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05/09/2012 - Causos do futebol: Duelo de gigantes

Parece título de faroeste americano, mas não encontrei outro para definir um causo que muita gente vive me pedindo para contar, principalmente os que acham que sou santista.

"Michel, por que você não conta aquela humilhação que o Cruzeiro impôs ao Santos"?

Sempre acho que no medido vem embutido um certo tom de desafio e de implicância.

Mas a história vale a pena ser contada, ainda mais depois de ter ouvirdo Pelé e Tostão falar desses jogos.

Foi no final de 1966.

O Santos vinha conquistando tudo, entre esse tudo tinha ganho a Copa do Brasil em 61-62-63-64 e 65 e era já naquela época "o caminho mais curto para a Libertadores".

Libertadores que o Santos tinha desistido de disputar depois do bicampeonato de 62 e 63 – porque naquele tempo a renda dos jogos era dos mandantes. Lá fora o Santos de Pelé era uma atração que lotava os estádios. Quando o adversário vinha a Santos meia dúzia de gatos pingados "lotavam" a Vila Belmiro.

Mas enquanto o Santos viajava pelo mundo para ganhar cotas astronômicas, o Cruzeiro ia na surdina montando um time de sonhos. Tostão, Raul, o fantástico Dirceu Lopes´- um dos jogadores mais injustiçados do futebol brasileiro; Wilson Piazza, Evaldo – um centro-avante moderno, baixo e ágil, goleador, tipo hoje Vagner Love, e´Natal, Hilton, Procópio, Pedro Paulo, Neco e William de central. Era um time sensacional.

Na decisão da Copa do Brasil de 1966, o Santos viajou para Belo Horizonte, onde enfrentou o quase desconhecido Cruzeiro.

Com menos de cinco minutos de 5, Cruzeiro 2 a 0, com um gol contra do lateral-esquerdo Zé Carlos e outro de Natal.

O Santos nem teve tempo de se arrumar. Dirceu Lopes aos 20 e aos 39 minutos fez 4 a 0, e Tostão aos 42 deu uma vantagem inacreditável ao Cruzeiro de 5 a 0 ainda no primeiro tempo.

Tostão sorriu quando me contou:

- Entramos no vestiário e nem a gente acreditava! 5 a 0, cara, sobre o Santos de Pelé. Todo mundo estava meio abobalhado, a ponto do nosso técnico Airton Moreira – irmão de Zezé e Aimoré Moreira – dar uma tremenda sacudida no pessoal.

O temor do técnico quase virou verdade, quando logo no início do segundo tempo Toninho Guerreiro marcou o primeiro aos 6 minutos e o segundo aos 9.

Mas o Cruzeiro logo se recuperou e Dirceu Lopes marcou. 6 a 2 para o Cruzeiro contra o poderoso Santos de Pelé.

Os jogadores do Santos juraram vingança.

Só que o jogo de volta não foi na Vila Belmiro, mas no Pacaembu, numa noite de quarta-feira em que caiu um verdadeiro dilúvio.

No jogo de ida quase 80 mil torcedores lotaram o Mineirão.

No jogo de volta o público nem foi divulgado.

- Isso "matava" um pouco nosso time. A gente lotava estádios no mundo inteiro e no Brasil inteiro. Quando a gente vinha jogar em casa o público era sempre pequeno – me disse um dia Carlos Alberto Torres recordando a decisão.

Mas o Santos entrou com tudo. O técnico Lula resolveu tirar Gilmar e colocou Cláudio no gol,do Santos.

Parecia que a vingança ia se concretizar quando Pelé marcou o primeiro aos 23 minutos e Toninho Guerreiro fez o segundo dois minutos depois.

O primeiro tempo terminou 2 a 0 para o Santos.

Mas foi no segundo tempo, debaixo de um aguaceiro inacreditável que os torcedores de São Paulo e os do Rio que assistiram ao jogo pela televisão, conheceram e nunca mais esqueceram a genialidade de Tostão, que fez o primeiro cobrando uma falta enviezada, quase sem ângulo, e que surpreendeu Cláudio.

Foi aí também que viram a incrível habilidade de Dirceu Lopes que venceu a defesa do Santos aos 28 minutos depois de tabelar com Tostão e Evaldo e entrar solto pela área. 2 a 2.

Os jogadores do Santos não conseguiam acreditar, mais ainda quando Natal no finalzinho do jogo, aos 44, fez o terceiro do Cruzeiro. Final, Santos 2, Cruzeiro 3 e o Brasil passava a conhecer um novo campeão.

Agora inacreditável como contou Tostão alguns anos mais tarde, foi ter ido ao Uruguai jogar a Libertadores do ano seguinte e o time não ter casacos para todos os jogadores.

- Muitos ficaram gripados e perdemos jogos que deveríamos ganhar. Foi a falta de experiência, é preciso lembrar que aquela foi a primeira vez que o "nosso" Cruzeiro jogou fora do Brasil.

Não tem a menor importância!

O importante foi o reinado desse Cruzeiro que foi pentacampeão mineiro e que ganhou a Taça do Brasil, revelando para a seleção brasileira que conquistaria o Tri no México Wilson Piazza e Tostão, que tiveram a participação de Dirceu Lopes nos jogos das Eliminatórias. Aliás essas seleções de 69 e 70 ganharam os 6 jogos das Eliminatórias e os 6 da Copa do México. Nenhuma outra conseguiu esse feito

Michel Laurence


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