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23/05/2012 - Causos do futebol: Dida, craque até morrer

- Eu me chamo Edvaldo!

- "Edi" o que? – perguntou o "professor" que procurava distribuir a garotada pelos dois times da "peneira".

- Edvaldo! – respondeu o garoto quase com medo.

- Isso não é nome de jogador de bola! Como é teu apelido em casa?

O garoto ainda assustado falou:

- Dida…!

- Dida é legal! Curtinho, quatro letras, como Didi, Dudu, legal!

E Dida entrou no seu primeiro treino e fez 3 gols.

Edvaldo Alves de Santa Rosa vinha de uma família classe média de Maceió, Alagoas. O pai e os quatro irmãos jogaram bola. Nenhum foi profissional. Dida se destacava. Jogava muito. Começou a ser famoso nas peladas da Praça da Cadeia. A praça estava mais para um terreno baldio bem ao lado do xadrez da cidade. Os primeiros a aplaudirem o futebol de Dida foram os presos, que acompanhavam as peladas dos garotos através da grades e apostavam sempre no time do Dida. As apostas eram com maços de cigarros.

O diálogo com o "professor" foi no América, Dida tinha apenas 15 anos e tinha sido convencido pelos dirigentes a jogar uma única partida pelo clube. Dida não queria, queria estudar, ser médico. Mas os dirigentes acabaram convencendo o rapaz:

- É uma partida só! Só uma! Contra o Barroso, decidindo o campeonato de juvenis.

Dida acabou aceitando, o América venceu, 4 a 1, com 3 gols do menino Edvaldo.

A partir daí estava decidido, Dida ia ser jogador de bola.

O CSA, que divide a torcida com o CRB, ofereceu um bom emprego ao rapaz.

Com 16 anos Dida foi convocado para a seleção alagoana. O presidente do Flamengo na época, 1953, era Gilberto Cardoso, um alagoano, ouviu falar de Dida e mandou um representante para observar o jogador. Foi um jogo entre as seleções de Alagoas e da Paraíba. No primeiro tempo venceu a Paraíba, 3 a 1. No segundo tempo Dida fez 3 gols e a seleção de Alagoas venceu, por 4 a 3. O emissário voltou ao Rio maravilhado. Custou convencer Dida a largar sua terra natal, mas finalmente em abril de 1954 ele chegou para o Flamengo.

Apesar da saudade Dida fazia furor entre os aspirantes. Nos coletivos, ele fazia 3, 4 gols na defesa titular, que formada por seus ídolos, Garcia, Tomires e Pavão; Jadir, Dequinha e Jordan. O problema é que os titulares no ataque eram o paraguaio Benitez e o fantástico Evaristo.

Na decisão do bicampeonato de 54, contra o Vasco, Benitez se machucou e Evaristo andava se queixando de uma dor na perna. Fleitas Solich, um técnico paraguaio de muita história e personalidade, Na manhã da grande decisão, Solich falou com Dida:

- Olha, você vai jogar. Mas não se preocupe, você não tem nenhuma responsabilidade. Vai lá, joga, como se estivesse nos aspirantes.

Tomado de súbita coragem Solich tirou Zagalo que era o titular e fez o parceiro de Dida nos aspirantes, o ponta-esquerda Babá entrar.

Os dois não fizeram gols por causa do grande Barbosa, que pegou tudo, ou quase tudo,, mas conquistaram a torcida. O Flamengo venceu, 2 a 1, com gols de Rubens, o doutor Rubis, e do centro-avante Indio.

No ano seguinte o Flamengo queria o tricampeonato, que seria o segundo de sua história.

Evaristo já estava de malas prontas para a Espanha, vendido ao Barcelona e Dida no segundo-turno, finalmente virou titular do Flamengo, se tornando também o artilheiro do campeonato. A decisão contra o América foi em um "melhor-de-três". Mesmo assim no primeiro jogo, Evaristo ainda jogou e fez o gol da vitória, por 1 a 0.

No segundo jogo, o América com um timaço, venceu de goleada, 5 a 1.

Aí veio a "negra" e Solich colocou Dida no ataque ao lado de Evaristo.

A história conta que o América só perdeu a decisão porque o lateral Tomires, conhecido pelo apelido de Cangaceiro, quebrou a perna do meia Alarcon, do América. Naquela época não existia substituição, nem quando um jogador quebrava a perna.

Assim o meia Duca fez o primeiro gol do Flamengo e Dida os outros três na conquista do tricampeonato do Flamengo.

Dida foi o senhor absoluto da posição de titular do Flamengo por longos 11 anos.

Entre uma conquista e outro pelo Flamengo, foi campeão do mundo na Copa da Suécia em 58, quando jogou as duas primeiras partidas e foi substituído por Pelé nas quatro últimas.

Dida com 244 gols foi o maior artilheiro da história do Flamengo por quase 3 décadas, até que apareceu Zico na década de 80, que quebrou todos as marcas do alagoano..

Dida, o homem que gostava de fazer 3 gols por partida, faleceu em 2002


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