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11/02/2009 - Entrevista com Tino Marcos, repórter da Rede Globo

PB - Cobres Seleção Brasileira há quase vinte anos. Já pensaste em parar de cobrir a Seleção ou é sempre uma alegria nova a cada jogo?
Tino Marcos - Olha, às vezes vem uma certa inquietação. Tanto tempo... um jogo atrás do outro. Mas nada além disso. Em geral, é um prazer que se renova a cada jogo ou evento, embora seja difícil não ser repetitivo na abordagem das reportagens. Esse é um desafio que sempre se renova.

PB - Já sofreste críticas, mesmo de concorrentes, por, nos jogos da Seleção, seu canal ter exclusividade nas entrevistas no campo?
TM - Quase nunca. As TVs que pagam pelos direitos (e não é pouco!) podem ter um repórter em campo e em geral os coleguinhas entendem. O que chateia é quando a gente batalha por uma notícia, faz horas de plantão, luta e sua enquanto muitos estão preocupados com almoço ou jantar e aí, depois que vai ao ar, neguinho diz: "ah, claro, pra Globo é tudo fácil". Aí, magoa.

PB - Na sua opinião, a cobertura esportiva brasileira é satisfatória? Não faltaria, por exemplo, um pouco mais de jornalismo investigativo?
TM - O jornalismo investigativo é um caminho que, reconheço, não tem sido muito explorado pelo segmento esportivo. A essência do jornalismo esportivo tem mais a ver com entretenimento, leveza, alegria. O que absolutamente não exclui o espaço para a investigação. Como demonstra o exemplo do escândalo na arbitragem.

PB - E a cobertura especificamente da Globo, que procura misturar informação com humor? Não falta, às vezes, mais seriedade crítica?
TM - Será? Como trabalhamos em uma tv aberta e falamos para dezenas de milhões, devemos ser o mais abrangente possível, informar sim, mas também divertir. Mas não há espaço para humor em tudo que é matéria, isso de jeito nenhum. O bacana é que a gente tem liberdade pra ser crítico quando achamos necessário.

PB - Achas que jornalista deve declarar para qual time torce? Se lhe perguntarem seu time do coração, respondes ou sai pela tangente?
TM - Em tempos de tão absurda violência, para um repórter que lida diretamente com as torcidas nos estádios revelar o nome do time de coração é botar em risco a própria integridade física. E mesmo que não vivêssemos nesse quadro de tanta brutalidade, muita gente ia achar que o sujeito puxou brasa pra própria sardinha. Esse é um mundo feito de paixão e não se deve esperar equilíbrio de um coração de torcedor.

PB - Fazes algo diferente em matérias de futebol e de outros esportes? A dedicação é a mesma para o futebol e, por exemplo, a vela?
TM - Fazer algo diferente é uma busca permanente. Embora nem sempre dê pra inventar. O limite entre o legal e o ridículo é tênue, perigoso.

PB - Não achas errada a postura da maioria dos veículos, que fala 90% de futebol e 10% de outros esportes? Como mudar esse cenário?
TM - Falam em ditadura do futebol. Mas o noticiário apenas reflete o que interessa à maioria das pessoas. Ninguém quer gastar tempo com assuntos que interessam a um pequeno número de pessoas. E acho que a distribuição dos temas até que aumentou nos últimos anos. Acho até que hoje a proporção não é mais de 90% e 10%. Tá um pouquinho mais equilibrado.

PB - Resuma um pouco sua trajetória no jornalismo esportivo. Quais pessoas te influenciaram, o quê te motivou a seguir essa carreira?
TM - Comecei como estagiário no Jornal dos Sports em 1983. Um ano depois fui para O Dia, sempre na editoria de esportes e, em 86, vim para a Globo. Devo muito a um companheiro que chamo de padrinho, o Geraldo Mainenti. Ele que me trouxe pra Globo, ele que me convenceu que eu poderia ser um repórter de TV. Eu só me imaginava trabalhando em jornal.

PB - Nesses anos todos já fizeste de tudo um pouco. Quais as coberturas mais marcantes que fizeste, pelo lado bom e/ou ruim?
TM - A cobertura mais marcante foi a Copa de 94. O título, 24 anos depois do México, a catarse. Ter sido o único repórter que entrevistou os recém campeões mundiais foi inesquecível (e nesse caso a Globo não tinha permissão, foi na raça mesmo!).

PB - Cite alguns profissionais com os quais tenha trabalhado ou esteja trabalhando que te marquem duma forma mais especial?
TM - Como disse, o Geraldo Mainenti foi especial, como o Telmo Zanini, o João Ramalho, o Mário Jorge Guimarães, todos meus gurus. Na categoria repórter, eu, como você Edu, sou fã do Pedro Bassan. Também acho o melhor da turma hoje em dia. Sem falar no caráter do moleque, também 10. E, no geral, meu ídolo da reportagem é o Lucas Mendes.

PB - Sem citar nomes, mas já tiveste algum tipo de rusga ou desentendimento com algum colega de trabalho? Ou sempre tudo na paz?
TM - Já tive problemas sim. Troca de empurrões, nada além disso. A gente vive situações de muita tensão, pouco espaço e, às vezes, pouca educação. Aí... mas no geral minha trajetória é feita muito mais de leveza e paz.

PB - Sendo você colega de muitas mulheres que atuam no jornalismo esportivo, qual seu conceito sobre a participação delas no meio?
TM - Acho que estamos em falta, especialmente no campo do futebol. Pra achar uma Soninha por aí é muito difícil. Temos boas colegas, mas mais na área dos esportes olímpicos e/ou radicais. Normalmente, os jornalistas esportivos bem sucedidos foram consumidores vorazes de noticiário esportivo na infância.

PB - Saíste há algum tempo da apresentação do "Esporte Espetacular". Não sentes falta do estúdio? Ou a reportagem é melhor?
TM - Minha posição em campo é mesmo na reportagem. Apresentar o "EE" foi uma baita experiência, ainda apresento o "Navegando" no Sportv, mas minha realização ta na rua, na correria da matéria, nas soluções de texto pra cada situação, enfim. É onde mais gosto de brincar.

PB - Poderias contar alguma história curiosa de bastidores da imprensa esportiva que tenhas vivenciado de perto, que não saibamos?
TM preferiu não responder esta questão.

PB - E esse escândalo do apito, acreditas que dê em algo? Teremos punidos? És a favor da anulação dos jogos e da virada de mesa?
TM - Acho que já deu em algo. A anulação dos jogos era mesmo o caminho e a eliminação do Edílson do universo do esporte é obrigatória. Virada de mesa? Acho que nem se fala mais sobre isso no futebol brasileiro, né?

PB - Como repórter que atua no Rio de Janeiro, acreditas que os clubes de futebol locais podem se reerguer em breve ou está difícil?
TM - Olha, a situação nunca esteve tão negra para os times do Rio. Mas, com a força popular que os clubes têm, quero seguir acreditando que tudo é fase, apenas uma fase...

PB - Voltando ao tema Seleção, você jogaria com o "quarteto mágico", com o "quinteto mágico" ou alguma forma não cogitada aqui?
TM - Jogaria com o quarteto e olhe lá. Quinteto é romantismo. Bonito, bacana, inaplicável na prática.

PB - Se pedirmos para dizer alguém no esporte que mereça nota 10 e alguém no esporte que mereça nota 0, quais seriam e porquê?
TM - Nota 10? Pelé, o atleta mais destacado do mais destacado esporte. Nota 0? Armando Marques. Só não me peça pra fazer comentários sobre Armando Marques.

PB - Dá para conciliar numa boa a corridíssima vida de jornalista esportivo com a vida pessoal? Ou há algumas coisas difíceis de lidar?
TM - O tal do fim de semana, o tal do feriado são ambições ainda inalcançáveis pra mim. Claro, temos um ou outro. Mas, quase sempre, são dias de trabalho e por mais que eu esteja nisso há tanto tempo, continuo a invejar outras categorias neste aspecto.

PB - Por fim, deixe algum tipo de mensagem para os leitores, um conselho, um recado, um toque, qualquer coisa que vier à cabeça.
TM - O que me ocorre é que, como jornalista esportivo, a gente deveria sempre estimular as pessoas a ter compromisso com a saúde, com o bem estar, com a atividade física. A mensagem dos benefícios que o esporte traz precisa ser sempre renovada.


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