Por Edwellington Villa
Na foto da capa, Reis que hoje esta aposentado e mora mora na Vila Maria, em São Paulo.
Na foto da matéria o time do América que disputou o Paulistão de 65.
Em pé, da esquerda para a direita: Milton, Ambrózio, Reis, Nelson Coruja, Nildon e Mota; agachados: J. Alves, Ladeira, Aloísio, Waltinho e Caravetti
Reis teve uma das maiores longevidades como goleiro do América em todos os tempos. Chegou na Vila Santa Cruz em maio de 1962 e defendeu o Rubro até junho de 1971. Nos nove anos fez defesas milagrosas, garantiu muito bicho aos companheiros e participou de duas campanhas inesquecíveis. Foi campeão da Série João Mendonça Falcão e vice-campeão da Segunda Divisão de 1962/63 e campeão da Segundona em 1963/64. No dia 4 de abril de 1962, depois do empate em 1 a 1 com o Jaboticabal, fora de casa, o América ficou sem goleiro. O jovem Odair, vindo do Santos, sofreu uma contusão no braço naquele amistoso. A lesão se agravou porque o Rubro estava sem reserva e ele teve de ficar em campo até o final da partida. Mané Mesquita havia sido convocado, mas não apareceu para viajar. Mané já tinha "dado os canos" no amistoso anterior, em Barretos. Pela indisciplina, a diretoria americana decidiu encostá-lo. Alguns dias depois, Sivuca, que estava em testes, jogou contra o Jaboticabal (1 a 1), no estádio Mário Alves Mendonça. Não demorou para os cartolas conseguirem o empréstimo de Orlando junto ao XV de Piracicaba. Entretanto, insatisfeitos com as opções no elenco, o presidente Antônio Zaia Tarraf e o diretor Dureid Fauaz receberam ótimas informações de Reis e foram buscá-lo em São Paulo. O goleiro desembarcou na Rodoviária de Rio Preto na quarta-feira, dia 16 de maio de 1962, depois de uma cansativa viagem.
No mesmo dia, o Vermelhinho disputou um amistoso com o Comercial, de Ribeirão Preto. "Cheguei no começo da tarde, descansei um pouco num hotel e à noite fui escalado para enfrentar o Comercial", recorda. "O Mário Alves Mendonça parecia uma boate", afirmou, referindo-se a iluminação precária do estádio. O meio-campista Gaúcho, vindo do Catanduvense, havia se apresentado alguns dias antes e os dois estrearam diante da equipe comercialina. Reis sofreu o primeiro gol aos 37 minutos do primeiro tempo, num chute cruzado do centroavante Paulinho. Sapucaia desperdiçou quatro chances para empatar e o América só chegou à igualdade nos instantes finais com um gol de cabeça do atacante Joãozinho, que escorou um escanteio cobrado por Dirceu. Reis arrebentou nas partidas seguintes e não deu mais chance para concorrentes. Foi campeão da Série João Mendonça Falcão, disputou o título da Segundona e o acesso ao Paulistão contra o São Bento de Sorocaba. Naquela época só um time subia de divisão. Após três batalhas memoráveis, o time sorocabano levou a melhor. Houve empate sem gols no Mário Alves Mendonça e de 1 a 1 em Sorocaba. No jogo extra, no Pacaembu, o São Bento venceu por 2 a 1.
Apesar de não atingir o objetivo, o América não baixou a guarda e investiu ainda mais no ano seguinte para retornar à elite. Com apresentações de encher os olhos, o Rubro colocou a concorrência na roda e faturou o título, garantindo o acesso antecipado graças à vitória da Ponte Preta sobre a Portuguesa Santista por 2 a 1. Na última rodada, o time rio-pretense goleou o São Bento, de Marília, por 5 a 1. Nos momentos de folga, Reis adorava pescar com amigos. O massagista Antônio Sutto, o Tio Nico, e o zagueiro Nelson Coruja eram seus grandes companheiros na hora do lazer. "Íamos de lambreta em vários rios da região, principalmente no quilômetro 27 do Turvo." Durante sua trajetória no América, Reis sempre teve uma grande sombra. Mané Mesquita, Neury Cordeiro, Raimundinho, Raul Marcel e Marcão Ortolan só ficavam aguardando uma brecha. Seu último jogo pelo Rubro foi na vitória de 1 a 0 sobre o Comercial, em 5 de maio de 1971, quando estava com 36 anos e Marcão e Getúlio disputavam a posição de titular.
Iniciou na Lusa e jogou no Bragantino
Reinaldo Barreto ganhou o apelido de Reis ainda garoto na Vila Maria, em São Paulo, onde nasceu no dia 3 de fevereiro de 1935. Jogou na equipe do Cruz de Malta e no Ypiranga, tetracampeão infantil. Depois, passou a defender o Flamenguinho, da Vila Maria. Após um festival juvenil realizado no campo do Juventus, em 1953, Reis, o meia Nelson Careta e o zagueiro Nenê foram convidados pela direção do Guarani para fazer testes. "Chegamos em Campinas à tarde, o treino tinha sido antecipado para o período da manhã e não nos avisaram. Fomos embora sem treinar", relembra. Dias depois, o técnico Délio Neves, da Portuguesa de Desportos, precisava de um goleiro para o time aspirante. O meia Armandinho, amigo de Reis desde os tempos do Flamenguinho e que estava na Lusa, o indicou. "Joguei contra o Corinthians de Santo André e o Lausanne Paulista. Na terça-feira seguinte me tiraram do treino para eu assinar contrato." Começou na Portuguesa junto com Félix, que em 1970 foi campeão mundial com a Seleção Brasileira na Copa do México. Com poucas oportunidades na equipe lusitana, acabou emprestado ao Bragantino. "Em Bragança Paulista tive uma fase espetacular", diz. Ao retornar para a Lusa, recebeu uma proposta irrecusável do Sport Recife. "O diretor Benjamim Vaisteri ofereceu uma boa grana, casa mobiliada e quatro passagens aéreas por ano entre Recife e São Paulo", informa. O clube pernambucano também tinha contratado Foguinho e Sarcinelli, ambos da Portuguesa, Sarará, do São Paulo, Renato e Cristiano, ambos do Palmeiras.
Reis recebeu metade das luvas, disputou duas partidas, contra Íbis e Treze, e quando foi assinar contrato o cartola diz que não havia prometido moradia mobiliada. "Fui à sede do Sport, devolvi o dinheiro, peguei meus documentos e vim embora." Acertou com o América, onde eternizou seu nome no clube ao permanecer por nove anos. Disputou mais de 300 jogos com a camisa americana, foi campeão da Segunda Divisão em 1963 e vice-campeão na temporada anterior. Curiosamente, Reis estreou no América contra o Comercial (empate de 1 a 1, em 1962) e se despediu do clube contra o mesmo adversário nove anos depois. A partida ocorreu no dia 5 de maio de 1971, quarta-feira à noite, no estádio Mário Alves Mendonça, pela antepenúltima rodada do Torneio Estímulo, promovido pela Federação Paulista de Futebol. O time rio-pretense ganhou de 1 a 0, gol do centroavante João Luiz no começo do segundo tempo. Marcão Ortolan jogou nos empates (ambos por 2 a 2), contra Portuguesa Santista, dia 16 de maio, e Noroeste, em 23 maio. O América foi vice-campeão do torneio e a Santista ficou com o título. No dia 16 de junho, a diretoria contratou o goleiro Getúlio por empréstimo junto ao XV de Piracicaba e Reis decidiu encerrar a carreira. Com parte do dinheiro que ganhou no futebol, Reis comprou uma casa na Vila Dória, em Rio Preto. Após pendurar a chuteira no Vermelhinho, ele vendeu o imóvel para voltar a São Paulo. "Foi a pior besteira que fiz", comenta, revelando seu maior desejo de um dia morar novamente na terra de São José. Trabalhou no Banco Safra de 1971 a 1984, aposentou-se e sua maior curtição continua sendo a pescaria aos finais de semana. Casado com Neide desde 1960, Reis é pai de Reinaldo Júnior e Andréa e tem quatro netos.
FICHAS TÉCNICAS:
AMÉRICA - 1
Reis; Mota, Fogueira e Ambrózio; Bertolino e Cuca; Walter (Heleno), Gaúcho, Sapucaia (Martin), Joãozinho e Dirceu. Técnico: João Avelino.
COMERCIAL - 1
Aníbal; Toninho, Esmeraldo (Japonês) e Airton; Píter e Roberto; Babá, Ditinho, Paulinho, Carlos César (Luiz) e Cláudio. Técnico: Martim Francisco.
Gols: Paulinho aos 37 minutos do primeiro tempo. Joãozinho aos 44 minutos do segundo tempo. Árbitro: Euclides Rosa. Renda: Cr$ 82.250,00. Público: 1.072 torcedores. Local: estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, quarta-feira, dia 16 de maio de 1962, em jogo amistoso que marcou a estreia de Reis no gol do América.
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AMÉRICA - 1
Reis; Valter, Wagner, Ari e Ambrózio; Didi e Raul (Nelsinho); Zé Maria, Rui Júlio, João Luiz e Cunha (Pacheco). Técnico: Vail Mota.
COMERCIAL - 0
Fernando; Batalhão, Klein, Marins e Maurício; Joãozinho e Paulo Campos; Mário Augusto, Moacir, Amilcar e Jair Gonçalves. Técnico: não obtido.
Gol: João Luiz aos 4 minutos do segundo tempo. Árbitro: Carlos Afonso. Expulsões: Ari e Amilcar. Renda e público: não obtidos. Local: estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, quarta-feira, 5 de maio de 1971, pela antepenúltima rodada do Torneio Estímulo da Federação Paulista de Futebol, na despedida de Reis do América e do futebol.
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