Na foto Wilsinho mostra um de seus albuns contendo um pouco da sua historia. Só na Portuguesa foram 8 anos.
EDUARDO VERDASCA: Você veio da Várzea, em um tempo que revelava grandes jogadores.
WILSINHO: Justamente, pra nós que jogávamos nesta época, a Várzea era uma grande escola. Sair de um time de Várzea para um Profissional mostra o quanto ela era boa. Além de mim, outros atletas fizeram esta mesma trajetória. Hoje falamos que tem muito clube no futebol que joga Campeonato Paulista, Brasileirão na Série B, e não tem um time com a mesma qualidade de um das Várzeas de antigamente. Surgi, na realidade, de um campeonato semelhante, a Copa Kaiser, que era patrocinado por uma marca de cigarro. Foi daí que acabei indo direto pra Portuguesa.
MAURÍCIO SABARÁ: Quando você começou na Portuguesa no final dos anos 60, quem eram os jogadores que você atuou junto naquela época?
WILSINHO: Quando eu cheguei, a Portuguesa estava fazendo uma renovação no seu Quadro Profissional, cheguei a treinar um pouco com o Ivair, que acabou indo para o Corinthians. Tinha o Zé Maria que também foi embora. Havia o Edu Bala que foi para o Palmeiras junto com o Leivinha. Cheguei a treinar com o Coutinho já em final de carreira. Teve o Lorico, que foi um grande jogador e pessoa, que me ajudou muito no inicio. Tinha também o Ratinho. A Portuguesa sempre na época tinha 15 ou 20 jogadores que, pelo menos a metade, eram trazidos da Categoria de Base.
MAURÍCIO SABARÁ: Era um celeiro de craques.
WILSINHO: Justamente, só que não conseguia segurar estes jogadores, pois valorizavam muito e ela acabava cedendo. A Portuguesa era assim, fonte alimentadora do Palmeiras, Corinthians e São Paulo, sendo também que muitos jogadores acabavam indo pra Portugal, Bélgica e Equador.
MAURÍCIO SABARÁ: Depois destes jogadores citados, você fez parte de uma grande equipe da Portuguesa, jogando junto com Xaxá, Ratinho, Badeco, Basílio e do grande Enéas. O que você tem a dizer sobre este grande time, além do Enéas?
WILSINHO: Era um time que praticamente a metade dele vieram das Equipes de Base. Havia um goleiro chamado Carioca. Veio Arenghi, subiu Isidoro, Cardosinho, Enéas, eu, Fabinho que infelizmente faleceu, tinha Tadeu, Válter, Roberto Bacurú que acabou indo pra Feitosa de Belém do Pará, morando hoje lá. Difícil você ter um time Base, quando não ganhamos nada lá, porque sempre tiravam um jogador, desmontavam e colocavam outro. Neste época de 70, subiram 9 jogadores. Hoje, pelo que tenho visto, somente o Santos está conseguindo fazer o que a Portuguesa fazia antigamente.
MAURÍCIO SABARÁ: Qual é a lembrança que você tem deste famoso título de 73 decidido com o Santos? Mesmo sendo dividido, acredito que tenha sido uma conquista inesquecível pra você como pra os demais jogadores e torcedores da Portuguesa.
WILSINHO: Se comenta muito sobre a divisão deste título, mas ele tem um aspecto saudosista muito bom, porque foi em uma época e transição, tanto do time, diretoria e treinador, porque tinha saído o Cilinho, chegando o Oto Glória. Ele fez uma transformação e ajustou alguns jogadores. Pra mim foi o grande treinador que trabalhei, sendo que quando ele chegou na Portuguesa, eu estava indo embora para o América de São José do Rio Preto e naquela semana ficou aqueles ajustes, fez alguns coletivos e acabei treinando em uma equipe de baixo e veio conversar comigo, perguntando o que está acontecendo comigo. Eu falei que havia um desacerto e vou ser emprestado. Ele disse pra eu não fazer nada, que iria falar com o presidente, o Oswaldo Teixeira Duarte, talvez um dos maiores presidentes que a Portuguesa já teve, sendo que os outros não conheci. O Oto Glória falou pra ele que precisava de mim como jogador, tinha um esquema na cabeça e que eu encaixava bem e acabei fazendo um contrato de três meses de risco. Acabei não indo pro América, a transação já quase pronta foi cancelada.
MAURÍCIO SABARÁ: Você era um ponta-esquerda veloz, driblador e ia até a linha de fundo, como era comum nos pontas do passado. Quem eram os grandes pontas-esquerdas da época?
WILSINHO: Eu acho que todo o grande clube tinha um ponta. Mas o meu grande ídolo, concorrente e amigo era o Edu, do Santos. Ele era fantástico, tinha uma admiração muito grande por ele. No Palmeiras tinha o Nei, o Corinthians teve o Eduardo que faleceu e Aladim, e o São Paulo tinha o Paraná. Sem contar os do Rio, Minas, do Sul e do Norte. Eram jogadores muito bons. Quem estava jogando não se machucava de jeito nenhum, pois sabia que se isso acontecesse, tinham reservas bons, às vezes até superiores ao titular. Hoje não vemos isso.
MAURÍCIO SABARÁ: Além dos pontas-esquerdas, haviam também os laterais-direitos. Fale sobre os que te marcavam.
WILSINHO: O Palmeiras tinha o Eurico, o Corinthians tinha o Zé Maria, o São Paulo tinha Diego Forlan e o Santos tinha o Carlos Alberto Torres. Pra você ver como eram os times. E só falando em São Paulo, pois os outros Estados também tinham. Aquela super máquina do Cruzeiro era brincadeira, com o Dirceu Lopes, Tostão e o Wílson Piazza. Todo time tinha os seus 11. Era difícil. Havia aquela rivalidade. Era difícil vender para o adversário. A Portuguesa chegou à uma época que brecou e queria segurar. Formava jogador, Corinthians levava o lateral e o Palmeiras levava o ponta. Aí ela manteve o time por uns quatro ou cinco anos. Eu joguei 8 anos no time e chegou uma época que ia ser trocado e não saía. Eu perguntava quem ia ficar no meu lugar e diziam que continuaria. Você via os seus amigos indo embora, o Basílio, meu grande amigo, indo para o Corinthians, sendo que foi um dos responsáveis pra minha ida para lá, sempre batalhando pra me levar e a Portuguesa negando. Acabou dando certo e fui para o Corinthians.
MAURÍCIO SABARÁ: Em 73 foi campeão junto com o Basílio, Badeco e Enéas. Copa de 74 estava chegando. Parece que você foi convocado.
WILSINHO: Fui relacionado. Aquela Seleção de 74 lembrou um pouco a bagunça de 66. A Portuguesa foi jogar no Rio de Janeiro contra o Fluminense e Flamengo, ganhando os dois. Fomos, o Enéas e eu, à um programa de televisão e na ocasião o João Saldanha disse que deveríamos ser convocados. Pelo menos estaríamos entre os 22. Acabamos indo pra São Paulo. Na época da convocação, fui relacionado entre os jogadores. Só que na hora de convocar, o Zagallo preferiu o Dirceu, pois achava que ele era mais versátil, estilo de jogo igual ao dele, como ponta e meia que ele gostava e adotava. Fiquei de fora na relação dos que poderiam ser chamados caso machucasse alguém. O Enéas foi convocado e durante os treinos foi cortado. Não adiantava você ser um bom jogador, pois a Portuguesa não tem força na Federação Paulista e na CBF. Os jogadores ficavam em segundo plano. A Portuguesa sempre teve grandes jogadores, até hoje tem, não como antigamente, isto é um fato que deixou aquela pequena mágoa que você tem da carreira, mesmo porque nem tudo é um mar de rosas e acontecem algumas decepções.
MAURÍCIO SABARÁ: 1974 se foi. Estamos em 75. E a Portuguesa mais uma vez está decidindo um título. Ela nos anos 70 era sempre forte e um time de chegada. O que aconteceu em 75, que vocês desta vez não chegaram?
WILSINHO: O mesmo que aconteceu em 73, nos pênaltis. Eu hoje até brinco, na época não, que o título de 73 foi importante porque todo mundo fala que saímos correndo do campo, o Oto escondeu todo mundo, mas na realidade sabia que se eu acertasse a trave ia dar aquela confusão e acabou dividindo. Em 75 a mesma coisa e eu era o capitão da equipe nas vezes que o Badeco não jogava. O Dicá bateu e outro que não me lembro que acabou errando contra o São Paulo. Fui bater o pênalti também e errei. Eu sempre falo nas entrevistas que dou que quando cheguei em casa, desta vez não acertei na trave, a bola sumiu, meu pai brincando se acharam a bola, pelo jeito ela deve ter caído fora do estádio! Risos ...
Mas a Portuguesa chegou. Em 74 deixamos de ir pra final porque perdemos um jogo importante em Bauru, contra o Noroeste, coincidência do destino foram os dois jogadores que a Portuguesa dispensou, o Rodrigues ponta-esquerda e o Lorico, que foram os grandes jogadores daquele dia, estávamos numa tarde ruim, tudo de errado aconteceu naquele dia e o Corinthians acabou indo pra final contra o Palmeiras. Na verdade era a Portuguesa que ia pra esta final.
MAURÍCIO SABARÁ: Em 76 você foi para o Juventus.
WILSINHO: Em 76 eu tive mais um ano na Portuguesa. Era um rebelde sem causa com 26 anos. Porque eu via todo mundo todo ano, vai reforçar e comprar, saía um e outro, sendo que eu continuava na ponta-esquerda. Aí fiquei meio rebelde, fiz algumas trapalhadas e me desinteressei um pouco. Hoje, com a idade que tenho, reconheço estas coisas e acabei tendo um desentendimento com o presidente e fui embora para o Juventus junto com alguns jogadores, na troca com o Tatá que hoje é auxiliar técnico do Muricy e chegou outro goleiro. Foi uma troca de jogadores, como fez o Fluminense com o Corinthians.
EDUARDO VERDASCA: Voltando na parte de decisões por pênaltis, muita gente lembra da decisão, como se continuasse o Santos venceria. Mas quando lembramos do tempo normal, houveram algumas injustiças que poderiam ter levado a Portuguesa ao título sem a decisão por pênaltis. Ninguém se lembra disso.
WILSINHO: Correto! Houve algumas chances dos dois lados. O Santos também teve bola na trave com Pelé. Nós também tivemos bola na trave. Houve um lance do Basílio que acabou não sendo feliz na finalização, sendo que a mesma sorte que teve no Corinthians não aconteceu na Portuguesa em 73. E tivemos o principal, que foi o gol do Cabinho anulado. Todo mundo fala que não lembra e lamentavelmente talvez não tivesse sido visto. A televisão naquela época não era tão moderna como hoje, acho que não existe imagem daquele jogo, mesmo porque ninguém consegue passar o jogo inteiro, sempre passa os lances dos pênaltis, mas nós tivemos um gol legítimo anulado pelo Sr. Armando Marques. A Portuguesa teria vencido normalmente.
EDUARDO VERDASCA: Era uma época que a Portuguesa tinha uma torcida muito grande. Tivemos um Morumbi com muitos torcedores.
WILSINHO: Eu tenho registrado em torno de 118 e 120 mil pagantes. Na época evidente que o Santos tinha mais com o Pelé. Mas a Portuguesa tinha a sua torcida que comparecia e sou contra a mudança de nome do time, pois desde que você tenha time, a torcida comparece. Eu acho que o nome não importa, pois quando você ganha e tem um bom time, jogávamos com estádios cheios no Canindé, Pacaembu e Morumbi. Muita gente na final foi torcer pra Portuguesa, mesmo quem não torcia pro time, mas dá pra ver na época que ela sempre teve bons times.
Eduardo Verdasca, Wilsinho e Mauricio Sabará . Uma tabelinha muito bem feita.
MAURÍCIO SABARÁ: Depois de encerrar a carreira você trabalhou como técnico de futebol Masculino e também Feminino. Como foi esta experiência esta experiência com as mulheres no futebol, além também do masculino?
WILSINHO: Quando assumi o Masculino Infantil, foi depois do Juvenil que já havia um treinador. Fiquei no Infantil, que nunca eu havia trabalhado. Seria o início de uma carreira. Só que entrei de manhã e fui demitido à tarde, porque eu tinha aquela idéia revolucionária, pois você tem que ter as coisas pra realizar um bom trabalho. Eu cheguei na Portuguesa e não tinha bola, chuteira e camisa. Com podia trabalhar, com quase 90 jogadores, podendo usar somente usar 22? Posso trabalhar no mínimo com 30. Não vai dar. Eles acabaram não gostando que pedi para o roupeiro colocar as coisas velhas dentro de um saco, não dei o treino e joguei tudo fora. Chamaram-me à tarde e disseram que não dava pra eu continuar como treinador, dizendo que joguei tudo fora. Eu respondi que só limpei. Depois entendi, porque a Portuguesa teve uma fase ruim com uma má administração, não deixando nada pra Lusa. Ela estava errado de baixo pra cima e de cima pra baixo. Não tinha nada na Base e nem no time principal. Eu achava que você tem que dar condições de a pessoa desenvolver o que sabe, com uma chuteira, bola em condição, portanto não concordava com aquilo. Acabei voltando e montei uma bela Equipe Infantil, saindo alguns jogadores que estão rodando por aí. Quanto ao Feminino, muitas jogadoras da Seleção Brasileira passaram comigo.
MAURÍCIO SABARÁ: Uma bela passagem pela Portuguesa. Também uma boa passagem pelo Juventus, jogando com Ataliba e outros jogadores de destaque. Chega 1979 e você é contratado pelo Sport Club Corinthians Paulista. Na época havia um ponta-esquerda muito bom que era o Romeu Cambalhota. Fale desta sua passagem pelo Corinthians, do título de 79 e como foi esta disputa sadia de posição com o Romeu?
WILSINHO: Quando saí da Portuguesa para o Juventus, este time formou uma grande equipe. Sempre do grande time da Portuguesa e do Juventus. O Corinthians acabou montando também um super time, com Zé Maria, Amaral, Wladimir, Caçapava, Basílio, Biro-Biro, Sócrates, Palhinha, Geraldão, Vaguinho, Romeu e eu. Qualquer um que o treinador colocasse, estava tranqüilo, pois tinha grandes jogadores. Eu fui para o Corinthians com 29 anos e super experiente. O pessoal falava que quando chegava aos 30 era hora de parar. Acabei jogando 3 anos e tive a felicidade de ser campeão em 79, o ano que cheguei. O Corinthians conquistou em 77, no ano seguinte foi o Santos em e79 ganhou novamente o Corinthians, sendo que teve uma paralisação no final do ano, houve briga do Matheus com a Federação e com o Palmeiras. O campeonato parou em Dezembro, voltando em Janeiro, eliminamos o Palmeiras e acabamos indo pra final decidindo novamente com a Ponte, com o Corinthians sendo campeão em 79. Joguei ainda em 80/81, quando voltei pra equipe do Juventus, jogando por mais 2 anos e encerrando a carreira.
EDUARDO VERDASCA: Estávamos falando dos últimos anos, que a Portuguesa não teve mais aquela fase dos anos 70, houve um grande esquadrão nos anos 50 e de uns anos pra cá as coisas não andam tão bem. A impressão que se dá é que a Portuguesa não se enxerga como um time grande.
WILSINHO: Teve uma época que a Portuguesa foi considerada como o quinto clube de São Paulo. Ela perdeu o seu espaço, não houve grandes investimentos nas Categorias de Base, teve um momento que ela foi crescendo e se solidificando como um clube grande. Sempre ficou naquele bloco. Ela abandonou a Categoria de Base. Se fizermos um retrospecto, depois da década de 70, podemos lembrar de Zé Roberto, que foi embora. A Portuguesa tem um ou outro jogador. Um time que revelou Ivair, Leivinha, Basílio, Enéas, eu, Edu e Zé Maria, você vê que eram vários. Hoje eu vejo o Santos fazendo este trabalho e o São Paulo resolveu ver que a solução é a Categoria de Base. Evidente que você tem que mesclar os jogadores jovens com os mais experientes, pois você tem que ter uma Base forte pra ser o alicerce dos que vem de baixo. E hoje a Portuguesa tem comprado jogadores que não vamos criticar. Cada época tem sua época. Eu respeito estas passagens. O jogador tenta fazer o papel dele. Talvez não seja o ideal, mas o clube é o responsável por aquele que ele forma e compra. Vejo muita gente despreparada trabalhar nas Categorias de Base, como professor de Matemática. Uma vez falei com o diretor do Corinthians. Na CBF tem muito militar. Na arbitragem tem o Coronel Marinho. Tem coronel na Portuguesa e Desembargador no Corinthians. Falei para este Desembargador, que quem é de segurança tem que cuidar disso, o militar precisa dar segurança ao povo e não se meter com jogador. Já imaginou se me dão um revólver? Faria bobagem. E quando eles vão para o futebol, também fazem bobagem. Eu não aceito interferência como treinador, de pessoas que não são do meio e falam. Pra discutir contigo tem que ter conhecimento na escalação do time e isso prejudica muito. Sabemos das mutretas no futebol, empresário que passa pra frente jogador, diretor que ganha comprando bonde. Quem paga é o clube e a torcida. Tudo passa, mas o clube fica.
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