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31/08/2009 - Meu jogo inesquecivel: Por Enildo Lemos

Relato o que para mim foi um dos momentos mais felizes na minha trajetória de torcedor do Santa Cruz:

Transcorria o mês de maio/76, e a torcida tricolor estava meio "ressabiada" com a campanha do time no pernambucano daquele ano. Após a ressaca da brilhante campanha do Brasileirão de 75, no qual só não fomos para a final por conta de um juiz mau caráter que beneficiou explicitamente o Cruzeiro em pleno Arrudão, o Santa Cruz inicia o ano de 76 sem três titulares absolutos: Fumanchu tinha retornado ao Vasco, Pio aceitou uma proposta melhor do Grêmio Maringá (retornaria no meio do campeonato), e Ramon fôra vendido para o Internacional-RS, isso sem falar que Mazinho, o "Deus de Ébano" estava no estaleiro por causa daquela entrada criminosa de Júnior, do Flamengo, quando eliminamos eles das semifinais do brasileiro em pleno Maracanã. Para o lugar de Fumanchu, trouxemos de volta Betinho (que nunca acertou no Náutico), numa troca envolvendo o ex-juníor Zé Maria; para o lugar de Ramon, efetivamos Nunes, que era reserva em 75, mas demonstrava ter um grande potencial, para o lugar de Pio, promovemos o júnior Santos, ponta-esquerda titular da seleção olímpica, e para o lugar de Mazinho, foi efetivado Vôlnei, jogador que na temporada passada sempre "deixava o seu" quando entrava, sem falar na sua exuberante técnica.

Na quarta-feira que antecedia o domingo (dia das mães), o Sport havia aplicado uma sonora goleada no Íbis, e liderava isoladamente o 1o. turno, com o Santa
Cruz não passando de um empate sem gols com o América, estando naquele instante, a 01 ponto do líder, e no domingo teríamos justamente o primeiro confronto entre ambos no campeonato. (vale ressaltar que o goleiro do Sport estava "zerado" e todos diziam que, uma vez desfeito o ataque do ano anterior, o Santa Cruz não teria condições de fazer gols na "Muralha da Ilha" . A torcida tricolor prontamente se mobilizou e garantiu o prêmio de, na época Cr$ 500,00 (quinhentos cruzeiros), para quem fizesse o "gol desabafo").

Na época morávamos em esqueira, mas no domingo, logo cedo, meu Pai, juntamente com toda a família foi passar o dia em Moreno, onde morava uma irmã da minha mãe. Sugeri logo na saída: Se estamos tão perto porque não aproveitamos e vamos para o jogo? Apesar dos protestos da minha mãe e irmãs, e para a felicidade minha e do meu irmão, a sugestão foi aceita de imediato, e logo após o almoço, fomos juntamente com um primo ao Arruda (na passagem ainda pegamos um tio, irmão de meu pai, e um amigo dele).

Chovia. O tempo estava horrível, os rubro-negros eufóricos com a campanha diziam que só iriam começar a contar após o 2o. gol, mesmo assim éramos a maioria no estádio (prá variar). Não houve preliminar para não prejudicar ainda mais o gramado. Os times entram em campo: Santa Cruz: Picasso, Carlos Alberto Barbosa, Levir, Lula e Pedrinho, Givanildo, Carlos Alberto Rodrigues e Vôlnei, Betinho, Nunes e Santos, o Sport: Toinho, Aranha, Assis,
Silveira e Cláudio Mineiro; Cacau, Assis Paraíba e Miltão; Amilton Rocha, Dario e
Lima.

O Juiz apita o início do jogo: O Santa Cruz bate o centro e parte prá cima: ilveira, acossado por Nunes, tenta se garantir botando prá escanteio. Betinho bate, a defesa alivia e a bola sobra limpa para Assis Paraíba, Nunes parte prá cima e ele tenta recuar para o goleiro, com o gramado pesado, a bola não toma
a velocidade desejada e Nunes, rápido como um raio toca por baixo de Toinho: Pronto! Com 1 minuto e meio de jogo, marcamos o "gol desabafo". Caía a invencibilidade da até então melhor defesa do campeonato. O Arrudão veio abaixo.

O Sport dá nova saída, o jogo fica truncado, o Santa Cruz agora passa a explorar a velocidade de Santos e Nunes nos contra-ataques, e o Sport desesperado tenta furar o bloqueio tricolor (numa dessas investidas Dario maldosamente machuca Picasso, que sai para a entrada de Gilberto), sem no entanto obter sucesso. O jogo se arrasta tenso, nervoso, tudo podia acontecer.
Aos 35 minutos, Vôlnei aproveita um passe de Betinho, passa por Assis e fuzila Toinho mais uma vez: Santa Cruz 2 x 0. O Sport se desespera, parte desordenadamente para a frente, Santos ainda perde outra chance num contra-ataque rápido. O Juiz apita e termina o primeiro tempo. A torcida festeja.

O Arruda é uma festa só. Começa o 2o. tempo e um susto: logo aos 03 minutos Lima marca, mas o juíz, acertadamente anota o impedimento. Protestos, Amarelo
prá Lima e Dario, a torcida festeja, aquela altura dava para prever que aquela partida estava ganha. Mas o melhor estava por vir: 12 minutos do segundo tempo, Carlos Alberto Rodrigues lança da intermediária, Vôlnei (na melhor
partida que o vi jogar no Santa Cruz), dá um drible de corpo e deixa a dupla de zaga Assis e Silveira falando sozinhos, leva a Bola, passa por Toinho e faz 3 x 0. Um resultado que ninguém podia supor. Aquela altura o Sport estava igual
a uma barata tonta. Só dava Givanildo e Carlos Alberto Rodrigues no meio campo. Dario tenta provocar Givanildo puxando seu cabelo, o baixinho se volta e calmamente passa a mão na cara do "peito de aço", a galera delira. 30 minutos, nova troca rápida de passes, a bola sobra na entrada da área para Carlos Alberto Rodrigues que solta a "bomba": A bola explode no peito de Silveira e trai Toinho: 4 x 0. No lugar de dia das mães, estávamos participando do
carnaval tricolor fora de época!

Os 4 x 0 foram demais para Dario que "cavou" sua expulsão, aí o Santa passou a dar olé, deixando atônita a tão propalada "seleção do nordeste", que passou a apelar para faltas violentas, mas nem para isso eles tinham competência. Resultado: Bola com Vôlnei, que ganha da zaga na corrida e ... GOL, 5 x 0, era
bom demais, a chuva no céu e a chuva de gols no campo. No final do jogo, meu primo César, ainda consegue lembrar-se de uma frase do meu tio Nilvan,
provocando os torcedores do Sport que se dirigiam ao Arruda: "Bem que o Sr. falou que aqueles rubro-negros iriam voltar prá casa com a bandeira enrolada em baixo do braço: dito e feito" .

Eu, do alto dos meus doze anos, já tinha consciência que nunca iria me esquecer daquele dia e profetizava: Esse ano não vai ter prá ninguém! o título já é nosso! Só não poderia prever que aquele (1976) seria o ano do nosso bi-supercampeonato, naquela final memorável com o Náutico, mas isso já é outra história...


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