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06/01/2009 - Juca Kfouri entrevistado pelo reprter Rodrigo Ferreira. Confira

Com mais de 35 anos de jornalismo, Juca Kfouri tem uma carreira admirvel. Foi diretor de redao das revistas Placar e Playboy, colunista de jornais como O Globo e Lance! e responsvel pela matria que denunciou a chamada "Mfia da Loteria Esportiva" em 1982.

Atualmente Juca comentarista da ESPN Brasil e responsvel por uma coluna na Folha de S. Paulo. Alm disso, mantm um blog que j ultrapassou a marca de 40 milhes de acessos. Sabe-se l como, esse homem arrumou um tempo para conversar com Rodrigo Ferreira. Exibindo a habitual classe, tratou de temas delicados, como ser corinthiano.

Confira.

Rodrigo Ferreira: Quem hoje Juca Kfouri?

Juca Kfouri: Um blogueiro. Como voc bem sabe, o blog acaba exigindo 24 de dedicao. Se voc no publica muitas notas, o pessoal reclama, pergunta se est de ferias ou doente, com problemas na famlia.

Quando eu fui para o UOL, ou seja, quando voltei para a Folha, o contrato exigia que eu escrevesse uma nota por dia, de segunda a sexta. Nada de fins de semana. Fui dormir pensando: se amanh 10 mil pessoas tiverem acessado, eu vou dormir feliz. A, fiz a primeira nota. Entrou no ar as 10 horas da manh. s 4 da tarde, tinham 60 mil visitas. E pensei: "no possvel deixar todas essas pessoas com uma nota s. Preciso fazer alguma outra coisa".

A partir da, o blog vai fazer 3 anos, no houve um dia em que eu no escrevesse alguma coisa. Inclusive nas frias. Tenho sempre que inventar alguma coisa, como o campeonato de selees de todos os tempos.

RF: E o que fez para chegar a ser esta pessoa?

JK: Se eu tivesse que definir em uma frase: Eu no curvei a espinha. Como disse o Millor Fernandes, "quem se curva aos poderosos, mostra a bunda aos oprimidos". Eu no fiz isso.

RF: Voc, no comeo dos Geraldinos disse: "mas quem sabe se um dia o jornalista no poder viver apenas do respaldo dos leitores que queiram acompanhar o seu trabalho, realizao do velho ideal de fazer, de fato, do leitor o nico patro do homem de imprensa?". Algo mudou de l pra c?

JK: Acho que no. Porque ainda no se resolveu a equao, que no simples, relativa aos blogs. Que : como recolher aqueles que de fato querem pagar, ao menos R$2,00 por ms, para ter acesso ao seu blog.

Digamos que no mundo voc tenha 30mil pessoas interessadas em pagar. Pronto, voc t com a vida ganha. Mas como resolver a equao em que o depsito desses R$2,00 no seja mais caro do que a operao bancria em si?

Isso talvez tenha uma soluo um dia com uma cooperativa de blogueiros, que una uma massa que justifique. Mas eu acho que este caminho ainda est aberto.

RF: Hoje, o que motiva um jornalista que trabalha com opinio e blog?

JK: A quixotesca pretenso de fazer com que as coisas melhorem.

RF: Como conviver com a fama? Entrevistar pessoas menos conhecidas que voc? Isto era esperado?

JK: Eu no tenho esta noo. Felizmente. Eu acho que uma diferena muito grande entre ser notrio e ser famoso. Se tivesse uma lei que obrigasse todo caixa de banco a colocar a cara na tela, o cara entraria em um restaurante e, na hora, algum gritaria "olha l o caixa do tal banco!". Como no tem, as pessoas acabam se apegando a quem aparece na televiso. Isso notoriedade. Famoso o Chico Buarque de Holanda.

Eu acho isso. Sigo a risca a coisa de "no ficar bestinha". Isso at me incomoda. Eu preferia ser mais annimo do que sou. At porque o no-anonimato me atrapalha em um monte de coisa. Coisas que eu podia fazer anos atrs e hoje eu no posso, que eu tenho que pedir que faam pra mim.

RF: Ser conhecido pela rigidez de moral e ideais, no cria um preconceito ou um bloqueio sua imagem?

JK: Eu acho que sim. No fundo, uma burrice o que as pessoas dizem, que eu sou "o paladino da moral". Que paladino coisa nenhuma! So as pessoas que fazem isso. Voc me v defender posies, meus princpios. Mas nunca me viu bater no peito e dizer "porque eu! porque eu!". Que nada. Primeiro, porque eu no acho que faa nada alm da minha obrigao. Segundo, porque tenho conscincia de todas as cagadas que eu j fiz na minha vida. Tentei limp-las, nunca fiz por querer. Nunca fiz de sacanagem. Mas reconheo as besteiras que cometi. O Ra me disse que eu devia sofrer muito. No, eu no sofro. Eu s procuro seguir o que eu herdei do meu pai, e ele no sofria.

Eu no sofro, eu fao naturalmente.

Tem o seguinte, quando voc tem uma imagem de uma pessoa sria, ningum chega pra voc pra propor uma armao. Porque no vai dar em nada. Eu no preciso dizer para voc que tenho medo de um dia cair em tentao, porque a tentao sequer bate minha porta.


"Sigo a risca a coisa de no ficar bestinha"

RF: O que voc ganha com tamanha rigidez?

JK: Eu ganho uma vida muito melhor do que a que eu imaginei quando comecei minha carreira de jornalista. Tenho um carro, uma casa, tudo melhor do que eu imaginava. Viajo para onde eu quiser.

Se no for por virtude, faa por oportunismo. Eu me dei bem sendo assim.

RF: Ao ser to duro com algumas pessoas, a falada imparcialidade do jornalista no afetada? Como lidar com Luxemburgo por exemplo?

JK: Eu tenho muita clareza. O Luxemburgo um dos melhores tcnicos do futebol brasileiro. Mas eu, como torcedor, no quero ele como tcnico do meu time. Quando ele foi tcnico do Corinthians, eu pedi licena. E olha que eu no fiz isso nem com a MSI.

Porque eu acho que ele, no frigir dos ovos, faz mal aos clubes que ele dirige. Ganham uma coisa aqui e ali, mas deixa o clube exaurido. Ele est mais preocupado com o prprio umbigo do que com os clubes. Eu no gosto do estilo dele.

RF: Como seria, em uma frase, a nota do Blog do Juca em uma suposta final de Copa do Mundo em 2014 no Brasil, com o Brasil campeo, Luxemburgo como tcnico e Ricardo Teixeira presidente da CBF?

JK: Brasil hexa (ou hepta) campeo mundial, apesar de tudo.

RF: Qual o maior momento da sua carreira?

JK: Veja bem, tem duas avaliaes. A de fora e a pessoal.

Se voc perguntar, qual foi a coisa que fiz em jornalismo que mais me orgulha, que mais me agrada, foi descobrir a identidade do Carlos Zfiro. At porque demonstra que o jornalismo investigativo no sinnimo de denncia, de que algum precisa se ferrar por causa da matria. At o contrrio, foi uma matria que fez bem para o seu Alcides (Aguiar Caminha /1921-1992). Esta a coisa que mais me orgulha.

Agora, o que me consolidou como jornalista. E que eu apenas comandei, nem fui eu quem fiz, pois quem fez foi o Srgio Martins, foi a denncia da mfia da loteria esportiva em 1982 na Revista Placar.

RF: Um momento para esquecer?

JK: A minha aproximao extremada com o Rei Pel.

RF: possvel ser amigo de um jornalista?

JK: No pode. O jornalista s pode ter amigo jornalista. Fonte no amigo. Porque entre a fonte e a notcia, eu no tenho a menor dvida em publicar a notcia. Jornalista, neste aspecto, uma das profisses mais solitrias que h.

RF: Quais suas lembranas da poca de Geraldino?

JK: As melhores possveis. Uma delas voltando de Belo Horizonte depois de uma derrota para o Cruzeiro na Final da Taa de Prata em 69, poca em que Dirceu Lopes e cia. acabaram com o Corinthians.

Voltando de nibus, sem nenhuma janela intacta, com todos os vidros apedrejadas pela torcida do Cruzeiro, eu estava dormindo quando um nego que at ento no tinha aberto a boca pra falar nada, nem na ida, nem na volta, colocou a mo na minha perna e disse assim: amigo, briguei com as minhas duas mulheres pra vir nesse jogo e o coringo me perde? foda amigo! foda! o coringo! o coringo!", me levantou gritando " o coringo, o coringo!".

Todo mundo acompanhou, colocaram as bandeiras pra fora e comearam a cantar. ramos ns, entrando em So Paulo pela Ferno Dias, com o dia amanhecendo, o nibus j desgarrado da caravana e as pessoas indo para o trabalho olhando aquilo e pensando o quo malucos eram aqueles caras. Naquele dia o campeo do Brasil era o Palmeiras, que tinha ganhado do Botafogo. Ningum acreditava naquilo. E era coisa de maluco mesmo.


" Os imprevistos da vida conduzirem a sua carreira melhor do que planejar"

RF: E Quais as consequncias para a sua carreira de admitir ser corintiano?

JK: Olha, no dia-a-dia, traz mais chateao do que benefcio. Mas a mdio-longo prazo, no tenho dvida que traz mais credibilidade. As pessoas sabem que voc no engana. Mas sou acusado pelos corintianos de no ser corintiano, de ser crtico. E os outros acreditam que eu alivio para o Corinthians.

RF: O Herbert Vianna certa vez disse que o acidente mudou sua forma de ver o pblico. Que antes ele corria de um lado para o outro, buscando se divertir e entreter os espectadores. Mas hoje, na cadeira de rodas, ele pode olhar nos olhos do pblico e entender o que eles querem e o que sentem. Voc acha que o blog te coloca nesta mesma posio, mais prximo do seu plbico?

JK: O blog, sem dvida, te permite mais interao que nenhum outro veculo d. Voc sabe com quem voc est falando.

O que o Herbert Viana disse, e est certssimo, realmente verdadeiro nas palestras. Onde voc olha no olho das pessoas. Voc age de acordo com a expresso e a reao das pessoas. Assim, procura evitar alguns temas ou at se alonga em seus argumentos at fazer o pblico concordar. Por intimidao ou por argumento.

Mas a interao no blog faz uma diferena brutal. Na televiso ou no rdio, voc no mximo imagina, fica mais fcil falar. No blog, voc pega o retorno, conhece o seu leitor.

RF: O que te d mais prazer profissionalmente? TV, Rdio, Jornal ou Internet?

JK: No h nada que me d mais prazer que o rdio. Aqui eu me divirto uma barbaridade fazendo o programa. s vezes eu chego aqui com 500 quilos nas costas e saio leve como uma pluma. Sempre brinco que ainda me pagam para fazer isso. Se eu tivesse que pagar para vir para c, sairia mais barato do que uma terapia. Mas me pagam para fazer isso.

Talvez tenha sido a nica coisa que eu me arrependa na minha carreira. Ter demorado tanto para fazer rdio. Comecei em 2000 e eu no tinha idia do quo gostoso .

RF: Voc ainda espera alguma coisa da sua carreira?

JK: Espero. O que, eu no sei. Eu espero a mesma coisa que eu nunca esperei. Porque as coisas sempre foram acontecendo. Se voc me dissesse que eu seria editor da Placar, eu diria que voc estava maluco. Da Playboy ento? Mas nunca! Trabalhar na Globo? No h hiptese!

As coisas foram acontecendo. No meio do caminho, alguma pessoa chegou e falou que gostaria que eu fizesse isso ou aquilo e eu fui fazendo. Tenho pra mim que o fato de os imprevistos da vida conduzirem a sua carreira melhor do que planejar. Porque o cara quando planeja alcanar algo, ele precisa pisar em algum pescoo. Quando as coisas vo acontecendo, aconteceram. Voc pode at deixar pessoas que pretendiam aquilo chateadas, mas voc no tem nada a ver com isso.

RF: Qual a soluo para o futebol brasileiro? Quem seria, hoje, o profissional ideal para conduzir a profissionalizao do futebol?

JK: A soluo exatamente a profissionalizao. Com os clubes sendo tratados feito empresas, responsabilizados como empresas. E para realizar isso, existem centenas de pessoas capazes, profissionais gabaritados para conduzir este processo.

RF: Algum dentro do futebol?

JK: Sim! O Tosto, por exemplo, com a cabea que tem. At o Parreira poderia, se no fosse to subserviente como se revelou na Copa de 2006. Mas que tem gente, isso tem!



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