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18/01/2010 - O folclore e carisma de João Avelino

Por: Edwellington Villa, São Jose do Rio Preto
Na foto da capa, na inauguração do Teixeirão, Avelino (de vermelho) foi um dos convidados de honra do presidente Benedito Teixeira, o Birigüi, que na foto está de mãos dadas com o neto Juliano


Na foto da matéria, Comissão técnica responsável pela quebra do tabu de 23 anos sem título e que tornou-se inesquecível para a "nação corintiana" ao faturar o Campeonato Paulista de 1977. A partir da esquerda: João Avelino (auxiliar), Oswaldo Brandão (treinador) e os fisicultores José Teixeira e Benê Ramos


João Avelino Gomes morreu no dia 24 de novembro, aos 77 anos, em decorrência do Mal de Alzheimer. O carismático técnico escreveu uma bela página na trajetória das equipes de Rio Preto. Foi treinador do Rio Preto em 1958, 1960, 1967 e 1987 e criou laços afetivos com o América, onde trabalhou por 11 temporadas. Em 1956, o presidente Délcio Bellini comandou o time em alguns jogos, mas entregou o posto para Lázaro de Melo, o Bindo. Porém, a equipe não decolou e João Avelino, aos 27 anos de idade, foi contratado. Num dos primeiros duelos sob sua batuta, o América perdeu de 6 a 2 para o Palmeiras em jogo amistoso que serviu como pagamento do passe do zagueiro Martin Mansano, que havia sido vendido pelo Rubro ao clube da Capital.

Aos poucos, a célebre formação com Vilera; Xatara e Fogosa; Adésio, Bertolino e Ambrózio; Cuca, Leal, Colada (Dozinho), Oscar e Orias, assimilou suas orientações e deslanchou. Teve o mérito de conduzir a agremiação rio-pretense ao inédito título da Segunda Divisão, que lhe garantiu o direito de disputar o Paulistão de 1958. Em 15 de abril de 1958 trocou o Vermelhinho pelo Rio Preto. Cinco dias depois, estreou perdendo o derby da cidade por 3 a 2, em jogo amistoso. No dia seguinte, as duas equipes voltaram a se enfrentar, com empate de 1 a 1. Avelino cansou de reclamar para a diretoria do Verdão sobre os materiais velhos e rasgados utilizados nos treinos e jogos. Como não era atendido, pediu para o roupeiro Serafim de Andrade "fazer um serviço" na cidade. Com o caminho aberto, entrou na rouparia, colocou fogo em tudo e obrigou os cartolas a comprarem novas camisas, calções, meiões e chuteiras.

Em agosto de 1958, deixou o Rio Preto e voltou ao América durante o Paulistão para o lugar de Zezinho Silva, que havia sucedido o argentino Filpo Nuñez. Ficou até setembro do ano seguinte, quando entregou o posto para Pedrinho Rodrigues. Depois de peregrinar por outras bandas, retornou ao Rio Preto em 1960, mas no dia 1º de outubro deixou o clube esmeraldino tentado por uma proposta de Cr$ 100 mil de luvas e Cr$ 300 mil de salários mensais, feita pela Ponte Preta. Entretanto, sua passagem foi curta na equipe campineira. Dois meses depois, lá estava ele de volta ao seu antigo reduto. Foi contratado pelo América para o lugar do demitido Conrado Ross. Chegou para o triangular da morte, a fim de tentar evitar o rebaixamento à Segundona. Porém, naufragou. Juventus e Corinthians, de Presidente Prudente, se salvaram da queda e o Rubro caiu.

Novas andanças do "velho cigano" até 1963 quando reapareceu no comando do América para levar o time ao vice-campeonato da Segundona. Perdeu a final para o São Bento, de Sorocaba. Depois disso, ficou distante dos clubes rio-pretenses por quatro anos. Dia 29 de março de 1967, o "71" - apelido que carregou durante toda a carreira (era seu número no curso do Senai) - reassumiu o Jacaré. O "Velho Mestre" desapareceu da cidade por 16 anos. Neste período, trabalhou na Portuguesa, Nacional da Capital, Guarani de Campinas, São Bento de Sorocaba, entre outras equipes. Na Lusa, perdeu o emprego ao agredir o árbitro Romualdo Arpi Filho. Integrou a comissão técnica encabeçada por Oswaldo Brandão, que levou o Corinthians ao título do Paulistão de 1977, quebrando um jejum de 23 anos. Regressou ao América em 27 de julho de 1983 para substituir o gaúcho Ernesto Guedes. O time da Vila Santa Cruz estava na lanterna, mas Avelino conseguiu tirá-lo do sufoco e evitar sua queda. Ainda dirigiu o Rubro em outras ocasiões, como 1986, 1987 e 1992.

Despediu-se do América em 1992
Em 1992, último ano em que trabalhou no América, durante o Paulistinha, a passagem de João Avelino ficou mais marcada pelas polêmicas do que pelo desempenho da equipe em campo. Foi apresentado na quinta-feira, 8 de outubro de 92, em substituição a Roberto Brida. De cara, demitiu o preparador físico Renato Cabral e arrumou a maior confusão. Irritado, o fisicultor chamou Avelino de traíra, ameaçou sair na porrada e até partiu pra cima do treinador empunhando uma arma. Com Cabral fora do clube e os ânimos serenados, "71" estreou perdendo de 1 a 0 para o Novorizontino, em Novo Horizonte, dia 10 de outubro. Depois, seguiram-se mais três derrotas para Mogi Mirim (2 a 0, com um dos gols de Rivaldo), Marília (3 a 2) e Olímpia (3 a 1). Pegou o time em 7º lugar, deixou em 11º e, sem chances de classificação, abandonou o barco. Benedicto Ambrózio cumpriu tabela nas duas últimas rodadas.

Entre muitas superstições e inovações, implantou o treino coletivo sem bola. Ele cantava as jogadas e o atleta simulava estar com a bola. O ponta tinha que ir à linha de fundo e simular o cruzamento. O centroavante fingia driblar um oponente ou finalizar a gol. Os obedientes boleiros cumpriam à risca a maluquice do treinador, copiada posteriormente por outros profissionais. Avelino sofria do Mal de Alzheimer desde 2000, quando passou a receber cuidados especiais da esposa, dona Yneida. Pelo folclore, catimba e sabedoria, ele deixa seu nome sacramentado para sempre no futebol brasileiro.


FICHAS TÉCNICAS



América 2 x 6 Palmeiras


América
Loirinho (Paulo); Osório (Alicate) e Chaim; Tam, Bertolino e Xatara; Cuca (Colada), Nilsinho (Orias), Mingo (Dozinho) e Titio. Técnico: João Avelino.


Palmeiras
Nivaldo (Vitor); Dema (Ismael) e Martin (Joel); Antoninho, Valdemar Carabina e Gérsio (Saporito); Renato (Nei), Nestor (Silva), Ivan, Mazzola e Colombo. Técnico: Aymoré Moreira.

Gols: Colombo aos 5 e Mazzola aos 8 minutos do 1º tempo. Titio aos 5, Mazzola aos 7, aos 12 e aos 25, Dozinho aos 14 e Colombo aos 18 minutos do 2º tempo.
Juiz: Mário Nogueira. Renda: não obtida. Local: estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, dia 7 de setembro de 1956, em amistoso, numa das primeiras partidas de Avelino comandando o América.


Rio Preto 1 x 1 América


Rio Preto
Dimas; Loca e Pádua; Brandão (Valter), Nino e Vavá; Alencar, Bacurau, Brotero, Nilsinho e Mauro (Joãozinho). Técnico: João Avelino.


América
Vilera; Bertolino e Fogosa; Adésio, Julinho e Ambrózio; Cuca, Elias (Ney), Dozinho, Colada e Élio Calhado (Hudson). Técnico: Zezinho Silva.

Gols: Brandão no primeiro tempo e Colada no segundo tempo.
Juiz: Antônio de Carvalho.
Expulsões: Nino, Ney e Ambrózio.
Renda: não obtida.
Local: estádio Victor Brito Bastos, em Rio Preto, dia 21 de abril de 1958, em amistoso, no segundo jogo de João Avelino como treinador do Rio Preto.


América 0 x 0 Santos


América
Valô; Edson Oliveira, Orlando Fumaça, Jorge Lima e Daniel; Ademilson, Paulinho Criciúma e Toninho; Tita, Roberto Biônico e Baroninho. Técnico: João Avelino.


Santos
Marola; Paulo Robson (Serginho II), Davi, Fernando e Gilberto Sorriso; Betão, Lino e Pita; Paulo Isidoro, Serginho Chulapa e Careca.
Técnico: Chico Formiga.

Juiz: Ilton José da Costa.
Renda: Cr$ 8.530.900,00.
Público: 11.905 pagantes.
Local: estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, dia 4 de agosto de 1983, pelo 1º turno do Paulistão, na volta de João Avelino ao América após 20 anos ausente do clube.


Olímpia 3 x 1 América




Olímpia
Privatti; Gilson, Varta, Marcelo Feltrini e Genilson; Miel, Luís Carlos (Renato), Zimerman e Marco Antônio Cipó; Rogério e Cássio (Trigo).
Técnico: Pinho.


América
Nasser; Renato Cruz, Amaral Roberto Fonseca e André Barbosa; Badan, Tobias e Cleomar; Clóvis, Robinho e Coutinho. Técnico: João Avelino.

Gols: Rogério aos 15 minutos do 1º tempo. Coutinho aos 16 e Cássio aos 33 e aos 44 minutos do 2º tempo. Juiz: Luiz Carlos dos Santos. Renda: Cr$ 9.655,00.
Público: 2.208 pagantes. Local: estádio Tereza Breda, em Olímpia, quarta-feira, 21 de outubro de 1992, pela 24ª rodada do Paulistinha, na última vez em que João Avelino dirigiu o América.



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