CIDADE ABERTA - O que o trouxe ao meio da comunicação? Rádio, jornal, tv... como é que isso tudo se iniciou em sua vida?
MAZINHO DIAS - Meu começo foi como colaborador no Jornal de Barretos. Isso se deu porque certa vez eu discordei do conteúdo que havia sido publicado na página de esportes e liguei reclamando.
Transferiram a ligação para o diretor do jornal que, após me ouvir, pediu para que eu fosse até lá.
Quando cheguei, ele perguntou o que tinha de errado na matéria e, então, apontei os erros. Daí, ele perguntou se eu seria capaz de fazer melhor do que aquilo. Se eu tinha acabado de dizer que estava errado, como poderia responder que não seria capaz de fazer algo melhor do que o errado? (risos).
Daí, então, o diretor pediu para que eu fizesse, a título de colaboração, uma matéria sobre o assunto. Fiz, mandei e publicaram. Depois, mandei mais algumas e todas foram publicadas, mas, depois, parei de mandar, pensei que poderia estar enchendo o saco com aquelas matérias.
Dias depois, o diretor me ligou perguntando porque eu tinha parado e me incentivando a continuar, o que eu fiz.
Tempos depois, em uma tarde de sábado, o diretor me ligou novamente perguntando se eu não tinha o interesse de ir para o rádio, transmitir futebol, eu aceitei e logo fui efetivado como funcionário da emissora e do jornal.
CIDADE ABERTA - Rádio, jornal, tv... qual destes veículos o emociona, o instiga mais? Qual deles você faz com mais prazer? Porque?
MAZINHO DIAS - O radio é super dinâmico e, dentro daquele dinamismo, fico muito a vontade pelo raciocínio, que ainda está rápido, e pelo improviso facilitado. Foi no rádio que eu iniciei a construção da minha historia profissional, por isso tenho uma queda por este tipo de veículo.
A TV é a mulher bonita que todo mundo cobiça, mas que quase ninguém conquista, é mais difícil chegar lá, por razões óbvias, ela é exigente porque trabalha com imagem, exige postura, porém, mais do que isso, ela também exige raciocínio rápido, desembaraço e a tranquilidade que muitas vezes falta a algumas pessoas do setor, por exemplo quando o entrevistado deixa um vácuo no assunto. No rádio você chama uma vinheta, sobe a trilha, enfim dá um drible. Na televisão você não tem este recurso.
Sendo assim, eu, particularmente, entendo que para ter facilidade em trabalhar na TV é necessário ter tido um bom aprendizado no rádio, sob pena de não dar certo, o que, então, faz da TV um veículo mais instigante.
CIDADE ABERTA - Você sempre foi um aficionado do esporte. O que mais o atrai nesse universo?
MAZINHO DIAS - Sempre fui ligado em esportes, sobretudo em futebol. Quando garoto eu não tinha condições de comprar os jornais esportivos, então, eu ia todo dia a casa de um vizinho buscar a Gazeta Esportiva do dia anterior, pois, aí, ele já tinha terminado de ler. Também assistia a todos os programas de esporte da época, de modo que um time contratava um jogador cedo e a tarde eu já sabia tudo sobre ele.
CIDADE ABERTA - Focando no futebol: você acha que o amador ainda preserva mais a essência do esporte? O foco no dinheiro pode ter descaracterizado um pouco a emoção no profissional?
MAZINHO DIAS - No amador mudou o sabor, mas não deixou de ter essência, portanto ele ainda mantém, sim, o espírito romântico natural do amador, não com o romantismo de antes, mas de forma semelhante a maioria dos casamentos de hoje; um amor que precisa ser alimentado, mantido com o lado econômico estável.
CIDADE ABERTA - O que você mudaria no futebol, hoje?
MAZINHO DIAS - No futebol amador de Barretos? Liberava para jogar quem quisesse independente de onde reside e não obrigaria as equipes a ter que assinar um determinado número de jogadores abaixo de 21 anos.
CIDADE ABERTA - Como é ser crítico e incisivo no universo do futebol amador de Barretos e, ainda assim, preservar o respeito de todos? Qual é a sua mágica? Ou será que existe por aí uma rusgazinha ou outra?
MAZINHO DIAS - É caminhar sempre em uma estrada em que as pessoas oscilam entre concordar e discordar de você. Na maioria das discordâncias, as pessoas dão ênfase apenas ao lado passional do futebol, abrem mão da razão, deixam de enxergar os próprios erros ou os erros de sua equipe.
Ter coragem de dizer a elas que, na sua opinião, elas não estão certas, ou dizer que elas tem razão, embora não estejam sendo compreendidas, ou até dizer que realmente elas estão com a razão e você errado, é a receita certa para conquistar o respeito, ou seja; ser franco, verdadeiro e nunca deixar de emitir a sua opinião, as vezes, sai muito caro, mas com certeza é a receita para se obter respeito.
CIDADE ABERTA - Temos exemplos de clubes de cidades médias a pequenas, como o Bragantino, que alçaram vôos importantes no cenário do futebol nacional. Porque o Barretos não decola para um vôo dessa envergadura? Você acha que, por exemplo, a performance do Bragantino, numa determinada época, pode ter sido circunstancial? Conjuntural? Ou é possível tal conquista a partir de um projeto técnico e profissional bem definido?
MAZINHO DIAS - O Bragantino ainda vive um grande momento dentro do futebol, embora, hoje, já não seja mais um candidato ao titulo como era no inicio dos anos 90, mas o que levou o Bragantino a um patamar jamais alcançado em Barretos? O investimento no esporte e um excelente trabalho nos bastidores.
Em 1965, ano do famoso "Trem da fome", o Barretos disputou, no Pacaembu, a final contra o Bragantino, perdendo o acesso por causa de um gol de Helio Burini. De lá pra cá, o Barretos não passou disso, chegando, no máximo, apenas a igualar esse feito de 65. Já o Bragantino subiu até a condição de vice campeão do Brasil, perdendo a final para o São Paulo, mas, isso, graças a investimento no setor, massificação de que o bom para a cidade é uma equipe profissional forte e não apenas competitiva, além de força nos bastidores. Tanta força que um de seus presidentes (Nabi Abi Chedid) chegou a condição de presidente da federação Paulista e vice presidente da CBF.
E nós? O quanto investimos de 1965 pra cá no futebol profissional e em bastidores? Nada.
CIDADE ABERTA - Qual a principal qualidade e qual o principal defeito do BEC, hoje?
MAZINHO DIAS - Qualidade: uma torcida fanática que, quando um jogo é bem divulgado, comparece em número de 10 mil torcedores ou mais, o que é raríssimo nos dias do atual futebol do interior do Brasil
Defeito: a atual equipe tem dificuldades no seu setor defensivo e, também, para agredir o adversário, principalmente quando joga em casa. Se tomar um gol primeiro que o adversário, tende a se desestabilizar.
CIDADE ABERTA - Porque a várzea não alimenta, não serve de celeiro para o time profissional do BEC? Dizem que, essencialmente, é outro futebol... é verdade?
MAZINHO DIAS - Futebol de várzea é extremamente diferente do futebol profissional, porém a várzea é o inicio, é lá que surgem os jogadores. O grande problema é que, em Barretos, a várzea é competitiva, tem 2 rádios, TV, 2 jornais diários e outros tantos semanais que cobrem a competição, fazendo com que o atleta, muitas vezes, opte pela comodidade de ganhar sem precisar treinar, sem precisar abrir mão da vida profissional que já tem para se aventurar no futebol, e, muitas vezes, quando o atleta pensa em se voltar para o profissional, a idade dele já não ajuda mais, pois no profissional você tem que começar muito cedo.
Não se permite mais surgir para o futebol profissional com 21 ou 22 anos: tem que ser bem antes.
CIDADE ABERTA - Fale um pouco da sua trajetória no rádio... conquistas, decepções, angústias, realizações... micos!!!!
MAZINHO DIAS - A primeira vez que participei de uma jornada esportiva foi uma tragédia, deu tudo errado. Foi em um jogo entre Camarões e Bom Jesus, no campo do Rochão. Eu tinha sido convidado para atuar como comentarista e, minutos antes do jogo começar, veio o comunicado da emissora que a repórter da época estava demitida e que seria eu quem deveria fazer a função.
Além da minha inexperiência, era um jogo quente, torcida invadindo o campo, tapando a minha visão e tumultuando. Tanto foi que, quando o gol saiu, eu não vi, porque tinha um garoto pisando no fio do meu retorno e, depois de gritar "gooooool", o narrador queria que eu contasse o que só eu vi. Poxa, a única coisa que vi foi um pentelho pisando no fio do meu retorno (risos).
Depois de alguns meses atuando em jogos da várzea, recebi o convite para ir, no domingo a tarde, transmitir um jogo do Barretos, junto com o Carlos Domarascki. Poxa, ele era a grande fera, eu sabia que ele era exigente e sabia que aquela era a minha chance de me efetivar na equipe profissional.
O jogo foi Barretos e Jabaquara. Vitória do Barretos por 4 a 0. O técnico do Jabaquara era o Barbiroto, que foi goleiro do São Paulo. Nem acreditei quando fui entrevistar o cara que eu, quando garoto, ficava assistindo pela televisão e que, na minha mente, fazia parte de um mundo diferente do meu. Nesse jogo, dei tudo de mim, me entreguei de corpo e alma e acho até que fui bem.
No final, na hora de ir embora, perguntei ao Doma como foi e ele (que dificilmente faz um elogio, porque é muito exigente e sabe muito mesmo) respondeu seco: - "Legal".
Pensei: "Já era, o cara não gostou".
Mas, quando eu estava quase deixando o estádio, ele perguntou o que eu ia fazer no próximo domingo, eufórico, disse que nada, é claro (o que era mentira), então ele disse pra eu não fazer compromisso porque iria com ele para São Paulo, trabalhar na transmissão de outro jogo. Isso me fez vibrar por dentro, é claro.
Ficou combinado que viajaríamos para São Paulo, no sábado, as 17 horas. Minha mala ficou pronta desde as 13 (risos). Mas, quando o relógio marcou 16 horas, meu telefone tocou: era o Doma dizendo que, por questões de cortes na verba, ele teria que cortar uma pessoa da equipe que iria viajar. Decepcionado, me remoendo de decepção, ainda assim, respondi que estava tudo bem. Mas, então, ele emendou: "Por isso eu tive que cortar o outro cara" (risos).
Daí para a frente, me tornei o repórter número um da equipe de esportes da Rádio Jornal, acumulando alegrias, tristezas, conquistas pessoais (em 2000 fui eleito por Carlos Domarascki a revelação do Rádio Esportivo Barretense nos últimos 20 anos).
Agora, micos? Nossa !!! o último foi elogiar um diretor por levar seu netinho no campo...e não era neto, era filho (risos).
CIDADE ABERTA - Como se deu a transição para a TV?
MAZINHO DIAS - O Eduardo Tamashiro acompanhava e gostava do meu trabalho na rádio e, no inicio do ano, quando ele foi para a televisão trabalhar com o Marco Lago, eles tiveram a ideia de criar outro programa de esportes, além daquele que já existia com o Paulo Maia (com quem tenho uma ótima relação) e contrataram o Leandro Joaquim.
Depois, eles entenderam que o programa deveria ser apresentado por uma dupla e não solo. Então, o Tamashiro me ligou, num sábado, a tarde, convidando para uma reunião no domingo, isso com o programa agendado para estrear na segunda-feira. Nem tive tempo para pensar, apenas para responder. Topei e, hoje, já se vão 15 meses no ar.
Hoje, apresento o programa sozinho porque o Leandro Joaquim, grande garoto, foi pinçado para o departamento de jornalismo.
CIDADE ABERTA - Os problemas externos relacionados ao domínio da TV enquanto negócio abalaram vocês, que fazem o barco navegar? Como? Porque?
MAZINHO DIAS - Não abalaram, pelo contrário, fortaleceram. Acabou aproximando, gerando um clima familiar entre aqueles que passaram por todas as turbulências. Por razões pessoais, e eu respeito todas elas, alguns optaram por sair no meio do caminho, mas quem ficou, hoje, sente orgulho em ter contribuído para superar todas aquelas dificuldades que, na verdade, em certo nível ainda existem, mas que são administradas com muita competência por aqueles que comandam a TV atualmente.
Não gosto quando vejo, principalmente pessoas da nossa área, criticar a TV Barretos sem nenhum conhecimento de suas dificuldades, de suas aflições. E, quer saber? Tem gente que faz crítica a emissora, mas que, na verdade, morre de vontade de um dia receber o convite para trabalhar lá.
Nos momentos difíceis, ouvi piadinhas até sobre funcionários que trabalharam com salários atrasados. Isso, hoje, passou e ninguém pode negar que a direção da emissora tem honrado com seus compromissos. Acabou que aqueles que, antes, faziam piadinhas não comentam sobre o atual bom momento. Claro, não tenho dúvidas de que não passa de dor de cotovelo. Tanta dor de cotovelo que, se teve gente que, em prol da TV, chegou a trabalhar com salários atrasados, mas acabou saindo, com certeza eles, hoje, trabalhariam de graça, só para satisfazer seus egos. Mas, tem uma coisa: cadê a competência?
Não admito que se fale mal da TV Barretos por duas razões: primeiro, a melhor empresa do mundo é a empresa que eu trabalho; segundo, ela é um dos maiores patrimônios da minha cidade, precisa mais?
CIDADE ABERTA - Você tem um estilo, principalmente na TV, de certo modo agressivo... isso já te causou problemas? Conte.
MAZINHO DIAS - Não acho que eu tenha um estilo agressivo. No rádio, sim, talvez eu seja um pouco mais enérgico, por assim dizer. Mas não classifico isso como estilo agressivo... as pessoas até classificam como polêmico; isso eu até acho que sou mesmo.
Problemas? Já tive no sentido de ter que enfrentar situações em que alguém não concordou com o que eu falei e veio tomar satisfações. Já discuti, no ar, com técnicos, jogadores e presidentes do Barretos. Já ocorreu isso também na várzea, mas nunca passou disso e espero que seja eternamente assim.
CIDADE ABERTA - Você é feliz na sua profissão, no exercício do seu ofício?
MAZINHO DIAS - Eu tenho toda a felicidade do mundo em exercer a minha profissão, primeiro, porque amo o que faço, segundo, porque vivo cercado de excelentes profissionais, com os quais aprendo todos os dias e, por fim, me desculpe a imodéstia, sou o único profissional de comunicação neste momento que atua no rádio, no jornal, na televisão e na internet. Por isso tenho só que agradecer a Deus, as pessoas que acompanham o meu trabalho, aos meus colegas de trabalho e aos diretores destes veículos de comunicação.
CIDADE ABERTA - Você aconselharia um garota ou uma garota a seguir essa trilha profissional?
MAZINHO DIAS - Claro, se é o que quer, se é o que gosta, deve ir fundo mesmo. Mas não espere facilidades e que coisas venham a cair do céu, porque é preciso matar um leão por dia para poder chegar lá e, todos os dias, antes de matar este leão, você toma uma surra dele que é você quem quase morre.
CIDADE ABERTA - Qual o seu grande desafio profissional, hoje?
MAZINHO DIAS - A cerca de 15 meses atrás, o meu grande desafio foi conseguir na televisão as mesmas conquistas que eu já tinha no rádio. Hoje, o grande desafio é me manter e, se possível, aumentar as minhas audiências no rádio e, principalmente, na televisão. Outra questão, que não é desafio, mas sim um sonho, é ter uma oportunidade de trabalhar em uma transmissão de futebol em uma grande emissora de São Paulo. Sonho em ter uma única chance lá, mas, por enquanto, isso é só um sonho.
CIDADE ABERTA - Deixe uma mensagem para os nossos leitores.
MAZINHO DIAS - Quero agradecer a vocês pela oportunidade de me expressar aqui. Também quero agradecer a cada leitor que se interessou em acompanhar a entrevista e aproveito para ressaltar que o acompanhamento de todos os barretenses em torno do meu trabalho é o meu maior incentivo para seguir em frente.
Obrigado a todos, do fundo do meu coração, pela companhia diária no rádio e na televisão. Que Deus nos ilumine, sempre.
http://www.cidadeaberta.net/entrevista/8/mazinho-dias-a-fera-da-comunicacao-esportiva-de-barretos |