Lars Schmidt Grael é um dos maiores atletas da história do esporte brasileiro.
Como atleta, Grael ganhou duas medalhas de bronze, uma nos Jogos Olímpicos de Seul e outra em Atlanta. Tendo sido campeão mundial da classe Snipe em 1983 na cidade do Porto, decacampeão brasileiro e pentacampeão sul-americano da classe Tornado.
Em 1988, Grael sofreu um grave acidente em Vitória, causado pela imperícia e irresponsabilidade do comandante de um iate, o que causou a mutilação de uma das pernas do atleta. O velejador teve que se afastar da prática esportiva por algum tempo, dedicando-se, todavia, ao fomento do desporto a partir de uma outra perspectiva: a política, exercendo cargos nos governos federal e de seu estado natal.
Voltou a velejar na classe Star com o proeiro Marcelo Jordão, classificando-se em terceiro lugar no campeonato brasileiro de 2006. Comandou também o barco Agripina/Asa Aluminio, campeão do Campeonato Brasileiro da Classe Oceano 2006 e continua ativo na vela.
Lars, quando descobriu sua aptidão para o iatismo ?
Veio naturalmente, com a prática e a forte influência de minha família materna.
Como e quando iniciou sua carreira ?
Começou como o amor. Não se sabe bem quando e porquê. Quando se nota, já está todo tomado. Minha primeira regata foi na extinta classe Pinguim em uma regata no Carioca Iate Clube, em Ramos, Rio de Janeiro, aos 8 anos de idade.
Quais as maiores dificuldades que enfrentou ?
A falta de apoio, de reconhecimento, e na defasagem técnica de possuirmos material inferior aos melhores, e dificuldades para participação em campeonatos internacionais.
Muitas vezes pensei em parar.
Que fator mais contribuiu para a sua evolução como profissional ?
Determinação, perseverança, vontade de vencer e concentração.
O que o levou a escolher a classe "Tornado" para competir ?
Influência de meu primo e proeiro olímpico, Glenn Haynes, e do velejador germânico/brasileiro, Rolf Tambke.
Quais as suas principais conquistas como atleta ?
Duas medalhas Olímpicas (88 e 96); Campeão Mundial 1983; 2 Pré-Olímpicas Internacionais; 15 títulos brasileiros e 6 Sul-Americanos.
Você participou de várias Olimpíadas, qual a que te marcou mais ? Por que ?
Seul, a primeira conquista. Atlanta, a volta por cima !
Qual a sua maior alegria no esporte ? E a maior tristeza ?
A maior alegria, ver meu esporte prosperar com jovens de origem humilde.
A maior tristeza ? O descaso dos partidos e programas políticos com as políticas públicas do esporte nacional. Sobretudo, em sua vertente social.
Dos inumeros prêmios e homenagens que recebeu em sua vida, quais os que mais te emocionaram ?
Troféu Ética Esportiva do Comitê Olimpico Internacional, em 1989.
Se não fosse iatista, qual esporte teria vontade de praticar ?
São tantos os que conheço e gosto.
Destaque para o Tênis e para o Badminton que possuo adoração.
Você foi vítima de um acidente terrível, que acabou deixando algumas sequelas, corajosamente continuou sua vida e voltou às competições, quais foram os seus maiores estimulos para continuar ?
Vontade de viver. Fé na vida !
Na sua opinião, quais os maiores iatistas da história ?
Paul Elvstrom (DIN); Jochen Schumann (GER); Torben Grael (BRA); Eric Tabarly (FRA).
Qual foi o adversário mais difícil de ser batido ?
A descrença sobre o papel cívico e patriotico e todas as conotações educacionais do esporte sobre nossa juventude.
Qual a prova que não esquece ?
As últimas regatas de Seul 88 e Savannah 96
Em sua opinião, qual o atual estagio do iatismo brasileiro ?
Do talento, da oportunidade de crescimento, da necessidade de reestruturação.
Qual a sua opinião sobre a organização do Pan do Rio 2007 ?
Satisfatório, mediante às dificuldades do cenário político e econômico do Rio e do Brasil.
Acredita que o Brasil possa organizar eventos como as Olimpíadas e a Copa do Mundo ?
Copa, seguramente. Olimpíadas, dependeremos do sucesso do Pan e da consolidação da retomada do crescimento sócio-econômico do Rio de Janeiro.
Qual a sua opinião sobre o COB e sua administração ?
Orgão mais relevante do desporto nacional. É inegável o crescimento organizacional e resultados gerados pela gestão do presidente Carlos A. Nuzman, após sua posse em 1995.
Em sua opinião, qual o maior erro do Governo Lula ? E o maior acerto ?
Erro ? A perda de valores éticos e morais. Persistir na teoria de que os fins justificam os meios. O corporativismo da classe política dominante dos cargos das instituições públicas, em detrimento ao interesse público.
Seu maior acerto ? A capacidade de comunicação com as massas. O populismo aprovado nas urnas. Acerto ? Talvez não. Resultados, talvez sim.
Qual o sistema que considera melhor para que o Brasil tenha maior desenvolvimento social e distribuição de renda mais justa ?
Presidencialismo pautado em um conjunto de reformas de reestruturação do sistema político, judiciário, tributário, fiscal, previdenciário. O Estado a serviço da sociedade e não a serviço do corporativismo da máquina do funcionalismo público e dos políticos. A distribuição de renda dar-se-á através da profunda reforma e enxugamento do estado, do desenvolvimento econômico, da redução da carga tributária.
De um novo pacto sociedade-estado onde os impostos serão reduzidos, a informalidade combatida, a sonegação punida.
Com estas medidas amargas porém necessárias, será possível avançar com políticas efetivas e sólidas com educação, saúde, saneamento e habitação. Será a porta de saída da miséria e da pobreza e não formas de perpetuação da pobreza através de mecanismos de transferência de renda que não apontam para a porta de saida da pobreza.
Não existirá desenvolvimento sócio-econômico sem trabalho, justiça, patriotismo e espírito público.
A impunidade é a grande chaga moral da nação.
Qual a sua opinião sobre o jornalismo esportivo no Brasil ?
Genericamente medíocre. Pautado na monocultura do futebol masculino. As excessões por sorte aumentam com a maior importância dada aos esportes olímpicos, para-olímpicos, auto-motores, de aventura e as experiências sócio-esportivas. Vejo uma forte luz no fim do túnel.
Defina com apenas uma frase:
Iatismo: Um estado de espírito de coexistir com as forças da natureza e estimular cumplicidade com elas.
Torben Grael: Um grande irmão, o filho do vento.
Olimpíadas: Maior evento da humanidade. A confraternização entre povos. Antítese da intolerância e da incompreensão entre povos, costumes, religiões e interesses geo-políticos.
Robert Scheidt: A combinação entre o talento, profissionalismo, preparo físico e a força de vontade.
Família: A célula base da sociedade e o porto seguro para nossa felicidade.
Religião: A crença em Deus. A fraternidade, solidariedade e respeito ao próximo e a natureza. Não pode existir a crença que uma religião específica seja a certa, a justa, a única.
Um sonho: A globalização da paz, da tolerância, do respeito ao próximo. A luta pela salvação das crianças vítimas da fome e da violência. A vida só será melhor, se o mundo for melhor e mais justo para todos.
Um pesadelo: A escalada da violência e a inversão de valores éticos, cívicos e morais do Brasil atual.
Lars Grael: Um sonhador, apaixonado, patriota, por vezes, até incoerente.
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