Edwellington Villa
Na foto da capa: Comerciante em Catanduva, China leva uma vida tranqüila ao lado da família e torce pelo crescimento do filho Rafael Ueta (dir.), que seguiu a carreira do pai
Na foto da matéria, a Catanduvense onde China jogou entre 1971 e 1975, conquistando o título da Segundona de 1974. De pé, a partir da esquerda: Moacir, Tércio, Pedrinho, Zé Carlos, Rafael e Fred; agachados: Arnaldo, Maritaca, Gilberto, China e Rogério
Meia-esquerda habilidoso, criativo e que conduzia o time ao ataque, China foi revelado pelo Palmeiras, conquistou o título do Brasileiro de Seleções Estaduais por São Paulo e do Pré-Olímpico da Colômbia. Disputou a Olimpíada do México e a Taça Libertadores, ambos em 1968. Chegou a ser comparado com Rivellino, em razão do potente chute de canhota, dos lançamentos açucarados e dos passes milimétricos, suas principais características. Com ascendência asiática, o paulistano Ademir Ueta, que completará 60 anos no próximo dia 3 de outubro, ganhou o apelido de China ainda na infância e começou a jogar futebol no Nacional, de Rudge Ramos, depois atuou no Meninos e no Flamengo, ambos de São Bernardo do Campo, onde morava. Gengo, um ex-jogador do Palmeiras e amigo do técnico Mário Travaglini, conhecia o pai de China, Sukao, e indicou o garoto para testes no Parque Antártica.
Defendendo o Verdão, arrebentou no Paulista Juvenil, e foi convocado por Mário Travaglini para disputar o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, no Mineirão, em Belo Horizonte, realizado em fevereiro de 1967. Na estréia, já deixou seu cartão de visita, fazendo um dos gols na vitória paulista por 3 a 1 sobre Pernambuco. Depois, marcou mais seis, no massacre de 9 a 0 sobre o Amapá, e teve participação fundamental nos 3 a 0 contra os mineiros, anotando o terceiro tento. Na final, São Paulo ganhou do Rio de Janeiro por 1 a 0. Em grande fase, foi relacionado pelo técnico Antoninho para atuar na Seleção Brasileira de Amadores (sub-20), que disputou o Campeonato Sul-Americano, no Paraguai. Depois, o técnico Alfredo Gonzales passou a convocá-lo com freqüência para os jogos do time principal do Palmeiras, que contava com Dudu, Ademir da Guia, Djalma Santos, Servílio, Tupãzinho, Artime, Valdir Joaquim de Moraes, Cabralzinho e outros monstros sagrados da velha "Academia de Futebol".
Estreou entre os profissionais na vitória de 3 a 1 sobre o Estudiantes de La Plata, da Argentina, dia 7 de maio de 1968, ao entrar no lugar de Servílio, no segundo jogo da semifinal da Libertadores. Na partida de ida, os argentinos haviam vencido por 2 a 1. Os platinos também ganharam o jogo desempate por 2 a 0, em Montevidéu, eliminando o Alviverde. Ainda novato entre as estrelas, China foi escalado por Gonzales para o jogo diante do Santos, domingo, dia 19 de maio de 1968, pela antepenúltima rodada do Paulistão. A equipe palmeirense já não tinha mais chances de conquistar o título, mas recebera uma mala preta, oferecida pelo Corinthians, único que podia tirar o caneco do Peixe. Logo no primeiro minuto da etapa complementar, China abriu o placar para o Verdão. Não demorou para o Santos reagir. Edu empatou aos 9, Pelé virou o marcador aos 14 e Toninho completou o resultado, aos 21 minutos. Final, 3 a 1 para a equipe santista, campeã em cima do Palmeiras, que terminou em 11º lugar entre os 14 participantes, à frente apenas de América, Juventus e Comercial.
Quando estava se firmando no Palestra Itália, precisou deixar o time para atender novo chamado da Seleção Brasileira. O time de "brotos" do Brasil conquistou o título do Torneio Pré-Olímpico da Colômbia e se classificou para a Olimpíada da Cidade do México, em 1968. Na competição azteca, o Brasil ganhou de 2 a 1 da Espanha, empatou em 1 a 1 com a Nigéria e perdeu de 3 a 1 para o Japão, caindo na primeira fase. A Hungria foi campeã olímpica no futebol, com a Bulgária faturando a prata e os japoneses, o bronze. "Os outros países levavam seus principais jogadores e o Brasil participava com novatos (sub-20)", diz China.
Jogou em Portugal e na Venezuela
Após passar por Guarani, Marília, Catanduvense e Aliança Clube, China acertou com o Marítimo de Portugal. O clube da Ilha da Madeira comprou o passe dele junto ao Aliança de São Bernardo. "Fiquei dois anos atuando na Primeira Divisão do futebol português", informa o meio-campista, que retornou ao time de Catanduva em 1981. "Perdemos a final da Intermediária (acesso ao Paulistão) para o São José, que subiu." Só o campeão era promovido. Naquela época, já conciliava o futebol com o comércio de defensivos agrícolas, que abriu na Cidade Feitiço e possui até hoje. Mesmo assim, ainda se aventurou durante oito meses no Deportivo Português, da Venezuela. "Alguns dirigentes do clube venezuelano eram da Ilha da Madeira e não tive como recusar a oferta deles." Jogou mais um ano no Grêmio e, em 1983, já no final da carreira, disputou o Paulista da Terceira Divisão pelo Monte Alto. "Só treinava à noite, duas vezes por semana", diz. Casado com Fábia Zancaner, China é pai de Fabiano, Thaís, Rafael e Lara. Rafael Ueta, aliás, segue os passos do pai. Há cinco anos, ele atua na Ponte Preta.
Lesão e Exército atrapalham planos
Depois da temporada brilhante em 1968, China viveu um drama no ano seguinte. Ele tinha uma atrofia na perna direita em razão de uma fratura sofrida na adolescência, que necessitava de tratamento freqüente. Porém, retornou da seleção olímpica com uma luxação na clavícula e os médicos passaram a cuidar da contusão nova e "esqueceram-se" da antiga. Para agravar a situação, teve que prestar o serviço militar. E na época da ditadura não havia moleza pra ninguém. "Explicava o meu problema ao capitão Juarez, mas ele achava que era desculpa para eu ser dispensado e não me liberava", recorda. Recuperou-se, cumpriu sua obrigação com o Exército, mas perdeu espaço no Palmeiras em razão do longo período afastado.
Acabou emprestado ao Náutico do Recife, em 1970. No ano seguinte, foi cedido ao Grêmio Catanduvense, finalista do Paulista da Segunda Divisão. "Na última rodada da fase decisiva, já estávamos eliminados, mas ganhamos do Rio Preto, que ainda tinha chances, por 1 a 0", relembra. Disputou parte do Paulistão de 1972 pelo Guarani e no segundo semestre transferiu-se para o Marília. Posteriormente, retornou ao Catanduvense, desta vez, em definitivo. Em 1974, o time de Catanduva foi campeão da Segunda Divisão, mas a Lei de Acesso havia sido suspensa pela Federação Paulista de Futebol. China ficou no Grêmio até 1975. Treinou dois meses no Boca Juniors, da Argentina, em 1976, mas o prazo de inscrição para o campeonato nacional já havia terminado. Depois, chegou ao quadrangular decisivo da Divisão de Acesso, com o Aliança Clube, de São Bernardo do Campo. Quem subiu foi o XV de Jaú. Santo André e Barretos eram os outros finalistas
São Paulo
Picasso; Ismael, Jurandir, Roberto Dias e Edilson; Nenê e Fefeu; Faustino (Lourival), Adilson, Terto e Paraná. Técnico: Sylvio Pirillo.
Palmeiras
Maidana; Geraldo Scalera, Minuca, Osmar e Ferrari; Dudu e Ademir da Guia; Suingue, Lauro, China e Rinaldo (Cabralzinho). Técnico: Alfredo Gonzales.
Gol: Lauro aos 37 minutos do primeiro tempo.
Árbitro: José Olímpio de Oliveira.
Renda: NCr$ 20.780,00.
Público: 11.410 pagantes.
Local: Morumbi, em São Paulo, domingo, 26 de maio de 1968, pela 14ª rodada do segundo turno do Paulistão.
Rio Preto 0 x 3 Catanduvense
Rio Preto
Gilson Bernardes; Geraldo Scalera, Cidinho, Beto e Botão; Tino e Nei; Wilson, Cornélio, Tião (Vicente) e Plínio (Vilson Tadei). Técnico: Floreal Garro.
Catanduvense
Alexandre; Roberto (Tiãozinho), Mané, Rafael e Almeida; Naves e Moreno; Nunes, Arnaldo (Capitão), China e Jesuíno. Técnico: Carlos Alberto Silva.
Gols: Naves aos 22 minutos do primeiro tempo. Arnaldo aos 22 e Nunes aos 32 minutos do segundo tempo.
Árbitro: Edson Valter Pantosi.
Renda: Cr$ 17.712,00.
Público: 1.807 torcedores.
Local: estádio Riopretão, domingo, dia 21 de maio de 1972, pelo Torneio 25 de Janeiro, que reunia ainda Nororeste de Bauru e Marília, quando China era um dos destaques do time dirigido por Carlos Alberto Silva.
Palmeiras 3 x 1 Estudiantes
Palmeiras
Valdir Joaquim de Moraes (Perez); Geraldo Scalera, Baldochi, Osmar e Ferrari; Dudu e Ademir da Guia; Suingue, Tupãzinho, Servílio (China) e Rinaldo. Técnico: Alfredo Gonzales.
Estudiantes
Poleti; Funcceneco, Spadaro, Madero e Malbernat; Carlos Billardo e Pachamé; Ribaudo, Conigliaro, Flores (Togneri) e Ramon Veron. Técnico: Zubeldia.
Gols: Tupãzinho (falta) aos 6 e aos 43 e Ramon Veron aos 37 minutos do 1º tempo. Rinaldo (pênalti) aos 34 minutos do 2º tempo.
Árbitro: Carlos Domingos Mazzaro (Chile).
Renda: NCr$ 194.084,00.
Público: 42 mil pessoas.
Local: Pacaembu, em São Paulo, terça-feira, dia 7 de maio de 1968, pela semifinal da Taça Libertadores, na estréia de China pelo Palmeiras.
Brasil 3 x 1 Uruguai
Brasil
Raul Marcel; Cláudio, Valtinho, Luiz Carlos e Botinha; Tião e Moreno; Ademir (Angelo), Dionísio (Mimi), China (Sérgio) e Toninho II. Técnico: Antoninho.
Uruguai
Sousa; Rivera, Sandoval, Paralicini e J. Duarte; Peralta e A. Duarte; Manero, Caltieri, Filomeni e Leiva. Técnico: não obtido.
Gols: China aos 23 minutos do primeiro tempo. Manero aos 14, Mimi aos 43 e Toninho aos 44 minutos do segundo tempo.
Árbitro: Miguel Comesana (Argentina).
Renda e público: não obtidos.
Local: estádio de Assunção, no Paraguai, dia 12 de março de 1967, pelo Grupo B da primeira fase do Campeonato Sul-Americano Juvenil (sub-20).
Seleção Paulista 9 x 0 Seleção do Amapá
Seleção Paulista
Raul Marcel (Justo); Cláudio, Luiz Carlos, Paulo e Willerson; Sebastião e Moreno; Serginho (Jessé), Angelo, China e Toninho II.Técnico: Mário Travaglini.
Seleção do Amapá
Zé Roberto (Vanderli); Antoninho, Lua, Praxedes e Suzico; Haroldo (Adauto) e Jorge; Coutinho, Batista, Alceu e Moacir. Técnico: não obtido.
Gols: China (p) aos 9, aos 33 e aos 37 e Toninho II aos 27 minutos do 1º tempo. China aos 10, aos 23 (p) e aos 34 (p), Jessé aos 20 e Moreno aos 27 minutos do 2º tempo.
Árbitro: Silvio Lauro (RS).
Expulsões: Lua, Suzico e Praxedes.
Renda: NCr$ 330,00.
Público: 873 pagantes.
Local: Mineirão, em Belo Horizonte, dia 16/2/1967, pela 4ª rodada da 1ª fase do 5º Campeonato Brasileiro de Seleções.
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