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22/01/2009 - Treinadores brasileiros e estrangeiros na visão de Paulo Calçade

Paulo Calçade (foto), comentarista da ESPN Brasil e da Rádio Bandeirantes de São Paulo. Por três anos atuou também na Rede Record.
Vejam o que ele acha dos treinadores brasileiros e estrangeiros.

Treinadores brasileiros na Europa

"Um pouquinho de tudo isso, um conjunto de fatores. Entre eles, a cultura, a diferença de entendimento do que é futebol pra gente e do que é pro europeu. Uma formação completamente diferente, jogador brasileiro vive mais livre, mais largado, isso gera criatividade, mas traz problemas porque jogador brasileiro é mau treinado nas divisões de base, ele chega à divisão principal cheio de defeitos. O europeu não tem assim tanta qualidade, mas ele é um pouquinho mais bem treinado nas divisões de base. Ele tem uma visão mais encaixotada do futebol, mais fechada. O brasileiro não. É difícil o treinador chegar na Europa e propor algo mais livre, mais liberdade, mudar uma maneira de jogar. É muito difícil que consiga isso. Brasileiro não está acostumado a planejar, fazer um trabalho a longo prazo, um projeto. Não tá porque não deixam e porque muitos não sabem. O treinador brasileiro não gosta de estudar. É geralmente aquele ex-jogador que virou treinador, é um jogador que tem informações muito antigas, que vieram lá de trás. Alguém que tá treinando hoje, ele foi treinado por caras que jogaram nos anos 70, e é essa informação que ele tem. Não tem informação acadêmica, seria importante transformar isso na prática. O treinador brasileiro tem uma série de dificuldades que o europeu reprova, o europeu quer um cara mais cultuoso, um cara que tenha um conhecimento mais científico do futebol. O mundo cada mais desenvolvido, se cobra um conhecimento científico e multidisciplinar. Não adianta o cara só treinar o time, saber da preparação física, o que ele pode fazer hoje pra não estourar o time dentro de campo. Por exemplo, um treinamento de chutes a gol pode acabar com o time. Se você errar a mão e tiver próximo a uma partida, você arrebenta o time. Treinador precisa saber disso, e o treinador brasileiro não busca isso. Isso dificulta o acesso dele. O nosso treinador é muito diferente - aliás, o treinador europeu é muito parecido com o jogador europeu. Um jogador mais trabalhado, mais bem informado, mas que não tem muita qualidade técnica. Aqui sobra, mas falta informação. O treinador brasileiro também está nessa linha e é por isso que não temos tantos treinadores lá fora. Algumas passagens a comentar. Luxemburgo, Ivo Wortmann, Jair Pereira, Lazaroni, Parreira, Zico... Desses daí entra um pouco essa questão da formação. O Parreira é melhor formado, tem mais conteúdo, mas falta talvez mais sentido de liderança, saber lidar com o grupo, ficou claro na Copa. Já vi palestras do Lazaroni, às vezes fica muito no teórico. Eu não tô dividindo treinadores teóricos de práticos, acho uma grande bobagem. Chamar um treinador de teórico é a maneira que o treinador que não gosta de estudar encontrou pra chamar aquele que estudou. Qual é a formação do Zico? De jogador. Quais cursos ele tem? Desconheço. Aí a gente tá recebendo uma nova geração de caras que estudaram, fizeram educação físico, ciências do esporte, tiveram formação específica. O Rinus Michels, idolatrado por muita gente, jogou futebol, mas foi o primeiro da classe dele na universidade. Isso que falta a esses treinadores. O Mourinho fez educação física, ajudava o pai a observar adversários, é um cara formado. O Parreira é um cara que tem história. Você pega surgindo um Ney Franco, Chamusca. O cara tem que ser bem preparado".

Estrategistas

"Acho que a gente pode dividir dessa maneira, chamar de bem preparado. A imprensa cria isso, mas nem sabe o que tá falando. Estrategista é um cara bem preparado. Um cara que tenta saber da vida do jogador é um cara esperto, que tenta saber quem é o cara, como é. Esses treinadores são mais bem preparados porque entendem que o futebol não é só a bola dentro de campo, treinamento. É uma série de fatores que conduzem à vitória. Rafa Benitez é interessante, Mourinho. Existe uma tendência, e os treinadores começam a perceber isso. Você precisa conhecer físico, técnico, tático e psicológico, é o básico, não ficar rotulando estrategistas. Estrategista é o cara que domina muita coisa, sabe muito de futebol, domina esses meandros desses segmentos todos e faz com que o time possa jogar".

Psicólogos e motivadores

"O treinador precisa entender a psicologia do esporte, mas não ele ser o psicólogo, saber usar o psicólogo certo. Não fazer o que eles fazem no Brasil, uma bobagem, mensagem da família que toda mundo fica chorando - o cara vai entrar de baixo astral qualquer dia. Foi tão bonita. O cara que subiu o Everest sem as duas pernas, e por isso você vai ganhar o jogo – e o jogador brasileiro cai nessas coisas. Na Europa, se fizer isso, o cara vai rir da cara do treinador. Não é isso psicologia, são ferramentas que você utiliza pra obter rendimento, pôr ou tirar jogadores do time. Nem um extremo, nem outro. Claro que o jogador está motivado, mas existe algo mais que você pode tirar. O problema é que a motivação aqui é vista como um monte de coisa babaca que você despeja na cabeça do jogador e ele aceita. O treinador brasileiro, quando chega com essas coisas na Europa, dão risada na cara dele. Jogador europeu não cai nessas coisas, tá ligado nesses negócios. O brasileiro geralmente gosta. Tem caras que derrubam o time, diz que motivou o jogador porque chorou. Não sei se jogou o cara pra cima ou pra baixo. O que me preocupa em motivação é que os caras usam pra encobrir defeitos do que não foi bem feito no meio de semana. Então, treinam o time mal, não tem conhecimento do que tá fazendo, pra quê serve, quais as principais técnicas, o que faz efeito, não tá, o que tá fora do Brasil. Eu vejo, por exemplo, jogadores treinando na areia. Quem conhece preparação física profundamente, professores, doutores, diz que não serve pra nada absolutamente, além de atrapalhar a vida do jogador. Porque você adapta o jogador a se adaptar a um movimento lento, o jogador corre na grama, não na areia. Ao produzir um esforço maior na areia, você não tá fazendo com que no campo ele corra mais. É um absurdo. Até o Real Madrid acabou fazendo um campinho de areia na época do Vanderlei, e eu fico com a opinião de quem entende tudo. O treinador brasileiro tenta compensar seus defeitos com motivação. Tem cara que não tem nada, não sabe nada. Tem cara que só tem motivação e gosta de jogar quarta e domingo pra não treinar durante a semana, aí é melhor pra quem não sabe. Aí aqueles que sabem o que fazer durante a semana, as cargas, intensidades, pra não destruir o time, esses sim são os melhores treinadores. Motivação é importante, dá pra tirar um algo mais, mas muita gente entra na babaquice. O trabalho do treinador é não desmotivar o time, não atrapalhar. Se não atrapalhar, já é uma grande coisa. Eu acho que depende muito do perfil do treinador. Aquele cara que não tem intimidade, tato, não tem como entrar na vida do jogador, ele não deve usar. O que já tem possibilidade maior, de conversar com jogador, tentar entender, deve fazer isso. Depende mais do perfil do treinador do que da situação, tem que ser natural. Acho que o treinador não pode ter uma relação totalmente distante, como se fosse uma entidade que aparecesse na hora do jogo. Acho que tem que ter autoridade, precisa mostrar quem manda e toma as decisões. Entendo que tem que ter um contato mais próximo, mantendo a hierarquia e comando, mas não deve evitar esse contato próximo quando é natural e não forçado".

Managers

"Picaretas sempre existiram, com ou sem Lei Pelé. A lei não institucionalizou a picaretagem no futebol. Desde que o Charles Miller chegou, veio a picaretagem. Treinador que comanda, funciona quando o cara fica cinco, dez anos no clube. Funciona quando os caras tomam decisões a longo prazo. Aqui no Brasil fica três meses, quatro jogos como ficou o PC Gusmão no São Caetano. Não pode dar esse poder na mão do treinador. Uma coisa é você falar do Ferguson, há 20 anos no Manchester, aí é legal. Outra coisa é o cara que todo dia troca de lugar. Quem tem que ter esse poder de administrar o futebol é o dirigente. Ele tem que entender futebol. O treinador manager cobre uma deficiência do dirigente, que é não entender de futebol e não trabalhar profissionalmente. Quando você dá tudo na mão do treinador aqui, o dirigente tá tirando o dele fora. O treinador vai embora, os jogadores ficam nos times. As boas contratações ficam e as boas também. Não vão com ele. O treinador tem que responsabilidade nisso, tem que olhar, coletar e até dar a última palavra se for o caso. Já achei isso mais interessante. Hoje acho que o dirigente deve ser tão bom quanto o treinador pra buscar isso. Não vejo mal nesse modelo, desde que seja muito claro. Se o treinador trabalha bem e quer ter participação, tudo bem. As empresas em que os funcionários têm participação não perdem nada por isso. As empresas que tratam bem os funcionários não perdem nada por isso. Aliás, as empresas onde os funcionários participam ativamente e recebem algo em troca são as que tem o maior sucesso e maior faturamento – isso é comprovado. Isso é um negócio que funciona, não vejo mal que chegue ao futebol, desde que seja claro. O que existe mesmo, e se diz, é o por fora. Treinador indica jogadores de empresários, vão pra equipe, depois ganham por fora. Quando é por dentro e oficial, e bem feito, não tem problema. Mas praticamente não começou no Brasil".

Valorização

"Hoje a gente está em um futebol onde há uma diferença de entendimentos e gerações. No passado, o individual resolvia tudo. Não tinha preparo físico tão bom, não tinha tanta estrutura, não precisava ter conhecimento tático, técnico e científico. Hoje, o individual ainda é o principal, claro, quem não quer bons jogadores. Mas o futebol praticado coletivamente pode tirar o aspecto individual. Pode tirar vitórias, pode se igualar. Aquele time que consegue ter uma performance coletiva ótima, com grandes talentos individuais, esse é o time vencedor. O futebol é um esporte coletivo que permite a expressão do talento individual. O Luca di Montezemolo diz que o futebol é um esporte coletivo que permite a expressão do talento individual. Quando você pratica esporte coletivo não há individualidade que não apareça no time. Você pega o Barcelona campeão europeu, com Ronaldinho, Messi e Eto’o. Joga um futebol coletivo, mas a individualidade também está muito presente. Eu vejo que hoje, esses treinadores têm que comandar grandes grupos, proporcionar o futebol coletivo, então se cobra mais. Quando só o individual resolvia, você não precisava tanto. Hoje precisa demais pra que o futebol coletivo exista, mas prevaleça o individual. E nós, aqui no Brasileiro, não temos muitos valores individuais, mas temos equipes jogando futebol coletivo muito interessante, e isso lhes dá uma posição interessante na tabela. Grêmio, Paraná, Figueirense. Aí você acaba valorizando o trabalho dos treinadores. Você hoje tem uma visão equivocada dos treinadores. Os dirigentes contratam os treinadores pra resolver todos os problemas do clube, pra resolver problema de liderança, diretoria, parceiro. O Leão veio resolver todos os problemas do Corinthians. O treinador é que está aí pra resolver tudo – uma visão equivocada das coisas. O treinador não pode ser o presidente do clube, nem o roupeiro ao mesmo tempo. E ele é contratado pra isso. Então, o treinador tem que resolver tudo. Acaba parecendo uma super valorização, mas na verdade ele está ocupando espaço que não é dele. Nos está faltando dirigentes esportivos melhores. O europeu valoriza ainda mais. O bom trabalho é valorizado. O europeu geralmente procura buscar gente mais capacitada. Eles sabem olhar mais, querem um treinador mais bem informado e, em geral, eles entendem um pouquinho melhor do que é dirigir o time, porque trabalham com orçamento, metas. Fazem suas bobagens também, mas o futebol brasileiro tem alguns controles que acabam separando melhor o trabalho de cada um, dirigente e treinador".

Treinador preparado para tantas funções

"O futebol de hoje é muito exigente, mas não são todos que estão preparados. O treinador tem que ter o lado científico, e não é entender mais de fisiologia que o fisiologista, só que ele – saber o trabalho do preparador físico, respeitar mas não interferir. Tem treinadores que querem controlar tudo, mas eles estão em uma comissão multidisciplinar. E isso se tornou o futebol. A gente só olhar pro Bernardinho e dá liderança, vê a estrutura da seleção de vôlei. Não tem nada? Só o Bernardinho? Claro que não. Quando o vôlei faz sucesso, a gente só fala do Bernardinho, é uma estrutura que dá certo. Mas não é pra copiar também. Ia ser um desengano achar que são parecidos".

Fale sobre...

Vanderlei Luxemburgo - "É um cara muito bom, muito inteligente, taticamente extraordinário. É um cara de difícil trato, difícil de lidar com ele. Ele acha que é mais que os outros, sabe mais, dá aquelas respostas atravessadas – poderia ser mais agradável, ele ia melhorar demais".

Carlos Alberto Parreira - "Estudioso, sabe que o futebol tem facetas interessantes, que é preciso mais conhecimento. Eu gostaria que tivesse mais força e liderança".

Luiz Felipe Scolari - "Parece tosco, mas não tem nada disso. É um cara que melhor trabalha muita psicologia de esporte, trabalha com a Regina Brandão há muito tempo. Ela analisa as equipes que ele dirige, ele se preocupa em ter perfil psicológico das equipes. Procura ser motivacional ao extremo. Taticamente é um bom treinador, não é extraordinário. Mas consegue dar a suas equipes um nível de determinação na partida que poucos conseguem. Principalmente pouco período".

Paulo Autuori - "É um desses caras da nova geração. É um cara que não jogou, só estudou. Teve paralisia infantil, sabia educação física, e o que sabe de futebol, é do contato que ele teve. Então, ele, o Parreira, o Mourinho, são caras que provam que você pode ir na escola, trazer conhecimento, e ganhar. Estou falando de um campeão do mundo, europeu e de Libertadores, caras que não jogaram".

Mário Jorge Lobo Zagallo - "É um cara muito importante pra uma época, como treinador e jogador. Muito importante na Copa de 70. O Brasil tinha um esquema super moderno, avançado, e a gente só destaca o futebol ofensivo. Era uma equipe que defendia muito bem, recuava e marcava com muitos jogadores e saía no contra-ataque. É um time usado sempre como sinônimo do futebol mais ofensivo que existiu, e é um futebol que olhou muito pra defesa. Fez com que Tostão, Jairzinho, Pelé, Rivelino, marcassem também dentro dos padrões daquela época. Hoje, merece todas homenagens, mas passou o tempo dele".

Emerson Leão - "Acha que resolve só com personalidade, jeito, força, falar mais alto que os outros. Não tem conhecimentos científicos, embora seja formado em educação física. Não tem uma visão mais apurada do esporte, do que é o futebol hoje, poderia se desenvolver mais nisso. Tem uma capacidade muito grande de resolver alguns pepinos. Não via outra pessoa para assumir o Corinthians".

Alex Ferguson - "Acho que já está no fim de carreira, tem carreira brilhante no lado de conduzir o time dentro e fora do campo. Importante pra história do Manchester e todo futebol".

Jose Mourinho - "Estudou, tem visão diferente do futebol. É marrento, difícil de lidar, mas é um estudioso, muito competente, tem aquela visão tática européia quadrada, sem mobilidade tática. Sabe armar equipes dentro do padrão, gosto do estilo dele, mas acho que pode se aprimorar. Falta mais criatividade que o brasileiro tem".

Marcello Lippi - "Acho que foi bem na Copa. Armou o time pra ganhar a Copa e percebeu, depois das oitavas, que dava. E a Itália foi o que ela é sempre, difícil ver uma Itália ofensiva, gastando a bola. É um time que põe muito jogador no meio-campo. Em alguns momentos o Lippi foi brilhante, soube fechar os lados contra a Alemanha. Soube ganhar a Copa do Mundo, e a gente tem que dar o devido crédito".

Lula - "Qualquer treinador que tivesse naquele Santos ficaria em segundo plano. Mas é uma outra época, não quero tirar os méritos, mas vejo que são outros tempos do futebol. Não dá pra comparar o que ele fazia e que faz, por exemplo, o Luxemburgo no comando do Santos".

Oswaldo Brandão - "Mais motivação, de pôr ordem no time, arrumar o time. Era um cara daqueles tempos antigos do futebol que o individual resolvia".



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