Rodolfo Araujo da Silva, 11, e Leonardo Vinícius Melo, 11, posam para foto em Limeira
Ao mesmo tempo em que a Red Bull planeja investir na construção de um novo estádio para a Ponte Preta, em Campinas, cerca de 600 jovens jogadores foram abandonados pela fabricante de bebida energética.
Após ouvir a promessa de que teriam a chance de seguir carreira como jogadores, garotos carentes do interior e de fora de São Paulo assistiram à Red Bull desmontar os núcleos da base que, em seu primeiro ano, levou a equipe sub-11 ao título paulista e impulsionou um jogador ao time profissional corporativo.
Cris Komesu/Folhapress
O projeto, cujas diretrizes foram aprovadas pela sede da multinacional na Áustria, proporcionava ainda aulas de informática e línguas aos jogadores, além de uma modesta ajuda financeira.
Porém, desde setembro, 12 dos 13 núcleos pararam de receber verba da Red Bull. A exceção foi o de Limeira, que reunia as revelações das outras células, mas que também perdeu o apoio desde o fim do ano passado. Cada escolinha atendia 50 garotos.
"[O fim do núcleo] pode atrapalhar minha carreira", afirmou Rodolfo Araújo da Silva, 11, zagueiro do time que levou o troféu estadual.
''Prejudicou o meu sonho. Estava tudo indo muito bem'', disse Felipe Almeida, 14, meia, que foi mandado de volta para casa, em Cuiabá.
"A gente não sabe o que vai acontecer. Hoje o que ele mais deseja é ser jogador, é o sonho dele", declarou Emídio Rodrigues de Almeida, pai do garoto, que treinava em São José do Rio Preto.
Os uniformes que os meninos vestiam nos jogos estampavam o logo da Red Bull.
O austríaco Markus Schruf, diretor técnico do projeto e que foi dispensado da empresa, diz não saber o que motivou a Red Bull a dar fim aos núcleos. Ele afirma que estuda uma ação na Justiça contra a multinacional.
"Havia um contrato, que eles [executivos da Red Bull] sempre diziam que não estava pronto ainda e que foi deixado de lado. Mas eles pagavam as despesas, temos os recibos para provar. Os advogados dizem haver base legal para uma ação", diz Schruf.
O ex-executivo não revela valores repassados da Áustria para a Red Bull do Brasil.
"Não explicaram por que acabaram com o projeto. Mas, se conquistamos um título logo no primeiro ano dos núcleos, revelamos sete, oito garotos para a categoria profissional para o próximo ano e aproveitamos um neste ano, isso não é sucesso?", questionou o austríaco.
"Não quero meu nome ligado a um projeto que trata garotos cheios de sonhos como qualquer ente corporativo", diz Rodrigo Beckham, ex-jogador de Botafogo e Corinthians, que também trabalhou no projeto e atuou no time profissional da empresa.
OUTRO LADO
Por meio de uma nota oficial, a Red Bull declarou que mantinha apenas uma parceria com escolinhas independentes, na forma de patrocínio, e que fornecia aos núcleos material esportivo, como uniformes e bolas.
Desses núcleos eram indicados os jogadores de maior potencial para fazerem parte de testes no centro de formação que a empresa mantém em Jarinu, no interior de São Paulo, onde se concentram os atletas profissionais e das categorias de base.
Esses atletas, informa a multinacional, recebem assistência médica e odontológica, além de cursos de inglês e informática.
Segundo a empresa, as parcerias com os núcleos não tiveram contratos assinados porque os termos pedidos não se enquadraram na política interna do clube da Red Bull, com sede em Campinas.
Ainda de acordo com a Red Bull, apenas a escolinha de Limeira, que tinha parceria com o Independente e foi campeã paulista sub-11, teve o patrocínio mantido até o final do ano passado por estar em meio a uma disputa de campeonato.
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