Insuperável. O maior ídolo da Ferroviária, Olivério Bazani Filho, é o atleta que mais vestiu a camisa 10, em 758 jogos; e também o maior artilheiro do clube, com 244 gols. O primeiro a ter um busto na Fonte Luminosa. Meio século de vínculo com o clube. Chegou para testes em 1954 e se dedicou ao clube até 2006. Passou 2 anos no Corinthians. Morreu aos 72 anos, no dia 13 de outubro de 2007.
Bazani começou no juvenil da Mirassol, de sua terra natal, ele é de 3 junho de 1935. Despertou a atenção dos diretores da Ferroviária em um jogo amistoso. Convidado para treinar no Fluminense desceu do trem em Araraquara para acompanhar os amigos China e Ico. Coisas dos homens da Estrada de Ferro, aonde as notícias chegavam à primeira mão.
Com enorme vontade de ser profissionalizado, Bazani tinha um problema: o titular Zé Amaro era bom demais e o negócio era ter paciência.
Aos poucos, Bazani entrava no jogos da Segundona de 1954, sob as ordens de técnico Renganeschi, mas a cabeça ainda estava no Fluiminense.
A chance surgiu em 1955 e na estréia do Campeonato da Segunda Divisão. O titular Mário estava suspenso, Zé Amaro havia sido vendido, e Capilé escalou o meia de 19 anos, que não decepcionou e marcou dois gols na vitória frente ao Paulista de Jundiaí, na Fonte Luminosa, por 4x2. Titular no jogo seguinte, Bazani marcou mais dois em Catanduva em outra goleada, por 4x2, diante do time da casa. O sonho de ir para o Flu estava por ora adiado.
A campanha seguiu invicta e com a goleada diante do Botafogo, por 6 x 3, Bazani balançou as redes marcando dois gols, Gomes, 2, e Cardoso, 2, em 15 de abril de 1956, a Ferroviária conseguiu o acesso à Divisão Especial com apenas 6 anos de fundação
As boas atuações da Ferroviária, na Divisão Principal, assustavam os grandes. Em 1959, o clube da Estrada terminou em terceiro lugar. O goleiro Rosan, o volante Dudu e o meia Bazani foram convocados para a seleção paulista. Bazani e Pelé se revezaram em alguns jogos. "Bom companheiro, humilde e com espírito coletivo", resume Bazani em depoimento gravado em 1998.
A seleção conseguiu o tetracampeoanato nacional, de 1960 e Bazani recorda com o humor o jogo contra os cariocas no Maracanã. "O Paulo Amaral pediu que eu ajudasse o Oreco na marcação do Garrincha. Eu pegava o meio e o Oreco cercava as beiradas. Deu tudo errado. Garrincha deitou e rolou e eu fui, com muito orgulho, mais um "João"...
Bazani entra titular e Pelé fica no banco
No jogo de ida da primeira fase, os paulistas venceram a seleção baiana por 2 a 0, em Salvador. Na partida de volta, no Pacaembu, Aymoré optou pela escalação de Bazani na meia-esquerda e deixou na reserva Pelé, já idolatrado como campeão mundial pela Seleção Brasileira na Copa da Suécia em 1958. No primeiro tempo, os paulistas fizeram 1 a 0, gol de Pepe. No intervalo, Aymoré colocou Pelé no lugar de Bazani. O banco deve ter deixado o "Atleta do Século" irado e quem pagou o pato foi o time baiano, que não viu a cor da bola. Resultado, o "Rei do Futebol" marcou três gols, Pepe fez mais dois e Chinezinho completou o massacre de 7 a 1.
Teve o jogo contra os mineiros e a seleção paulista venceu o primeiro tempo por 3 x 0. No intervalo Pelé saiu e entrou Bazani. Os mineiros reagiram e vitória paulista foi suada por 4 x3.
No dia seguinte a manchete dos jornais esportivos: Pele saiu, Bazani entrou e complicou!
Fatos que Bazani relata com humor e orgulho, pois conviver com Pelé foi ótimo, recorda.
Tricampeão do Interior e detentor da Taça dos Invictos
Bazani comandava a Ferroviária dentro do gramado nos anos 1960. Excursionaram em 1960, 1963 e 1968, com brilhantes atuações em Portugal, Espanha, África Portuguesa e América Central. Destaque na campanha do acesso, de volta, em 1966, e na conquista do Tricampeonato do Interior – 1967, 1968 e 1969, além da Taça dos Invictos em 1970.
Duas temporadas no Corinthians
Bazani tornou-se um carrasco do Corinthians. Na temporada de 61, a Ferroviária venceu os dois confrontos diante do Alvinegro, ambos por 2 a 1. No primeiro turno, o jogo aconteceu na Fonte Luminosa e no segundo, no Parque São Jorge. Em março do ano seguinte, as duas equipes se enfrentaram em partida amistosa e os afeanos golearam por 4 a 1, na Fazendinha, em São Paulo, com o primeiro gol marcado por Bazani. Pela Taça São Paulo, em junho de 1962, a Ferrinha voltou a triunfar, vencendo por 2 a 0. Impressionados com a categoria daquele habilidoso meia-esquerda, dirigentes corintianos o contrataram. Ele concretizou um sonho, repetindo o caminho do pai, que atuou como zagueiro da equipe paulistana na década de 40.
O primeiro campeonato de Bazani pelo Corinthians foi o Torneio Rio-São Paulo de 1963. Estreou na derrota de 1 a 0 para o Palmeiras, dia 23 de fevereiro. Ele substituiu Rafael durante a partida. Seu primeiro jogo como titular aconteceu em 3 de março, na derrota de 2 a 0 para o Santos, com dois gols de Pelé. E a primeira vez que marcou com a camisa 10 do Timão foi na vitória de 2 a 0 sobre o Olaria, dia 21 de março, ainda pelo Rio-São Paulo, na sua quinta apresentação no clube mosqueteiro.
No famoso clássico Santos 7 x 4 Corinthians, Bazani lembra que começou bem e marcou gol, mas novamente o Pelé desequilibrou. "Contra o Corinthians ele entrava mais ligado. Parece que tinha raiva e desequilibrava mesmo", confessa.
Tudo ia bem até que no final de 1964 surgiu um moleque chamado Rivellino, que virou xodó da Fiel. A concorrência foi desleal. A torcida e a imprensa pressionaram pela escalação do novato e Rabi perdeu seu espaço, retornando à Ferroviária em junho de 1965.
Técnico e Supervisor
Sempre ligado à Ferroviária, Bazani exerceu as funções de técnico do amador, juvenil, juniores e profissionais. Campeão dos Jogos Abertos de 1977, Juniores de 1993, Quarto colocado no Paulistão, de 1985 e descobridor de talentos como Zé Roberto, Dama, Mauro Pastor, Marco Antônio, Donato, Sidnei Alástico, entre outros.
Observar os jogos dos adversários foi outra função que Bazani assumiu com eficiência, além de supervisionar as categorias da base. Em abril de 2007, o busto do Rabi, apelido que trouxe de Mirassol, foi entronizado na Fonte Luminosa por iniciativa da Prefeitura, por meio da Fundesport.
Uma família de esportistas
O pai Olivério Bazani foi atleta. Jogou no Mirassol e Corinthians, nas décadas de 30 e 40. O irmão Bazaninho marcou época no São Bento, de Sorocaba, e São Paulo FC. A irmã Nadir foi estrela do basquete atuando nos rivais: Corinthians e Palmeiras. Viúvo de Maria Inês, com a qual teve dois filhos:Lelo e Marinês, Bazani ainda teve Ana Carolina com a companheira Aparecida Becastro.
Obreiro do Bem
Convicto nos ensinamentos do espiritismo, Bazani freqüentou e colaborou com a entidade Obreiros do Bem por longos anos. Formado em Odontologia, pela Unesp de Araraquara, na turma de 1960, trabalhou por décadas no Hospital Caibar Schuttell atendendo aos internos.
Em 1998, Bazani recebeu o título de cidadão araraquarense para orgulho de sua mãe, a dona Catarina que prestigiou a solenidade cercada de toda família.
O legado insuperável
Bazani deixou um legado imensurável em realizações esportivas e sociais. Suas atuações em campo defendendo a Ferroviária com raça e amor. Números indiscutíveis e, com certeza, jamais serão superados: 244 gols em 758 jogos.
Trabalho voluntário no Hospital Caibar e no Centro Obreiros do Bem sempre voltado para ajudar ao próximo.
Amigos dentro e fora dos gramados. Um cidadão que amou esta terra.
Confira fichas técnicas abaixo.
Ferroviária 6 x 3 Botafogo - 1956
Ferroviária
Fia; Izan e Ferracioli; Dirceu, Pixo e Helcias Pirola; Paulinho, Cardoso, Gomes, Bazani e Boquita. Técnico: Clóvis Van Dick, o Capilé
Botafogo
Machado; Fonseca e Julião; Wilsinho, Oscar e Xorete; Laerte, Amorim, Brotero, Neco e Fernando. Técnico: não obtido.
Gols: Bazani (2), Cardoso (2) e Gomes (2) para a Ferroviária. Fernando, Amorim e Brotero para o Botafogo.
Juiz: Paulo Simões.
Renda: não obtida. Público: cerca de 20 mil pessoas.
Local: estádio da Fonte Luminosa, em Araraquara, domingo, 16/4/1956, na penúltima rodada do Campeonato Paulista da Segunda Divisão, quando a Ferroviária conquistou o acesso antecipado ao Paulistão.
Seleção Paulista 7 x 1 Seleção Baiana - 1960
Seleção Paulista
Gilmar dos Santos Neves; Zé Carlos, Olavo e Juths; Zito e Oreco; Dorval, Chinezinho, Coutinho, Bazani (Pelé) e Pepe. Técnico: Aimoré Moreira.
Seleção Baiana
Peri-Peri; Valvir, Henrique e Boquinha; Pinguela e Nelinho; Lai, Carlinhos, Léo, Haroldo e Biriba. Técnico: não obtido.
Gols: Pepe aos 3 minutos do 1º tempo. Pelé aos 3, aos 31 e aos 40, Pepe (pênalti) aos 6 e aos 44, Chinezinho aos 15, Biriba aos 34 minutos do 2º tempo.
Juiz: Eunápio de Queiroz.
Renda: Cr$ 1.075.400,00.
Público: não obtido.
Local: Pacaembu, em São Paulo, domingo, 24/1/1960, pelo Campeonato Brasileiro de Seleções, quando Pelé ficou na reserva de Bazani.
Corinthians 2 x 0 Olaria - 1963
Corinthians
Arlindo; Walmir, Eduardo e Ari Clemente; Amaro e Oreco; Marcos, Silva, Ney (Manoelzinho), Bazani e Lima (Rafael). Técnico: Fleitas Solich.
Olaria
Ari; Valtinho, Navarro e Casemiro; Haroldo e Edil (Mafra); Othon, Luís Carlos, Jaburu, Valdemar (Borges) e Roberto Peniche. Técnico: Duque.
Gols: Ney aos 18 e Bazani aos 40 minutos do segundo tempo.
Juiz: Amílcar Ferreira.
Renda: Cr$ 1.056.850,00.
Público: não obtido.
Local: Pacaembu, em São Paulo, quinta-feira, 21/3/1963, pelo Torneio Rio-São Paulo, quando Bazani marcou seu primeiro gol pelo Corinthians na quinta partida que ele disputou pelo Alvinegro.
Corinthians 1 x 4 Ferroviária - 1968
Corinthians: Diogo; Osvaldo Cunha, Almeida (Galhardo) (Clóvis). Luiz Carlos e Maciel; Tião, Tales e Rivelino; Buião, Paulo Borges e Eduardo. Técnico: Luiz alonso, o Lula.
Ferroviária: Machado; Baiano, Fernando, Rossi e Fogueira; Bebeto, Bazani e Maritaca; Valdir, Téia e Pio. Técnico: Diede Lamiero.
Gols: Maritaca, Almeida (contra), Teia, Bazani – AFE. Paulo Borges – Corinthians.
Árbitro: Oscar Scolfaro. Estádio Pacaembu. 1° /junho/1968. Renda: NCr$ 12.597,5. Campeonato Paulista, Primeira Divisão.
Ferroviária 4 x 1 Santos FC - 1971
Ferroviária
Carlos Alberto; Baiano, Fernando, Ticão e Zé Carlos; Muri e Ademir (Bazani), Tonho, Zé Luiz (Nicanor de Carvalho), Lance e Nei. Técnico: Almeida.
Santos
Cejas; Orlando Lelé, Paulo, Oberdan e Rildo; Clodoaldo (Lima) e Léo; Rogério, Ferreti, Pelé (Douglas) e Edu. Técnico: não obtido.
Gols: Lance, Zé Luiz, Bazani e Nei para a Ferroviária. Douglas para o Santos.
Juiz: José Favile Neto.
Renda: Cz$ 59.668.00.
Público: 22.164 pessoas.
Local: estádio da Fonte Luminosa, em Araraquara, domingo, 7/3/1971, pelo segundo turno do Paulistão.
Ferroviária 1 x 1 São Paulo FC - 1972
Ferroviária
Sérgio Bergantim (Lula); Mariani, Pádua, Ticão e Zé Carlos; Muri e Bebeto; Luizinho, Zé Luiz, Nicanor de Carvalho e Vágner. Técnico: Olivério Bazani Filho.
São Paulo
Sérgio Valentim; Pablo Forlan, Samuel, Arlindo e Gilberto Sorriso; Roberto Dias e Pedro Rocha; Paulo (Terto), Zé Carlos Serrão, Toninho Guerreiro e Paraná (Wilton). Técnico: Alfredo Ramos.
Gols: Luizinho para a Ferroviária e Toninho Guerreiro para o São Paulo.
Juiz: Wilmar Serra. Renda: Cz$ 93.254,00. Público: 11.074 pagantes.
Local: estádio da Fonte Luminosa, em Araraquara, dia 13 de agosto de 1972, pelo Campeonato Paulista, na estréia de Bazani como técnico da Ferrinha.
(Colaboraram: Ed Villa, Marcelo Cirino e Tetê Viviani)
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