Na foto da capa, Oberdan em sua casa, na Vila Pompéia, em São Paulo, Oberdan possui um espaço reservado só para abrigar os 2 mil troféus que recebeu durante a sua carreira
Na foto da matéria, esquadrão Palmeirense de 1947: Formação palmeirense, campeã paulista de 1947. Da esquerda para a direita: Oberdan Cattani, Túlio, Turcão, Caieira, Valdemar Fiume, Zezé Procópio, Oswaldinho, Lula, Arturzinho, Lima e Canhotinho
Palmeiras sempre projetou grandes goleiros para o futebol brasileiro e mundial. Prestes a completar 91 anos de idade, uma lenda viva do Verdão é Oberdan Cattani, que nasceu em Sorocaba no dia 12 de junho de 1919 e defendeu o clube entre 1938 e 1954, conquistando o Paulistão cinco vezes (1940, 1942, 1944, 1947 e 1950). Também faturou a Taça Rio e o Torneio Rio-São Paulo, ambos em 1951. Oberdan penou antes de fazer fama no Parque Antártica. Sétimo filho dos 10 tidos pelo casal Ernesto e Cândida, ele deu duro desde a infância, a partir da morte prematura do pai. Foi entregador de jornal e motorista de caminhão. "Eu transportava legumes produzidos na região de Sorocaba até o Mercadão de São Paulo", recorda. Para espantar o estresse da dura semana de trabalho, Oberdan começou a jogar no gol do Fortaleza, do bairro Santa Rosária. Em seguida, foi para o São Bento, onde teve atuações destacadas. Empolgados, Athos - seu irmão mais velho -, e o ex-jogador Miguel Bascarelli, que tinham amizade com o presidente do então Palestra Itália, ヘtalo Adami, o indicaram para um período de testes. "Havia 15 goleiros na minha frente para serem avaliados."
A concorrência não o inibiu. Treinou e agradou. Aprovado, passou a integrar o segundo quadro (time aspirante) palestrino. "Sem ganhar nada", ressalta. A estréia dele ocorreu na goleada de 5 a 1 sobre o SP Railway, atual Nacional da Capital, no dia 3 de novembro de 1940, pelo Paulistão, lançado pelo técnico Caetano de Domênico. Ele substituiu Gijo, que sofrera uma contusão. Gijo ainda se recuperou e voltou ao time, participando dos demais jogos, inclusive da goleada de 4 a 1 sobre o São Paulo, na última rodada, que decretou o título para os palestrinos. "Fui campeão como reserva", diz. Na temporada seguinte, o moço de Sorocaba já era titular absoluto e acabou convocado pela seleção paulista para disputar o Campeonato Brasileiro de Seleções. A 2ェ Guerra Mundial obrigou a diretoria a mudar o nome do clube de Palestra Itália para Sociedade Esportiva Palmeiras, em 1942. Nenhuma agremiação poderia levar no nome ou nas cores qualquer apologia à Itália, país alinhado ao Eixo na Segunda Guerra Mundial - e considerada nação inimiga do Brasil, que se juntou aos aliados.
Pouco tempo depois, o Verdão foi campeão paulista ao ganhar de 3 a 1 do São Paulo, na rodada decisiva. Oberdan voltou a ser campeão dois anos depois, quando o Palmeiras bateu o Santos por 1 a 0, na Vila Belmiro. Colocou a terceira faixa no peito em 1947, após a vitória por 2 a 1, novamente diante do Santos, na Vila. Naquele ano, o Alviverde revelou o técnico Oswaldo Brandão. A quarta estrela do Paulistão foi obtida em 1950, com o empate de 1 a 1 frente ao São Paulo, no Pacaembu. O Verdão terminou com 32 pontos, contra 31 do Tricolor. Um ano depois, o Palmeiras foi campeão da Taça Rio, o Mundial Interclubes da época, mas que não é reconhecido pela Fifa. Oberdan jogou só a primeira fase, quando o Palmeiras venceu Olympique de Marselha por 3 a 0 e o Estrela Vermelha de Bucareste por 2 a 1, perdendo de 4 a 0 para a Juventus da Itália. Na semifinal, contra o Vasco, ganhou de 2 a 1 e empatou em 0 a 0. Na decisão diante da Juventus, o Verdão fez 1 a 0 e empatou em 2 a 2. Nos quatro últimos jogos, Fábio Crippa foi o goleiro titular. Disputou seu último jogo pelo Palmeiras no dia 7 de fevereiro de 1954, na última rodada do Paulistão de 1953, na derrota de 2 a 1 para o São Paulo, que havia conquistado o título antecipadamente. Oberdan defendeu a meta palmeirense em 351 jogos, com 207 vitórias, 76 empates e 68 derrotas, sofrendo 409 gols. Certa vez ficou nove partidas (810 minutos) sem levar gols.
Só um jogo contra o América
Durante a sua carreira, Oberdan Cattani jogou uma única vez contra o América de Rio Preto. Foi na vitória por 3 a 2, em jogo amistoso realizado no estádio Victor Brito Bastos, há 59 anos. Para ser mais preciso no dia 23 de janeiro de 1949. O goleiro do América era Tino. "Fiz grandes amigos no futebol e um deles é o Tino (professor Agostinho Brandi, que também jogou no Palmeiras, Rio Preto e outros clubes)." Com ótimas partidas pelo Palmeiras, Oberdan acabou convocado pela Seleção Brasileira. Estreou na esquadra canarinha na goleada de 6 a 1 sobre o Uruguai, em amistoso para homenagear a Força Expedicionária Brasileira (FEB), no dia 14 de maio de 1944, no estádio de São Januário, no Rio de Janeiro. Foram apenas nove jogos pela Seleção, com sete vitórias e duas derrotas. Poderia ter disputado as Copas de 1942 e 1946, mas com a 2ェ Guerra Mundial os campeonatos foram cancelados. Apesar de ter sido apontado como o melhor goleiro brasileiro da década de 1940, ele acabou preterido pelo técnico Flávio Costa, que não o convocou para o Mundial de 1950.
O treinador levou Barbosa e Castilho. "Ele (Flávio Costa) sempre deu preferência para os cariocas", diz Oberdan. Apesar de ser paulista de Campinas, Barbosa jogava no Vasco. "Foi a única frustração que tive na minha carreira", acrescenta. No Palmeiras, Oberdan também acabou renegado. Ignorando os 14 anos que ele havia dedicado ao clube, o presidente Pascoal Giuliano reduziu seu salário de 10 para 5 Contos de Réis por mês. O dirigente o considerava velho para permanecer. Indignado, Oberdan pegou suas malas e foi para o Juventus, onde disputou o Paulistão de 1954 e pendurou a chuteira. Aposentado e viúvo há 30 anos, Oberdan Cattani mora na Vila Pompéia, em São Paulo, e não dispensa momentos agradáveis junto dos filhos Valquíria, Mônica e Júnior, e dos três netos e um bisneto. "Estou de cama há uma semana por causa de dores no joelho esquerdo, mas nada preocupante", diz.
Fichas técnicas
São Paulo 1 x 3 Palmeiras
São Paulo
Doutor; Piolim e Virgílio; Lola, Noronha e Silva; Luizinho, Valdemar de Brito, Leônidas da Silva, Remo e Pardal. Técnico: não obtido.
Palmeiras
Oberdan Cattani; Junqueira e Begliomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio, Valdemar Fiume, Villadoniga, Lima e Echevarrieta. Técnico: Del Debbio.
Gols: Cláudio aos 19, Valdemar de Brito aos 24 e Del Nero aos 42 minutos do primeiro tempo. Echevarrieta aos 14 minutos do segundo tempo.
Árbitro: Jayme Rodrigues Janeiro.
Expulsão: Virgílio.
Renda: 231.239$000.
Público: 45.913 pagantes.
Local: Pacaembu, em São Paulo, dia 20/9/1942, na final do Paulistão, quando Oberdan conquistou seu primeiro título estadual, como titular.
Santos 0 x 1 Palmeiras
Santos
Joel; Jaú e Gradim; Nenê, Albertino e Antero; Cláudio, Antoninho, Otacílio, Eunápio e Motinha. Técnico: não obtido.
Palmeiras
Oberdan Cattani; Caieira e Osvaldo; Og Moreira, Dacunto e Gengo; Gonzales, Villadoniga, Caxambu, Lima e Jorginho. Técnico: Ventura Cambon.
Gol:Árbitro: João Etzel.
Renda: Cr$ 76.026,00.
Público: não obtido.
Local: Vila Belmiro, em Santos, dia 8 de outubro de 1944, quando Oberdan faturou seu segundo caneco no Paulistão.
Santos 1 x 2 Palmeiras
Santos
Renê; Dinho e Expedito; Nenê, Dacunto e Alfredo; Odair, Zeferino, Adolfrizes,
Antoninho e Leonaldo. Técnico: não obtido.
Palmeiras
Oberdan Cattani; Caieira e Turcão; Zezé Procópio, Túlio e Valdemar Fiume; Lula, Arturzinho, Osvaldinho, Lima e Canhotinho. Técnico: Oswaldo Brandão.
Gols: Turcão aos 12 e Arturzinho aos 36 minutos do primeiro tempo. Odair
aos 4 minutos do segundo tempo.
Árbitro: Francisco Kohn Filho.
Expulsão: Arturzinho.
Renda: Cr$ 102.738,00. Público: não obtido. Local: Vila Belmiro, em Santos, dia 28/12/1947, na última rodada do Paulistão, quando Oberdan levantou seu terceiro troféu do Estadual.
América 2 x 3 Palmeiras
América
Agostinho Brandi; Cai-Cai e Edgar; Pascoal, Pierre e Prates; Ernani, Arnaldo (Fordinho), Miranda, Milton e Tite. Técnico: Zezinho Silva.
Palmeiras
Oberdan Cattani; Turcão e Gengo; Og Moreira, Gengo e Valdemar Fiume; Lula, Xavier, Washington, Renato (Harry) e Lombardini. Técnico: Ventura Cambon.
Gols: Xavier e Ernani no primeiro tempo. Xavier, Renato e Miranda
no segundo tempo.
Árbitro: Pedro Ricci.
Renda: Cr$ 84 mil.
Público: não obtido.
Local: estádio Victor Brito Bastos, em Rio Preto, dia 23 de janeiro de 1949, em jogo amistoso, na única vez que Oberdan enfrentou o América.
Brasil 9 x 2 Equador
Brasil
Oberdan Cattani; Domingos da Guia e Nilton; Bigüá, Rui e Alfredo; Tesourinha (Jorginho), Zizinho, Heleno de Freitas, Jair Rosa Pinto e Ademir Menezes.Técnicos: Flávio Costa e Joreca.
Equador
Medina (Suárez); Henríquez (Villagoméz) e Zurita; Luiz Mendonza, Alvarez e Mejia; Montenegro, Jiménez, Albornoz, Aguayo e Mendonza. Técnico: não obtido.
Gols: Zizinho (2), Ademir Menezes (3), Heleno de Freitas (2), Jair Rosa Pinto (2), Albornoz e Aguayo.
Árbitro: Bartolomeu Macias (Argentina).
Renda e público: não obtidos.
Local: estádio Nacional de Santiago do Chile, dia 21/12/1945, pelo Campeonato Sul-Americano, atual Copa América.
Palmeiras 1 x 1 São Paulo
Palmeiras
Oberdan Cattani; Turcão e Palante; Valdemar Fiume, Luís Villa e Sarno; Lima, Canhotinho, Aquiles, Jair Rosa Pinto e Rodrigues. Técnico: Ventura Cambon.
São Paulo
Mário; Savério e Mauro Ramos de Oliveira; Bauer, Rui e Noronha; Dido, Remo, Friaça, Leopoldo e Teixeirinha. Técnico: Vicente Feola.
Gols: Teixeirinha aos 3 minutos do primeiro tempo e Aquiles aos 16 minutos do segundo tempo.
Árbitro: Alwyn Bradley.
Renda: Cr$ 855.922,00.
Público: não obtido. Local: Pacaembu, em São Paulo, dia 28 de janeiro de 1951, na última rodada do Paulistão, com Oberdan abocanhando seu quarto título estadual, como titular
|