As contusões sempre perseguiram o ex-jogador Mailson, lateral reserva do time campeão brasileiro em 1988. Uma delas, em 1992 foi registrada de perto pelas câmeras da TV Bahia.
Foram três cirurgias só no joelho esquerdo. Nada que se compare ao que aconteceu no início deste ano. "Minha esposa saiu para o estágio e eu fui colocar o almoço de nosso filho. Quando fui pegar a panela ela escorregou da minha mão esquerda, pois eu sou canhoto. Percebi que tinha alguma coisa errada comigo", relembra Mailson.
Nem Mailson, nem a esposa Lícia faziam ideia do que estava por vir. Faltava pouco para o diagnóstico médico.
"Ele sentia fraqueza nas mãos e a gente falava para ele procurar um ortopedista. Quando ele foi recomendaram fisioterapia, mas ele foi piorando e perdendo o tato. Depois veio a perna e ele passou a andar com um pouco de dificuldade. Então notei que ele estava falando embolado", relata Lícia, esposa de Mailson.
A doença de Mailson é conhecida na medicina como ELA - Esclerose Lateral Amiotrófica, a mesma que vitimou recentemente o ex-atacante baiano Washington, que começou no Galícia e foi ídolo no Fluminense do Rio. Nos Estados Unidos ganhou o nome de doença de Lou Gehrig, jogador de beisebol dos anos 30, primeira celebridade atingida pelos sintomas.
A ELA afeta os neurônios responsáveis pelos comandos dos músculos. Quando eles atrofiam, os músculos enfraquecem e a pessoa perde o controle dos movimentos. Fraqueza, perda progressiva da função muscular, além de dificuldade para engolir e nos movimentos da face e da língua são alguns dos sintomas mais evidentes. Há tratamentos eficazes, que prolongam a vida do paciente, mas a medicina ainda está longe de encontrar a cura.
"A gente tem que estar preparado para tudo. Eu não esperava, foi aquele baque, pois eu não podia mais jogar bola… Estou nessa caminhada, só peço a Deus que meu filho de 12 anos estude muito, essa é minha meta, depois entrego a Deus. Essa é uma doença que não tem cura, eu sei, minha esposa sabe e meus amigos também", emociona-se o ex-jogador.
Mas porque a doença atinge atletas de alta performance, aparentemente saudáveis e cheios de vida? "É possível que o atleta de alto impacto tenha um gasto energético, um processo oxidativo muito acentuado no sistema nervoso, fazendo com que haja degeneração das células", explica Ailton Melo, neurologista.
Mailson sempre levou uma vida simples. O auge na profissão foi no início dos anos 90, quando o Bahia chegou a semifinal do Campeonato Brasileiro.
Dentro do coração de Mailson, de 42 anos, sempre houve espaço para a solidariedade. Quando sobrava um dinheiro dos bichos por vitória cansou de ajudar a quem mais precisava.
Atenção e carinho ao próximo que rendeu amigos dentro e fora de campo. O jeito moleque, sempre de bom humor, proporcionou episódios inusitados com os colegas de profissão. Nas concentrações era o terror para a comissão técnica. Como em um episódio que aconteceu em um quarto de hotel.
"Quando a gente chegou a Honduras, somente meu quarto tinha cadeado no frigobar. Eu na cozinha, peguei uma chave de fenda e esperei o pessoal dormir. No quarto estávamos eu e Marcelo Ramos. Eu disse ‘Fique na sua que nada vai acontecer’. Quando chegou a conta do hotel quase me matam! Eu disse ‘Lá você desconta do meu salário’, mas ele falou ‘Vou descontar é hoje’!", lembra Mailson.
Por essas e outras histórias, que Mailson é querido no mundo da bola. A presença dos vizinhos e amigos por perto dá um sopro de esperança.
"A gente sempre está junto, podendo ajudar, nós estamos aqui prontos, sempre visitando, vendo se ele está precisando de alguma coisa", diz Marinaldo Cerqueira, amigo de Mailson.
Apesar dos avanços, a ciência é cruel. A doença de Mailson não tem cura, mas ele promete lutar enquanto tiver forças.
"Eu perguntei à médica quanto tempo de vida eu ainda tinha e ela disse que poderia ser um ano, dois ou 20. Eu já estou no terceiro e vou para os 20", espera Mailson.
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