O rapaz da portaria entrou esbaforido pela redação do Jornal do Brasil, no Rio.
- Seu Michel, tem um homem querendo falar com o senhor!
- Quem é?
- Não consigo me lembrar, mas acho que conheço de algum lugar!
- Então – respondi – manda entrar!
Quando a porta se abriu parecia que Deus tinha ido nos visitar.
Todo mundo na redação curioso para saber quem era o homem que queria falar comigo, foi ficando de pé. O primeiro foi João Saldanha que interrompeu o que escrevia; depois foi Sandro Moreira que parou uma história que contava; logo a seguir o grande colunista político Villas-Bôas Corrêa, que adora futebol; e o nosso pessoal do esporte que naquela época em 1983, era comandado pelo meu grande amigo João Areosa. O Fernando Calazans, esse comentarista da ESPN-Brasil e colunista de O Globo, mesmo ainda se recuperando de um terrível acidente de automóvel, ficou emocionado.
Nílton Santos tem esse poder. Talvez pela gentileza, talvez pela educação, mas certamente pela sua vida e personalidade. O que ele inspira sempre é respeito. Saldanha abraçou, Sandro deu um tapinha em seu rosto, Villas-Bôas sorriu.
- E aí, o que você quer com o Laurence? – Saldanha nunca me chamou de Michel por ter trabalhado anos ao lado de meu pai Albert Laurence.
- Eu quero ver se ele vai comigo até Pau Grande! – respondeu Nílton.
- Claro que vou – me apressei em falar – mas o que está acontecendo?
- Parece que o túmulo do meu compadre Mané está abandonado – explicou a Enciclopédia, apelido que foi dado a Nilton Santos pelo meu pai. Nílton sempre cuidou do Garrincha.
- Como abandonado? – perguntei – Tem gente para cuidar do cemitério!
- Sim, mas a prefeitura não tem grana e precisamos dar um jeito!
- Mas, Nílton, dar um jeito em que?
- No túmulo! O cemitério lá fica na encosta de um morro, quando chove a água vem descendo o morro levando tudo. Parece que a lage do túmulo foi deslocada pela força da água e o túmulo ficou semi-aberto – explicou detalhadamente o grande Nílton Santos.
O pessoal em volta começou a dar sinais de revolta.
- Mas… para que você precisa de mim?
- Bem, é que eu indo lá sozinho é uma coisa, mas indo com um repórter do Jornal do Brasil é outra! O prefeito vai ficar preocupado e autorizar a obra.
Fiquei olhando e me perguntando onde aquela instituição tinha arrumado tanta modéstia. Imagina, ele não tinha a mínima noção do que representa.
Areosa autorizou um carro do jornal, para dar mais imponência a empreitada e lá fomos nós.
A obra foi bem feita, o túmulo está lá, direitinho até hoje
Autor: Michel Laurence |