Por Wladir Lemos
Quantas pessoas você conhece que têm um treinador como ídolo? Será que eles são tão importantes assim? Veja, não se trata de diminuir a importância de figuras como Telê Santana e outros. Faço as perguntas tentando dividir com vocês uma reflexão sobre o frenesi que envolveu a chegada de Carpeginai ao São Paulo e, mais recentemente, a saída de Adilson Batista do time do Corinthians.
Não vou correr do lugar comum, até porque se a pergunta soa banal, sua resposta há tempos provoca profundas reflexões em botecos, mesas redondas e afins. Afinal, técnico ganha jogo? Não! Como ouvi certa vez de um pragmático que tinha o cotovelo apoiado no balcão. "Técnico só ganharia jogo se entrasse em campo. Como não entra, não ganha!". Vai discordar?
O fato é que ganhando, ou não, a importância deles é incontestável. Só sendo importante pra receber quase, ou meio, ou mais de um milhão de reais por mês. Não quero com isso dizer que não merecem cada centavo que faturam, mas quero apontar o que considero a grande virtude de um treinador.
Diria que um grande treinador é aquele que sabe como funciona o universo da bola e, principalmente, como os homens lidam e se comportam quando estão dentro dele. Isso explica porque nem sempre grandes jogadores se tornam grandes treinadores e porque pernas-de-pau nacionalmente conhecidos acabam sendo vistos como grandes estrategistas.
Há uma tendência, que me parece cada vez mais forte, de reduzir toda a complexidade do futebol a esquemas táticos. Na última sexta-feira, durante a coletiva que concedia a um grupo considerável de jornalistas, o treinador do São Paulo, Paulo Cesar Carpegiani, enquanto respondia a uma dessas questões táticas, não mediu palavras. Foi enfático ao avisar o autor da pergunta que não era "apegado a esquemas táticos, essas coisas" e que para ele mais importante que isso era o posicionamento do jogador em campo. Mas ninguém se interessou em fazer daquilo uma oportunidade pra mudar o rumo da prosa e o papo seguiu o curso de sempre.
No caso envolvendo Adilson Batista, a questão é outra. Por mais que tentem sinalizar que o problema passava pelo lado inventivo do treinador, muita coisa me faz crer que questões distantes dos esquemas e das teorias táticas levaram Adilson a jogar a toalha. Os desfalques? A necessidade de improvisar? Sim, tudo isso fez parte da receita que o fez durar pouco mais de dois meses no comando do time.
Mas, na minha modesta opinião, foram as questões humanas que provocaram a saída. Adilson se recusou a conversar com a torcida, por exemplo. Dizem que silenciosamente respondeu essa intimidação com uma ousadia disfarçada, colocando em campo todos os jogadores condenados pela voz que dizia falar em nome dos que frequentam a arquibancada. Técnico ganha jogo? Não. Mas na minha opinião valem mais aqueles que uma vez perdido o jogo fazem questão de salvar a honra. |