Na foto da capa, Marcelo nos dias atuais guarda com carinho uma camisa do América da época em que jogava. Ele trabalha como vigilante bancário, tem quatro filhos e mora no bairro Dom Lafayete, em Rio Preto
Na foto da matéria o time do Taquaritinga Campeão da 2ª Divisão de 1982 e que subiu para o Paulistão. De pé: Orlando Bianchini (técnico), Nelson, João Luís, Cidão, Cássio, Gelson, João Carlos, João Marcos, André, Nilton (preparador de goleiros) e José Luís Pati (fisicultor); sentados: Tatinho, Marcelo, Toninho, Braguinha, Roberlei, Nascimento, Vagner, Vicente, Nenê e o massagista José
Meia-esquerda habilidoso, que fazia lançamentos primorosos para os atacantes, cobrava faltas com perfeição e chamava a responsabilidade, cadenciando o ritmo do jogo quando o placar já era favorável e o adversário pressionava. Estas eram as principais características de Marcelino Pacífico Peres Pinhel, uma das maiores revelações do América na década de 1970. Marcelo começou a mostrar seu talento entre garotos na escolinha de futebol do Palestra, dirigida por Roberto Chueiri. Aos 12 anos de idade dividia seu tempo entre treinos e jogos da equipe com o trabalho de ofice-boy nas Casas Regente. Em 1973, aos 15 anos, recebeu convite do técnico Francisco Rosati para treinar no dente de leite do América. Ainda franzino e no meio de garotos com mais idade, ajudou o Vermelhinho a conquistar o título do Juvenil do Interior, em 1974. Foi crescendo e aprendendo nas categorias de base do clube. Disputou duas edições da Taça São Paulo de Futebol Júnior (sub-20) em 1977 e 1978.
Após a competição na Capital foi promovido pelo técnico Orlando Peçanha e passou a treinar com os profissionais durante a Taça de Ouro (Brasileirão) de 1978. Chegou a ficar no banco em alguns jogos do Paulistão no segundo semestre, já sob a batuta de Barbatana. Como estava arrebentando nos treinos, o comandante decidiu escalá-lo desde o início da partida contra o Corinthians, no Pacaembu, dia 21 de setembro de 1978, pelo primeiro turno do Estadual. O Timão, do técnico José Teixeira, contava com Sócrates, Biro Biro, Romeu Cambalhota, Rui Rei, Wladimir, Amaral, o goleiro Jairo, entre outros. O América perdeu de 1 a 0, gol de Biro Biro, aos 35 minutos do segundo tempo. Para não queimá-lo diante da torcida, Barbatana procurava colocá-lo como titular nos duelos fora de casa contra os grandes. Também atuou na derrota de 1 a 0 para o São Paulo, no Morumbi, dia 5 de outubro, gol do centroavante Milton.
Estava começando a engrenar no time até sofrer uma contusão no joelho na derrota de 2 a 1 para o Palmeiras, no Parque Antártica, no dia 10 de fevereiro de 1979, ainda pelo Paulistão de 1978. Naquela época, o calendário do futebol brasileiro era uma bagunça. Quando ele saiu, o jogo estava 1 a 1. Marcelo se recuperou da lesão e firmou-se na equipe a partir do Paulistão de 1979. O Rubro tinha Gerson Andreoti, Paulo Luciano, Cléo e Serginho Índio para o meio-campo. Mesmo novato, Marcelo sempre era escalado pelo técnico Wilson Francisco Alves, o Capão. Um duelo inesquecível para ele foi a vitória de 2 a 0 sobre o Santos, no estádio Mário Alves Mendonça, no dia 8 de julho de 1979. Foi a primeira partida no Interior dos ‘Meninos da Vila’, que haviam conquistado o título paulista do ano anterior. A equipe santista formava com Pita, Nilton Batata, Juari, João Paulo, entre outros.
Com toques geniais e lançamentos milimétricos, Marcelo colaborou para que Luis Fernando Gaúcho terminasse na artilharia do Estadual, com 21 gols, cinco a mais que Rubens Feijão, do Santos. Naquela competição, o Rubro obteve 16 vitórias, 16 empates e sofreu 11 derrotas. Marcou 42 gols e levou 33. O armador também disputou a Taça de Ouro e o Paulistão de 1980 pelo América. Ficou na Vila Santa Cruz até o início de 1981, participando da Taça de Prata (equivalente hoje ao Brasileiro da Série B). Uma das suas últimas partidas foi a derrota de 2 a 1 para o Palmeiras, no Palestra Itália, em 11 de janeiro de 1981.
Subiu de divisão no CAT e Mirassol
Depois de sete anos dedicados ao América - incluindo as categorias de base e o profissional -, Marcelo acabou emprestado no início de 1981 para o Fernandópolis, integrante da Segunda Divisão (atual Série A-2). "Recebi um convite do Wilson Luiz (Bocão) e fui pra lá." O Fefecê montou uma filial do América e, além de Marcelo, levou por empréstimo o zagueiro Mauro e o volante Beline. Wilson Luiz e o meia Beto Rocha já estavam no clube da região, comandado pelo técnico José Carlos Fescina. No segundo semestre de 1981, Marcelo trocou o Fernandópolis pelo Noroeste, a convite do técnico Luis Carlos de Oliveira, o Bolão. "Cheguei na segunda fase do Paulistão e machuquei o joelho esquerdo contra a Portuguesa. Fiquei 40 dias parado", diz. "O Noroeste já estava numa situação ruim no campeonato e acabamos rebaixados."
Em 1982, Marcelo deu a volta por cima ao ajudar o Taquaritinga a ser campeão da Segunda Divisão (A-2). O quadrangular final foi disputado por Bragantino, Mogi Mirim, Araçatuba e o CAT, que se enfrentaram em dois turnos no Parque Antártica, em São Paulo. "Foi a primeira vez que o Taquaritinga subiu para o Paulistão", recorda. Marcelo diz que não recebeu um centavo pelo acesso. "Nem faixa de campeão." Ainda vinculado ao América, o armador foi emprestado ao Noroeste em 1983. "Chegamos às finais da Segundona, mas não subimos", descreve. Em 1984 disputou a Segunda Divisão pelo Rio Preto, que era dirigido por Wilson Francisco Alves. No ano seguinte foi vice-campeão da Terceira Divisão com o Mirassol e subiu para a Segundona. O Leão ganhou o triangular final do Interior, que reuniu ainda Oeste de Itápolis e Tupã, mas perdeu a decisão do título para o Grêmio Mauaense, vencedor do grupo da Grande São Paulo.
Em 1986, Marcelo esteve no Tupã e no Penapolense, mas acabou assinando contrato com o Brasil, de Buritama, integrante da Terceirona e orientado por Mané Mesquita, um de seus treinadores nas categorias de base do América. "Comecei a trabalhar no escritório da loja de eletrodomésticos do Tarraf e nem treinava. Só ia lá aos domingos para jogar", informa o ex-meia. Decepcionado com o futebol, Marcelo parou de jogar e dedicou-se ao emprego. Ficou no Grupo Tarraf até 1994. A empresa fechou e dois anos depois ele fez curso de vigilante bancário, sua profissão até hoje. Nascido em Rio Preto no dia 15 de janeiro de 1958, Marcelo é casado com Gisele Cristina desde 1995. Pai de Tatiane, Patrícia, João Vitor e Gabriel, ele mora no bairro Dom Lafayete e ainda joga futebol com os amigos da Igreja do Evangelho Quadrangular.
FICHAS TÉCNICAS:
AMÉRICA - 1
Edson; Paulinho (Luiz Barros), Sommer, Mauro e Ademir Gomes; Zico, Tadeu e Marcelo; Arlen, Iaúca (Heleno) e Silvinho. Técnico: Barbatana.
SÃO PAULO - 1
Valdir Peres; Getúlio, Marião, Bezerra e Osmar; Tecão, Muricy Ramalho (Vilson Tadei) e Dario Pereyra; Edu (Valtinho), Milton e Zé Sérgio. Técnico: Rubens Minelli.
Gols: Marcelo aos 5 e Milton aos 41 minutos do primeiro tempo. Árbitro: Romualdo Arpi Filho. Renda: Cr$ 370.410,00. Público: 11.262 pagantes. Local: estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, dia 18 de fevereiro de 1979, pelo Paulistão de 1978.
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AMÉRICA - 2
Luís Fernando Calori; Berto, Mauro, Jorge Lima e Ademir Gomes; Serginho Índio, Paulo Luciano (Arlen) e Marcelo; Marinho, Luis Fernando Gaúcho (Gerson Andreoti) e Cândido. Técnico: Wilson Francisco Alves.
SANTOS - 0
País; Nelsinho Baptista, Joãozinho, Antônio Carlos e Gilberto; Zé Carlos (Célio), Toninho Vieira e Claudinho (Rubens Feijão); Nilton Batata, Juari e João Paulo. Técnico: Formiga.
Gols: Serginho Índio aos 3 e Luis Fernando Gaúcho aos 14 minutos do segundo tempo. Árbitro: João Leopoldo Ayeta. Renda: Cr$ 994.880,00. Público: 19.123 pagantes. Local: estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, dia 8 de julho de 1979, pelo 1º turno do Paulistão.
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