Michel Laurence é Nascido em Marselha, na França, em setembro de 1938, é um brasileiro por opção – sua mãe nasceu no Rio Grande do Sul. Um dos fundadores da revista Placar, criou o tradicional prêmio Bola de Prata em 1970. Na mídia impressa, passou também pelas redações dos jornais Última Hora, Jornal do Brasil e Jornal da Tarde, onde ganhou um prêmio Esso pela matéria O Jogador é um Escravo, escrita a quatro mãos com José Maria de Aquino. Na televisão, trabalhou nas redações da Rede Globo, Record, Bandeirantes, Manchete e Cultura, na qual participou da criação dos programas Cartão Verde e Grandes Momentos do Esporte
Não sei de que parte do Brasil você é!
Eu sou meio carioca, meio paulista, nascido na França.
Na França tem três esportes que são paixão nacional: o ciclismo, o rúgbi e o futebol, este em primeiro lugar.
Na França só tenho causos nas vezes que voltei por lá a trabalho (tem aliás uma história com o grande Michel Platini em seus tempos de jogador que sempre quero contar e esqueço. Vai ver que não é boa!).
Por aqui quando cheguei do Rio, fazer futebol no interior era uma delícia!
Jornalista "da capital" era recebido como se fosse uma personalidade. Onde a gente fosse era tudo de graça, "gentileza" que éramos obrigados a rejeitar por determinação do jornal, com jeito e educação, para não ser "mal entendido" mas também para manter nossa independência.
Até mulher! Que garanto, era muito mais difícil de ser rejeitado.
Só que as histórias surgiam do nada.
Uma vez em Barretos, onde fomos fazer uma reportagem sobre um garoto chamado Brecha de muito talento – que jogou depois algum tempo no Santos de Pelé – chegamos ao estádio Fortaleza e vi um burro andando pelas arquibancadas vazias.
Perguntei:
- Ah, é por isso que o Barretos tem o apelido de "O Burro da Central"?
Quase ofendido o diretor que me fazia conhecer a história do clube, respondeu:
- Não, meu amigo, Burro da Central é o Taubaté!
E acrescentou com um orgulho surpreendente:
- Aqui é "O Touro do Vale"!
E eu tentando consertar as coisas:
- Ah, bom, Touro do Vale é muito mais bonito do que Burro da Central. Mas me explica, o que o burro está fazendo lá na arquibancada?
O diretor sorriu e explicou:
- Esse burro era trazido para pastar no campo e acostumou a ficar por aqui. Um dia atravessando a arquibancada começou a lamber o chão e também não parou mais.
- Mas por que? – perguntei.
- Bem, não sei se é verdade, mas um professor explicou que como faz muito calor aqui em Barretos, quando o pessoal vem ver jogo, sua muito, Muito mesmo. E no suor tem sal. O sal não evapora, e o burro lambe o sal das arquibancadas.
Sem querer dar outro fora fiquei pensando que "a torcida devia suar muito, mas muito mesmo para suar sal o suficiente para o burro lamber.
Outra vez acho que foi em Jaú se não me falha a memória, chegamos no antigo estádio do XV, o Arthur Simões (que foi construído segundo a história em menos de 10 dias num terreno doado claro, por Arthur Simões).
Daquela vez eu tinha estudado e me senti seguro para enquanto eu observava umas ovelhas pastando no campo, dizer:
- Ah, então é aqui que o "Galo da Comarca" manda seus jogos!
- Desde muito tempo – respondeu o secretário do clube.
- É verdade, mas me diga por que aquelas ovelhas dentro do campo?
- Elas estão se alimentando e ao mesmo tempo aparando a grama! – respondeu o rapaz com a maior naturalidade.
Eu ia soltando a maior gargalhada da paróquia, quando me passou pela cabeça as guerras dos filmes do velho oeste americano entre fazendeiros que criavam gado e os que criavam ovelhas. Os do gado dizendo que as ovelhas comiam o pasto quase até a raiz não deixando nada para bois e vacas.
Aí, o rapaz me tirou dos meus pensamentos e acrescentou com prazer:
- É para o jogo de domingo, sabe? A grama vai ficar aparadinha!
Nhô Quim
Mas uma coisa que sempre quis saber e só agora aprendi, é a de por que o XV de Piracicaba tem o apelido de "Nhô Quim"?
Foi o grande jornalista Thomaz Mazzoni, dos tempos de A Gazeta Esportiva, que notando a torcida chamar o XV de "Sinhô Quinze":
- O senhor veio ver o "Sinhô Quinze" jogar?
Formou na cabeça o apelido de "Nhô Quim". Do apelido surgiu o boneco desenhado por Nino Borges, um caipira com um guarda-chuva na mão, camisa listrada em preto e branco e chapéu de palha desfiada, que acabou se transformando no símbolo do clube.
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