, além de campeão e o vice da Taça de Prata do ano anterior (Londrina e CSA) puderam jogar a fase inicial.
Nem existia o Estado de Tocantins.
Os 4 mais bem colocados na primeira etapa da Taça de Prata do mesmo ano, Palmeiras, Náutico, Bahia e Uberaba também entraram na segunda fase da competição.
Talvez por ser ainda novo na época (nasceu em 1971), e ter sido maltratado, enrolado e inchado, o brasileirão era tão importante quanto, ou menos que os principais campeonatos estaduais.
Não havia a Copa do Brasil e o torneio nacional terminava no primeiro semestre.
Pontos corridos era coisa dos tempos de Pelé.
Antes do final do brasileirão em 1981, Corinthians, Santos, Fluminense, Botafogo, Cruzeiro e Grêmio não tinham vencido a competição.
O maior campeão era o Internacional, que levantara a Taça 3 vezes. Flamengo e São Paulo, os penta, eram apenas "campeões". O tetra Palmeiras era bi. Tirante os 4 citados, apenas Galo, Bugre e Vasco conseguiram o título do brasileiro.
Libertadores, aqui, era exclusividade de santistas, flamenguistas e cruzeirenses.
Mundial, seja de clube ou seleção, só com Pelé no elenco.
Em 30 de abril e 3 de maio de 1981, foram disputadas as finais do campeonato brasileiro daquela temporada.
São Paulo e Grêmio, primeiro no Olímpico, depois no Morumbi, foram os protagonistas.
Arnaldo César Coelho arbitrou em Porto Alegre, e José Roberto Wright em Sampa.
Coloquemo-nos naqueles dias.
O Grêmio nunca havia ganho um torneio continental ou nacional e o Inter era o maior campeão do país.
O São Paulo, em 1980, montara a "máquina" e entrava na decisão com o peso de ser o então campeão estadual (seria bi no segundo semestre)*.
Mas o Tricolor dos Pampas levou a melhor nas duas decisões.
Fez 2×1, de virada, em Porto Alegre, e calou 95 mil no Morumbi graças ao gol de Baltazar, o artilheiro de Deus.
A capacidade dos estádios era maior que a de hoje e os ingressos confeccionados em papel.
Na época, havia 2 atletas evangélicos conhecidos.
O centroavante herói gremista Baltazar, e o goleiro João Leite, do Galo, que presenteava seus adversários com bíblias e eles eram muito bons nas sua posições.
O título desvirginou o Tricolor Imortal nas conquistas nacionais.
E como se agigantaram São Paulo e Grêmio de 1981 para cá!
Mesmo depois de vencer as duas partidas decisivas, o campeão terminou com 30 pontos contra os 32 do vice, coisa normal naqueles tempos.
As mudanças no mundo e no futebol não apagam a história.
Elas, ao contrário, valorizam a rivalidade que está aí.
Os são-paulinos pra sempre se lembrarão de Baltazar encobrindo Valdir Peres.
Abaixo, a ficha daquela final.
30 de Abril, 1981
Grêmio 2 X 1 São Paulo (Olímpico, Porto Alegre)
Público: 53.388
Árbitro: Arnaldo Cezar Coelho
Paulo Isidoro Gol 55′, Gol 69′- Serginho Chulapa Gol 39′
Grêmio: Leão (Remi); Uchoa, Newmar, De León e Casemiro; China (Renato Sá), Paulo Isidoro e Vilson Taddei; Tarciso, Baltazar e Odair. Técnico: Ênio Andrade.
São Paulo: Valdir Peres; Getúlio, Oscar, Dario Pereyra e Marinho Chagas; Almir, Renato (Assis) e Everton; Paulo César, Serginho Chulapa e Zé Sérgio. Técnico: Carlos Alberto Silva.
3 de Maio, 1981
São Paulo 0 X 1 Grêmio (Morumbi, São Paulo)
Público: 95.106
Árbitro: José Roberto Wright
Serginho Chulapa Expulsão 88′- Baltazar Gol 54′
São Paulo: Valdir Peres; Getúlio, Oscar, Dario Pereyra e Marinho Chagas; Élvio, Renato e Everton (Assis); Paulo César, Serginho Chulapa e Zé Sérgio. Técnico: Carlos Alberto Silva.
Grêmio: Leão; Paulo Roberto, Newmar, De León e Casemiro; China, Vilson Tadei (Jurandir) e Paulo Isidoro; Tarciso, Baltazar e Odair (Renato Sá). Técnico: Ênio Andrade. |