Quebrar a perna hoje, quase que só por acidente como aconteceu com Rogério Ceni num simples treino do São Paulo.
O pé prendeu na grama, veio a torção do tornozelo e a fratura.
Mas, olha, não faz muito tempo "quebrar a perna" era sinônimo de "fim de carreira" para o jogador profissional.
Já houve época em que existiam os "especialistas" em quebrar a perna do adversário.
Me lembro de um tal de Mirim, que era um grande meio de campo do Bangu, mas ao mesmo tempo temido nas "divididas". Na ficha dele constam uma série de pernas quebradas.
Zizinho, o grande Mestre Ziza, foi outro. Contam que Zizinho dava de bico no tornozelo do pé de apoio do adversário.
Didi, bicampeão do mundo em 58 e 62, também sabia como atingir e ouvir o estalo da tíbia e do perônio quebrados.
Tomires, o Cangaceiro
Outro caso famoso de perna quebrada, foi o lance que praticamente deu o tricampeonato carioca ao Flamengo de 53-54-55. Em 55, o América chegou a final com o Flamengo. No primeiro jogo da decisão, América que tinha um timaço, 4 a 1. No segundo jogo, o lateral-direito Tomires, que era conhecido pelo apelido de "Cangaceiro" quebrou a perna do meia Alarcon. Foi o bastante para o Flamengo que também tinha um timaço com Evaristo, Dida, Zagalo, Dequinha, Jordan e Joel na ponta-direita, conquistar o título.
Alguns anos depois, e tenho uma seqüência de fotos bem antigas no meu arquivo em que Almir, o Pernambuquinho, "oferece" a bola a Hélio – um lateral esquerdo do América – avança e entra "por cima" da bola atingindo em cheio a canela do jogador do América. Acho que o nome era Hélio mesmo. Ele nunca mais jogou bola.
Fefeu, um meio de campo do Flamengo, que também jogou no São Paulo, teve a perna quebrada e a carreira quase encerrada.
Procopio
Tanto falaram para o Pelé se "proteger" dos adversários – e era verdade, alguns entravam para quebrar o Rei – que ele foi formando uma vasta lista de vítimas. Todos tentaram pegar Pelé e acabaram mal. Procópio – um zagueiro de respeito – na época jogando pelo Cruzeiro, foi um que Pelé quebrou jogando no Morumbi. Procópio custou a voltar. Outro foi em um "amistoso" da seleção contra a Alemanha no Maracanã. Se não me falha a memória um zagueiro de nome Schultz, perseguiu Pelé pelo campo todo. Tanto assim que numa bola que o Rei recebeu antes da linha do meio de campo percebeu que o alemão vinha numa ferocidade danada para cima dele. Adiantou a bola e quando Schultz entrou de carrinho para pegar bola e tudo que tinha pela frentea, Pelé saiu fora e desceu a perna, pegando em cheio a do zagueiro. Schultz saiu do Maracanã de ambulância direto para o hospital Miguel Couto. No Morumbi em outro "amistoso" dessa vez contra a seleção chilena, Pelé foi caçado por um meio de campo do qual não me lembro o nome. Até que irritado deu uma tremenda cabeçada no coitado. Resultado: nariz quebrado, sangrando feito o diabo
Mas é bom lembrar que Pelé era muito perseguido. Jogava tanto, fazia tantos gols, que os adversários tomavam a "iniciativa" de tentar tirá-lo de campo de qualquer jeito. Com ele lá, era quase que derrota na certa.
Evaldo
Mas as duas fraturas que mais me impressionaram foram as de Evaldo, que foi formado pelo Fluminense, e que depois jogou no Cruzeiro onde ao lado de Natal, Tostão, Dirceu Lopes e Hílton, formou um dos maiores ataques do futebol brasileiro em todos os tempos. Num choque totalmente casual o goleiro argentino Agustín Mário Cejas, jogando no Santos, saiu nos pés do atacante do Cruzeiro. O joelho da perna direita goleiro pegou em cheio na canela do atacante.
Perna quebrada, Evaldo tentou depois de recuperado seguir carreira no México, mas nunca mais foi o mesmo.
A outra que chocou o País inteiro – por ter sido a primeira vez que se via escancarado o que podia provocar uma jogada mais brusca – foi a de Mirandinha (foto), atacante do São Paulo, jogando contra o América, em Rio Preto.
Um zagueiro do América tentou bloquear um chute de Mirandinha na entrada da área. A canela do atacante foi de encontro ao joelho da perna de apoio do zagueiro. Fratura exposta.
O autor da fotografia é o grande e saudoso Domício Pinheiro então trabalhando no Jornal da Tarde. A foto lhe valeu um Prêmio Esso e revelou para sempre que o futebol bem aproximado pelas lentes como é hoje pela televisão, tinha cenas tão chocantes quanto os mais horripilantes filmes de terror de Hollywood
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