Ser capitão do time antigamente tinha uma grande importância.
A primeira delas era representar o clube dentro do campo.
Mas a mais importante sem dúvida, era a de ser a voz do técnico junto aos companheiros. Nas décadas de 50 e 60 sem a tecnologia dos dias de hoje, o técnico não tinha observadores que do alto das cabines passam detalhes importantes. Então formava uma espécie de parceria com o capitão, que era encarregado dentro das quatro linhas de fazer cumprir suas determinações ou até de mudar alguma se notasse que não estava dando certo.
Carlos Alberto chegou ao Santos cedido pelo Fluminense, em 1966 com apenas 22 anos.
O capitão do Santos nessa época era o grande José Ely de Miranda, o Zito, bicampeão mundial com a seleção em 58, na Suécia e em 62, no Chile; e bimundial com o próprio Santos, derrotando o Benfica de Euzébio e Coluna, em 62 e o Milan, do brasileiro Amarildo, em 63.
Naquele tempo os clubes não vendiam seus craques com a mesma facilidade que nos dias de hoje. Então para fazer dinheiro saiam mundo afora em excursões quase intermináveis. Os clubes mais conhecidos iam para a Europa, os mais humildes viajavam para a África, Ásia, América Central e do Sul.
O Santos de Pelé recebia convites e mais convites a peso de ouro. A cota por jogo ou por participação em torneios relâmpagos variava conforme a presença de Pelé. Com ele "mais" tanto, sem ele "menos" tanto.
Em função disso, Pelé reivindicou um "bicho" maior do que o dos demais jogadores do time.
Um certo dia, e Carlos Alberto acabava de chegar, a diretoria avisou que avisou que como Pelé era o astro principal do time, o "a mais que ele estava cobrando das cotas seria descontado dos bichos dos jogadores". Foi uma revolta generalizada entre os jogadores. Entre eles definiram que não fariam mais nenhuma viagem enquanto não fosse acertada essa situação.
Pediram uma reunião com Nicolau Moran, que era o vice-presidente de futebol, e por unanimidade Carlos Alberto foi eleito pelos jogadores para ser o representante deles na reunião.
Carlos Alberto comunicou ao dirigente que "os jogadores não viajariam nas condições propostas".
Nicolau Moran olhou para aquele jovem e avisou:
- Vou lá falar pessoalmente com os jogadores.
Chegando no vestiário da Vila Belmiro onde todos – menos Pelé claro – aguardavam a volta de Carlos Alberto, o diretor desafiou:
- Quem não quer viajar dê um passo à frente!
O único a dar o passo foi justamente o surpreendido Carlos Alberto
Jogador de futebol naqueles tempos era ainda menos unido que nos dias de hoje. E os bichos, cá entre nós, era certamente em boa parte garantidos pelos gols de Pelé.
Mas, envergonhados, os jogadores acabaram homenageando Carlos Alberto pela coragem e o nomearam o novo capitão.
Foi assim que nasceu o grande capitão do Tri, o que levantou pela última vez a Taça Jules Rimet.
P.S: este "causo" me foi contado pelo meu grande amigo Kiko Mazziotti.
Autor: Michel Laurence |