Por: Edwellington Villa, São Jose do Rio Preto
Na foto da capa Dicão no estádio Cláudio Rodante, em Fernandópolis, cidade onde mora com a mulher Nanci. Aposentado, ele é pai de Oswaldo Júnior, Marilisa e Luis Fernando
Na foto da matéria o Botafogo, campeão da Segunda Divisão de 1956 e que garantiu o inédito acesso ao Paulistão. De pé, a partir da esquerda: Galdino Machado, Julião, Fonseca, Dicão, Mário e Gil; agachados: Noca, Moreno, Ponce, Neco, Guina e o massagista Mascaro
Versátil e soberano na área, Dicão foi um jogador raçudo, que marcava duro, mas sempre com lealdade, e fez sucesso defendendo o Rio Preto e o América. Nascido em Pindorama no dia 17 de fevereiro de 1931, Oswaldo Iembo começou a carreira como zagueiro do Verdão em 1950 e logo na primeira temporada foi campeão do Amador da cidade. No ano seguinte, estava jogando basquete pelo Automóvel Clube quando foi chamado para disputar o Amador do Estado pelo Gema de Monte Aprazível. A formação do time, ele lembra como se fosse hoje. "Hercílio; Baguinho e Keme; Gajo, Dicão e Zunzun; Orlando Maia, Luciano, Orias, Laguna e Pé-de-pato", escalou. "Fizemos uma boa campanha." Em 1952, Dicão recebeu convite para jogar no Votuporanga Esporte Clube em troca de um emprego na prefeitura da cidade. Num amistoso contra o América, o VEC venceu por 2 a 1 e o "xerifão" arrebentou. "No mesmo dia eu e o Orias (ponta-esquerda que depois atuou no Palmeiras) viemos para o América", informa.
Ainda sob um regime amadorista, Dicão fez alguns jogos também pelo Fluminense, da Vila Ercília. Em 1954, ficou seis meses no XV de Piracicaba, emprestado pelo América por Cr$ 20 milhões. Retornou da equipe piracicabana e disputou a Segundona de 1954/55 pelo Rubro. Na sua vida futebolística, Dicão criou laços afetivos com América e Rio Preto. Além de jogar, ele também foi treinador dos dois clubes da cidade. Quando pendurou a chuteira, em 1961, foi auxiliar técnico de João Avelino no Rubro. Retornou ao clube em 1972, como supervisor, cargo que ocupou por cinco anos. Em 1977, foi o treinador do time durante alguns meses entre idas e vindas de Luiz Carlos Peters, Urubatão Calvo Nunes e Chiquinho. Em 1963, comandou o Rio Preto na conquista da Segunda Divisão (atual A-3) e o acesso à Primeirona (A-2). Foi o primeiro título expressivo na história da agremiação. Retornou ao Jacaré 18 anos depois. Também treinou outras equipes e foi campeão da Segundona pelo Fernandópolis em 1979.
Herói do Botafogo vai parar no Porto
Depois de atuações marcantes pelo América, Dicão foi contratado pelo Botafogo em maio de 1956. Ele se destacou na goleada do Rubro sobre o time ribeirão-pretano por 6 a 1, com três gols do ponta-direita Cuca, no estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto. Os destinos do Botafogo e de Dicão estavam traçados. Símbolo de raça, o jogador virou herói do Tricolor, ao marcar o gol do título da Segunda Divisão de 1956, na vitória sobre o Paulista, de Jundiaí, por 1 a 0, no Parque Antártica, em São Paulo. O lance daquela tarde de 10 de fevereiro de 1957 não sai de sua memória. "O Noca cobrou uma falta da ponta-direita. A bola bateu na trave e veio ao meu encontro. Completei de cabeça e ela entrou no cantinho", relata. Naquela campanha inesquecível, o Botafogo disputou 23 jogos, com 18 vitórias, três empates e duas derrotas. Ficou invicto 18 partidas até perder para o São Bento por 2 a 0, em Sorocaba, na penúltima rodada da segunda fase.
Venerado pela torcida, Dicão permaneceu no clube mais dois anos. "Ficamos em quarto lugar no Paulistão de 1957 e em quinto no ano seguinte", relembra o ex-jogador. Depois de uma passagem pelo Palmeiras, ele retornou ao Botafogo. O treinador Otto Vieira, que o conhecia e estava no Porto, assistiu a vitória do Botafogo sobre a Portuguesa por 4 a 2, no Canindé, e o levou para o clube lusitano. Apresentou-se no dia 7 de agosto de 1960 e assinou contrato até 31 de julho de 1962. Titular absoluto da lateral-esquerda, retornou em março de 1961 ao sofrer uma contusão no joelho direito. Após curto período de inatividade, Dicão voltou a treinar no América, mas disputou apenas alguns amistosos. O Porto não liberou seu passe e ele encerrou a carreira, aos 30 anos.
Jogador foi campeão paulista pelo Palmeiras em 1959
A regularidade de Dicão chamava a atenção de grandes clubes desde quando jogava no América, mas só após o seu bom desempenho pelo Botafogo, ele acabou tendo a oportunidade de se transferir para o Palmeiras. "A idade estava avançando e eu precisava ganhar mais dinheiro. Depois de recusar várias propostas, finalmente o Botafogo concordou em me negociar com o Palmeiras", comenta. Estreou na equipe palmeirense numa curta excursão ao Nordeste. Ficou no banco e não participou dos dois primeiros duelos contra o Santa Cruz (vitória por 4 a 2) e Sport (derrota por 1 a 0), ambos na Ilha do Retiro, em Recife. Entrou pela primeira vez na partida diante do Bahia (vitória por 2 a 1), no domingo, 7 de junho de 1959, na Fonte Nova, em Salvador, ao substituir o lateral Edson. Foi titular pela primeira vez na derrota de 2 a 0 para o Ypiranga, também na Fonte Nova.
Começou o Paulistão como titular no empate de 2 a 2 com o Palmeiras, em Ribeirão Preto. Dicão não tinha uma seqüência de jogos e achou que estava sendo perseguido pelo técnico Oswaldo Brandão. Mesmo assim, ajudou o Verdão a conquistar o título paulista de 1959, mas não atuou nos três jogos decisivos contra o Santos (dois empates -1 x 1 e 2 x 2 - e na vitória de 2 a 1), realizados em janeiro do ano seguinte. Entre 1959 e 1960, Dicão não marcou nenhum gol nos 31 jogos que disputou pelo Palmeiras. Foram 19 vitórias, seis empates e seis derrotas. Sua última aparição com a camisa esmeraldina ocorreu na goleada de 5 a 3 sobre o Independiente, em amistoso disputado na sexta-feira, dia 1º de abril de 1960, em Buenos Aires. Os atritos com Brandão se acentuaram e Dicão decidiu retornar ao Botafogo.
FICHAS TÉCNICAS:
América - 3
Barrela; Xatara e Martin; Tuca (Eraldo), Aldo (Bertolino) e Dicão; Cuca, Paulinho, Dozinho, Lero e Orias. Técnico: Lázaro de Melo, o Bindo.
Palmeiras - 1
Vilera (Fábio); Belmiro (Manoelito) e Waldir; Nicolau, Waldemar Fiúme (Waldemar) e Gérsio; Renato (Mangaratiba), Ivan (Humberto), Ney, Jair Rosa Pinto (Mazzola) e Rodrigues (Bernardes). Técnico: Cláudio Cardoso.
Gols: Xatara (contra), Orias, Nicolau (contra) e Cuca. Árbitro: Adino Paschiera. Renda e público: não obtidos. Local: estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, domingo, dia 25 de setembro de 1955, em jogo amistoso, quando Dicão já se destacava no América. Pela vitória, o Rubro conquistou a Taça "Nelson Duque".
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Botafogo - 1
Galdino Machado; Fonseca e Julião; Mário, Dicão e Gil; Noca, Moreno, Ponce, Neco e Guina. Técnico: José Agnelli.
Paulista - 0
Nicanor; Peter e Negro; Alvair, Barizon e Pando; Dorival, Bazão, Osvaldinho, Benê e Paulistinha. Técnico: não obtido.
Gol: Dicão aos 30 minutos do primeiro tempo. Árbitro: Ariovaldo Pereira dos Santos. Renda: Cr$ 567.710,00. Público: não obtido. Local: Parque Antártica, em São Paulo, no dia 10 de fevereiro de 1957, no 3º jogo das finais do Campeonato Paulista da Segunda Divisão, quando o Botafogo conquistou o acesso inédito, com o gol marcado por Dicão.
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