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03/02/2010 - Causos do Futebol: A grande jogada de Domingos da Guia

Na foto, Domingos da Guia com a camisa do Bangu



A grande jogada de Domingos da Guia foi num Flamengo e Botafogo, em Álvaro Chaves. Ele não gostava de se exibir ou, pelo menos, parecia que não gostava, que fazia apenas o indispensável. Só na hora em que deveria surgir, esticar o pé, fazer alguma coisa, é que se mexia, é que dava sinal de vida. Por isso saía de campo com a camisa enxuta, naquele passo de samba à valsa lenta. Nesse Botafogo e Flamengo foi diferente, fez questão de ser diferente. Também tinha levado a maior vaia de sua vida. Primeiro levou uma vaiazinha: rebateu uma bola para fora. O sócio do Fluminense achou que Domingos da Guia não podia rebater uma bola para fora, e embora fosse uma homenagem, Da Guia se ofendeu. Então fez um gesto feio para a social do Fluminense. Nem queriam saber. Para dar uma idéia: Mário Pólo exigiu, aos gritos, a prisão do Mestre Da Guia.

Domingos não foi preso. Antes dele outros jogadores tinham feito o mesmo gesto e ficaram soltos. Mas num Da Guia ninguém admitia isso. E ele compreendeu que tinha sido outro, que tinha se diminuído, que precisava voltar a ser, e imediatamente, o Mestre Da Guia. E foi o que ele fez. Pegou uma bola a um metro do gol do Flamengo, pisou nela e chamou todo ataque do Botafogo para cima dele. E lá foram os cinco, com Heleno na frente, Geninho foi último. A torcida do Flamengo virou o rosto. Nem queria ver. A do Fluminense é que olhava fascinada para o Domingos contra cinco. E Da Guia deu o primeiro drible de milímetros, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto. Depois estendeu um passe de cinqüenta metros para Vevé, lá na ponta esquerda.

A bola passou por cima das cabeças dos jogadores do Botafogo, que pularam e esticaram o pescoço o mais que podiam sem tocá-la. E lá foi a bola imaculada, cair feito um ramo de flores, aos pés de Vevé. Então Domingos da Guia se voltou para a social do Fluminense, perfilou-se, depois se curvou e estendeu o braço direito num daqueles cumprimentos rasgados que exigem um chapéu com penacho para varrer o chão. Todo viram a alta burguesia das Laranjeiras ficar de pé e aplaudir em palmas de queimar as mãos. Pois é: e parece que Domingos da Guia nunca existiu. Ninguém fala mais nele.


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