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04/02/2010 - Causos da bola: Dívida com pai-de-santo não paga dá azar

Sem ganhar títulos há nove anos, o Náutico teve que pagar dívida com pai-de-santo para exorcizar a má fase.

Em 1962, o centro avante Bita pediu ao pai Edu que "trabalhasse" a sua carreira. No primeiro jogo após o pedido, um clássico contra o Sport, o atacante fez os dois gols da vitória do Náutico. Protegido pela mandinga do babalorixá, o time foi campeão de 1963 a 1966.

O craque do Náutico garantiu o Pai Edu, não foi nenhum jogador de carne e osso, mas a entidade Zepelintra, que transformava qualquer perna-de-pau em aspirante a Pelé. Assim, o Náutico foi colecionando títulos. Exigente, Zepelintra pedia que diretores do clube entornassem litros de cachaça em cultos de agradecimentos. Indignadas com as bebedeiras, às freiras do colégio onde estudavam filhos de dirigentes exigiram o afastamento do pai Edu.

"Deixei o clube, mas disse que o Náutico ia apanhar até me pedir perdão", conta o pai-de-santo. Após sete derrotas seguidas, os dirigentes resolveram voltar a consultar o babalorixá. "Foi prometido um boi caso eu fizesse o Náutico ser campeão". Em 1967, veio o pentacampeonato, mas nada da entrega do animal. No ano seguinte, quando o titulo já estava quase nas mãos do Sport, o pai-de-santo foi chamado outra vez. Ele faria o serviço, mas queria pagamento adiantado. "Só que mandaram um boi castrado e eu queria um boi inteiro", diz o babalorixá. Como já era dia da decisão, prometeram entregar um outro animal, sem cortes. O Náutico conquistou o hexacampeonato estadual, único titulo da história do futebol pernambucano, mas os dirigentes esqueceram de mandar o touro.

Por culpa da mandinga ou não, entre 1968 e 1998, o Náutico somente ganhou quatro títulos de campeão. No inicio de 1999, o caso da divida foi lembrado e, na esperança de esconjurar o mau-olhado, os diretores resolveram salda-la. Desta vez, Zépelintra não seria contemplado, mas o próprio Exu, mais poderoso e, por isso mesmo, mais caro. Fora o boi, foram entregues quatro bodes e oito galinhas. "Estamos nos livrando de um grande peso", disse o diretor Paulo Regueira, incubido da missão de fazer o pagamento redentor.

O Náutico pagou a divida, mas pai Edu e suas entidades não puderam saboreá-la. A mulher de um diretor do clube denunciou ao Ibama, entidade de proteção ao meio ambiente, que os animais seria sacrificados. A policia foi chamada e os bichos, salvos. "Mesmo sem o sacrifício, a divida foi paga e o time não corre mais risco nenhum" garante pai Edu.

Por culpa da mandinga ou não, os ventos começaram a soprar a favor do Náutico que fez uma boa campanha no campeonato de 1999. E uma semana depois do pagamento, um ladrão invadiu a sede do clube e abordou o presidente Josemir Correia. O ladrão tentou disparar um tiro contra a cabeça do presidente. Acredite, a arma falhou e o ladrão fugiu.


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