Uma novela da vida real com direito a tragédia e euforia começou no dia 19 de julho de 1992. Era dia de decisão de Campeonato Brasileiro com Maracanã lotado. Antes do clássico Flamengo x Botafogo começar, uma parte do alambrado da arquibancada do lado rubro-negro despencou com muitos torcedores. Pânico total. Informações desencontradas falavam em vários mortos - na verdade, houve três. Em casa, no bairro de Ramos, subúrbio carioca, uma família assistia, aflita, a tudo aquilo. O menino Cacá estava no estádio. A prima paulista Mariana, de passagem no Rio, tinha olhar fixo na televisão. Parecia procurar o garoto.
O lugar acabou isolado, e a partida começou. Aos 41 minutos do primeiro tempo, Junior bateu uma falta no ângulo. Gol. Ao mesmo tempo que o velho Maestro corria e saltava feito criança na comemoração, começava grande flerte da garota com nova paixão. O jogo terminou empatado por 2 a 2. O Fla, que vencera a primeira partida por 3 a 0, sagrou-se pentacampeão. O espetáculo contagiou e impressionou a menina de 11 anos. Cacá chegou em casa são e salvo. Todos pularam e se abraçaram juntos. Foi uma dupla euforia.
Os anos se passaram. A são-paulina Mariana Ximenes, mesmo de longe, passou a se interessar pelo Flamengo. Seguiu carreira de atriz e mudou-se para o Rio de Janeiro em 2000. Não demorou muito para o coração ser assumidamente vermelho e preto. As partidas no Maracanã, principalmente aos domingos, já faziam parte de seu programa. Uma merece capítulo especial. Em novo confronto contra o Botafogo, na decisão do Carioca de 2008, os olhos ora verdes, ora azuis que tanto hipnotizam hoje o personagem "Totó" - e os milhões de brasileiros que acompanham diante da TV a vilã Clara na novela "Passione" - estavam "enfeitiçados" pela festa rubro-negra, na vitória por 3 a 1. Ali, os heróis da história foram Obina e Diego Tardelli, autores dos gols.
- Ir ao Maracanã ver jogo do Flamengo é um espetáculo ritualístico que me enfeitiça. Quando chego ao estádio, é impactante a cena da entrada em campo. Aquela massa gritando, com as bandeiras, as músicas... E a garra do time, uma marca. O que mais me fascina é o conjunto de tudo isso. Fora aquela coisa de combinar com os amigos, o cachorro quente no estádio. É clássico ir pro bar também depois do jogo. Nessa final de 2008, foi tudo muito divertido. Um jogão, com gols de Obina e tudo. Adoro futebol, esporte. o Flamengo é uma paixão. E ainda nasci no ano em que o clube foi campeão do mundo, em 1981 - afirmou, toda prosa, com o sorriso de "Chiara" que arranca suspiros de todo o Brasil.
28/09/2010 10h30 - Atualizado em 29/09/2010 10h34
Meu Jogo Inesquecível: o Fla
que enfeitiça Mariana Ximenes
Na final do Carioca de 2008, Obina faz a atriz viver euforia. Flerte com clube começou na final do Brasileiro-92, quando Junior brilhou em dia de tragédia
Por Márcio Mará
Rio de Janeiro
imprimir Uma novela da vida real com direito a tragédia e euforia começou no dia 19 de julho de 1992. Era dia de decisão de Campeonato Brasileiro com Maracanã lotado. Antes do clássico Flamengo x Botafogo começar, uma parte do alambrado da arquibancada do lado rubro-negro despencou com muitos torcedores. Pânico total. Informações desencontradas falavam em vários mortos - na verdade, houve três. Em casa, no bairro de Ramos, subúrbio carioca, uma família assistia, aflita, a tudo aquilo. O menino Cacá estava no estádio. A prima paulista Mariana, de passagem no Rio, tinha olhar fixo na televisão. Parecia procurar o garoto.
O lugar acabou isolado, e a partida começou. Aos 41 minutos do primeiro tempo, Junior bateu uma falta no ângulo. Gol. Ao mesmo tempo que o velho Maestro corria e saltava feito criança na comemoração, começava grande flerte da garota com nova paixão. O jogo terminou empatado por 2 a 2. O Fla, que vencera a primeira partida por 3 a 0, sagrou-se pentacampeão. O espetáculo contagiou e impressionou a menina de 11 anos. Cacá chegou em casa são e salvo. Todos pularam e se abraçaram juntos. Foi uma dupla euforia.
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'Ir ao Maracanã ver jogo do Flamengo é um espetáculo ritualístico que me enfeitiça', diz Mariana Ximenes, que gosta de usar uma camisa rubro-negra retrô quando vai ao estádio (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Os anos se passaram. A são-paulina Mariana Ximenes, mesmo de longe, passou a se interessar pelo Flamengo. Seguiu carreira de atriz e mudou-se para o Rio de Janeiro em 2000. Não demorou muito para o coração ser assumidamente vermelho e preto. As partidas no Maracanã, principalmente aos domingos, já faziam parte de seu programa. Uma merece capítulo especial. Em novo confronto contra o Botafogo, na decisão do Carioca de 2008, os olhos ora verdes, ora azuis que tanto hipnotizam hoje o personagem "Totó" - e os milhões de brasileiros que acompanham diante da TV a vilã Clara na novela "Passione" - estavam "enfeitiçados" pela festa rubro-negra, na vitória por 3 a 1. Ali, os heróis da história foram Obina e Diego Tardelli, autores dos gols.
- Ir ao Maracanã ver jogo do Flamengo é um espetáculo ritualístico que me enfeitiça. Quando chego ao estádio, é impactante a cena da entrada em campo. Aquela massa gritando, com as bandeiras, as músicas... E a garra do time, uma marca. O que mais me fascina é o conjunto de tudo isso. Fora aquela coisa de combinar com os amigos, o cachorro quente no estádio. É clássico ir pro bar também depois do jogo. Nessa final de 2008, foi tudo muito divertido. Um jogão, com gols de Obina e tudo. Adoro futebol, esporte. o Flamengo é uma paixão. E ainda nasci no ano em que o clube foi campeão do mundo, em 1981 - afirmou, toda prosa, com o sorriso de "Chiara" que arranca suspiros de todo o Brasil.
Nesse dia, Mariana começou cedo o ritual para ver o Flamengo jogar. A trupe tinha uns 15 amigos. Bem antes do jogo, partiu uma "minicarreata".
- Fizemos aquele "esquenta" antes de irmos para o Maracanã na casa de uma amiga. Procuramos chegar cedo para pegar um bom lugar. Ficamos na cadeira especial, mas dividimos os grupos. Quando saía gol do Flamengo, mandávamos torpedo e tudo, era aquela gozação com os nossos amigos botafoguenses. Quando feita assim, de forma saudável, é indispensável, não pode faltar, faz parte da diversão - disse, às risadas, em entrevista no Projac após mais um dia de gravações da novela.
Diversão e catarse
Quem já foi ao estádio, olhou para o lado e a flagrou por acaso cantando uns "palavrõezinhos" - como ela mesma diz -, pode ter achado tudo um efeito da cerveja. Errou. Era mesmo Mariana Ximenes. A atriz por vezes se misturou na arquibancada para cantar todas as músicas possíveis e xingar o juiz, quando necessário. Futebol funciona para ela como a maior diversão e uma catarse. Na maior paz. Mas súbitas reações não tiram a atenção do espetáculo. Os belos olhos estão ali fixos em tudo o que está à sua volta. Da reação do jogador ao perder o gol feito à reclamação do treinador ou da torcida.
- Tudo bem que tem umas câmeras incríveis, que captam tudo, mas nada se compara a um jogo ao vivo no Maracanã. É diferente. Uma coisa mágica. A energia da arquibancada é sensacional.
Na final do Carioca de 2008, no dia 4 de maio de 2008, o enredo era animador. O Flamengo, treinado por Joel Santana, vivia euforia após bater o América do México por 4 a 2, fora de casa, pela Libertadores. Na primeira partida contra os alvinegros, o Rubro-Negro vencera por 1 a 0, gol de Obina. A vantagem não evitou que o Botafogo começasse melhor e abrisse o placar com Lucio Flavio, de falta, numa falha do goleiro Bruno. Veio o segundo tempo, e Joel pôs Obina e Diego Tardelli. Os dois decidiram. Obina empatou de cabeça logo aos 4. Aos 37, Tardelli virou a partida. E aos 47, Obina sacramentou a festa. Mariana foi para um bar.
- Comemoração de título é sempre especial. Mas gosto de grandes jogos, ver grandes jogadores. Adoro a Seleção Brasileira. Na Copa de 2006, na Alemanha, estava na Tribuna de Honra perto do Jacques Chirac (então presidente da França) quando perdemos para eles por 1 a 0. O Zidane acabou com aquela partida. Fiquei muito irritada. Em Copa do Mundo, a mobilização pela Seleção é incrível. Em 2002, organizava café da manhã antes dos jogos, que eram muito cedo. Gostaria de ter visto o Garrincha jogar. Uma vez, encontrei o Pelé numa ponte aérea. Foi incrível. Ele me disse que é fã de novela. Nem o Zico eu pude ver direito, era muito pequena. Só pelos vídeos.
Mariana não viu o Galinho de Quintino desfilar em campo seus gols e grandes jogadas. Mas recebeu de outro ídolo indiscutível, o Maestro Junior, o "empurrãozinho" para o flerte com o Flamengo naquela final do Brasileiro de 1992. A forma como o veterano conduziu o Flamengo ao penta brasileiro mexeu com a então torcedora do São Paulo - na época por influência do padrinho. O pai, o advogado e professor de direito José Nuzzi Neto, é palmeirense. A mãe, a fonoaudióloga cearense Fátima Ximenes, torce para o Fluminense. O irmão, Rafael, é tricolor paulista.
- Meu padrinho me levava para ver os jogos do São Paulo no Morumbi e no Pacaembu. Quando eu vinha ao Rio, ficava com os meus primos, que são Flamengo. Já via alguns jogos, prestava atenção... Aí, naquele dia, teve aquela história toda, o acidente na arquibancada, a preocupação com meu primo. Não tinha essa coisa de celular, como hoje. Foi horrível. Logo depois, o time reagiu em campo daquela forma... O gol do Junior, a comemoração, a festa nas arquibancadas e nas ruas, tudo foi marcante. Fiquei fascinada. Aí, vim morar no Rio anos depois e virei Flamengo mesmo. Mas tenho carinho imenso pelo São Paulo até hoje - afirmou Mariana.
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