Por: Edwellington Villa, São Jose do Rio Preto
Na foto da Capa o time de Orlandia que disputou a 3ª Divisão (atual Série B) de 1980. De pé: Baleia (treinador), Moacir, Maurício, Daniel, Rubinho, Escambau, Laurinho e Maninho (presidente); agachados: Kelé, Serginho, Diquinho, Márcio e Mauro
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Na foto da matéria o time do América que venceu o Palmeiras por 2 a 0, no dia 12/8/1984, pelo Paulistão. De pé: Paulo Martins, Nena, Orlando Fumaça, Jorge Lima, Daniel e Paulo César Borges; agachados: Ilton, Formiga, Tarciso, Toninho e Vilmar
Hoje em dia é muito raro um jogador criar raízes num clube, diferentemente do que ocorria até a década de 1980, quando a maioria dos atletas declarava amor à agremiação que o projetava. Ao longo dos 63 anos de sua história - completados na quarta-feira passada -, o América contou com profissionais arraigados, que se tornaram até um patrimônio. Um deles foi o lateral-esquerdo Daniel, que chegou à Vila Santa Cruz no dia 25 de janeiro de 1981 e por lá ficou oito anos. Considerado o melhor lateral do Campeonato Paulista da Terceira Divisão (atual Série B) de 1980 pelo Orlândia, na região de Ribeirão Preto, Daniel foi indicado pelo meio-campista Paulinho Jaú - amigo e vizinho em Guará, cidade localizada na Alta Mogiana -, que já estava no Rubro. Com 70 quilos distribuídos em 1,83m de estatura, Daniel era um lateral leve que aprontava muita correria. A primeira vez que vestiu a camisa do Vermelhinho foi no jogo inaugural do campo da sede urbana do Palestra, contra a equipe palestrina. Em confrontos oficiais, ele estreou na vitória por 1 a 0 sobre o São Bento, no estádio Mário Alves Mendonça, no dia 5 de abril de 1981, pelo mata-mata classificatório para a fase final do Torneio Seletivo do Paulistão.
Daniel entrou no final da partida no lugar do atacante Ricardo, autor do gol, para recompor a defesa. O árbitro Roberto Nunes Morgado havia expulsado o zagueiro Ailton Silva e o lateral Berto e o Rubro estava com dois jogadores a menos em campo. Começou como titular pela primeira vez no duelo de volta, em Sorocaba, quando houve empate em 1 a 1 e o time rio-pretense garantiu a classificação. Firmou-se na posição e depois de grandes atuações, no final de 1984, o Palmeiras queria comprá-lo. O negócio, entretanto, não foi concretizado. A direção palmeirense ofereceu uma troca por alguns jogadores, enquanto o presidente americano, Benedito Teixeira, pediu Cr$ 250 milhões e não tirou um centavo. Atlético-MG, Grêmio e Bahia também fizeram propostas, mas não conseguiram tirá-lo do América. Até que em junho de 1986, Birigui concordou fazer uma troca por empréstimo com o São Paulo. Por ele, o Tricolor, que era a base da Seleção Brasileira, cedeu o meia Pianelli e o atacante Marcelo por um ano. Daniel não imaginava, porém, que fosse ter raras oportunidades de jogar. Na época, o titular da posição era Nelsinho, capitão do time e uma espécie de Rogério Ceni de hoje (não se machucava e não levava cartão). Daniel integrou o elenco campeão brasileiro de 1986, mas jogou apenas uma partida, na goleada de 5 a 0 sobre o Joinville, no Morumbi, quando Nelsinho cumpriu suspensão pelo terceiro cartão amarelo. "O maior problema foi que o técnico Cilinho tinha pedido a minha contratação e brigou com a diretoria por ter deixado o Falcão no banco", recorda Daniel. "O Cilinho foi embora e aí eu tive poucas chances com o Serrão (que assumiu interinamente) e com o Pepe." Depois da passagem pelo São Paulo, Daniel voltou ao América e ainda disputou mais três edições do Paulistão, em 1987/88/89.
Começou no Orlândia e atuou em mais 2 times
A carreira de Daniel tem uma curiosidade: ele nunca atuou em categorias de base. Disputava amistosos pelo time amador de Guará, onde nasceu no dia 29 de setembro de 1958, até ser descoberto pelo meio-campista Guto, que jogava no Orlândia, integrante da Terceira Divisão (atual Série B). Fez teste e foi aprovado pelo técnico e ex-goleiro Baleia. Defendeu a equipe na Terceirona de 1980, quando foi eleito o melhor lateral-esquerdo do campeonato. Antes de vir para o América, ele teve proposta do XV de Jaú. "A amizade com o Paulinho Jaú, que estava no América, falou mais alto", diz. Depois dos oito anos dedicados ao América, Daniel pegou o passe e disputou a Terceira Divisão pelo São Joaquim, de São Joaquim da Barra.
Defendeu a Matonense em 1991 e 1992 e pendurou a chuteira no São Joaquim, no ano seguinte. Em sua cidade natal, todos o conhecem por Dié, mas quando jogava também ganhou o apelido de Lennon, em razão de gostar de cantar e tocar violão. Ao abandonar a carreira, Daniel Nogueira montou uma escolinha de futebol e desde 2001 trabalha na secretaria de esportes de Guará. Ele se orgulha do projeto "Águas de Guará", criado em novembro de 2005 e que atende 200 crianças de 8 a 14 anos de idade. No projeto dirigido por José Roberto Fassani, os menores participam de diversas atividades esportivas e recreativas. Casado desde 1985 com Cláudia, Dié é pai de Danilo e Cínthia.
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