Ou�a a Independente AM ao vivo!
 
 

 

27/10/2011 - Entrevista com o advogado João Zanforlim

Os jogadores, sejam aqueles em atividade ou que já encerraram a carreira, dizem que defender o Corinthians é uma sensação bem diferente do que atuar por qualquer outro clube. Na Justiça Desportiva o sentimento é o mesmo e defender o clube na esfera judicial também tem pressão. É o que afirma o advogado João Zanforlin: "É pura adrenalina!". Em entrevista Zanforlin, que trabalhou durante 35 na imprensa esportiva – rádio e televisão – conta um fato curioso de sua primeira vez no tribunal e fala ainda do caso Serginho, quando era advogado do São Caetano na época em que o zagueiro morreu no gramado do Morumbi.


JD – Como é defender o Corinthians, um dos clubes mais populares do Brasil? É uma responsabilidade maior para o advogado?

João Zanforlin – "Muita responsabilidade. É pura adrenalina. Mas é prazeroso. Sinto-me como o batedor de pênalti. Se errar, os torcedores reclamam. Se acertar, era obrigação. Ultimamente, estou bem mais tranquilo. Quem me dá esse conforto é a diretoria, especialmente o diretor do jurídico (Sérgio Alvarenga). Por ser um excelente advogado da área criminal, ele sabe e conhece como é a vida do advogado nos tribunais. Ainda que seja um tribunal administrativo".

JD – Você leva para o tribunal, a experiência de tantos anos no futebol, seja como jornalista ou dirigente? Acha que isso é um diferencial nas suas sustentações?

João Zanforlin – "É verdade. Levo a experiência de jornalista. Vivi como jornalista 35 anos no esporte, principalmente no futebol. Trabalhei nas Copas do Mundo de 1970 até 1998 como repórter ou como comentarista. Estive dentro do campo, na condição de repórter, em muitos jogos estaduais e interestaduais. Fui repórter setorista nas entidades de administração do futebol. Não posso jogar fora esse conhecimento. Uso-o nas minhas defesas, quando possível. Mas dirigente eu não sou. Sou advogado contratado do Corinthians".

JD – Qual foi o caso mais complicado que pegou no STJD ou até mesmo no TJD?

João Zanforlin – "Foi o caso Serginho, do São Caetano, morto em campo no jogo contra o São Paulo. O trágico fim do jogador virou processo na Justiça Desportiva e no Poder Judiciário. Na Justiça Desportiva, o clube, o presidente (Nairo Ferreira), o médico (Paulo Forte) foram responsabilizados pela morte do jogador. O clube perdeu pontos, quase foi rebaixado, o presidente foi suspenso por dois anos e o médico suspenso por quatro. Para o tribunal, clube, presidente, médico deveriam ser punidos, porque o médico atestara no contrato de trabalho que o jogador estava apto para a prática do futebol. Apenas para lembrar, essa declaração é feita no dia da assinatura do contrato cuja duração é de três meses ou de cinco anos. Não há atestado médico ano-a-ano de contrato. Cientificamente, a arritmia cardíaca pode aparecer com o tempo. Juridicamente foi uma decisão injusta. Educacionalmente, atingiu os objetivos. Os clubes foram obrigados a dispor de desfibriladores cardíacos para efetuar os primeiros socorros nos casos de parada cardiorrespiratória. No Poder Judiciário, o processo foi arquivado, uma vez que tudo não passou de uma fatalidade".

JD – Acha que os jogadores estão mais conscientes hoje com a Justiça Desportiva? Você procura conversar com eles sobre isso?

João Zanforlin – "Alguns jogadores, sim. Outros, não. Mas estes são minoria. São aqueles que ficam um tempo jogando fora do Brasil. O sistema de julgamento na Europa é diferente. Não tem o procedimento que tem aqui: ampla defesa, princípio do contraditório etc. Quando o Ronaldo foi denunciado por ter puxado o cabelo do jogador Fahel, do Botafogo, perguntei-lhe se queria comparecer ao tribunal para prestar depoimento, ele se recusou, alegando que nem tinha sido expulso e que não estava acostumado com isso. Só para lembrar, o Ronaldo ficou mais de 15 anos jogando na Europa. Converso com os jogadores, sempre que é possível. Esse contato depende muito da comissão técnica. No Corinthians nunca tive problema. Mas, colegas já enfrentaram resistência de treinadores. Recentemente, disse aos jogadores do Corinthians que tomassem cuidado com um o tipo de infração: cuspir em alguém. Se o jogador cometer essa infração contra alguém da arbitragem correrá o risco de ser suspenso por, no mínimo, 360 dias. Disse a eles que seria melhor continuar cuspindo no gramado, como a maioria faz, e não nos integrantes da arbitragem".

JD – Como o senhor começou a militar na Justiça Desportiva?

João Zanforlin – "Comecei em 1970. Estava no primeiro ano de Direito. Trabalhava como repórter na função de setorista na Federação Paulista de Futebol (FPF). Certo dia estava buscando notícia para a Rádio Bandeirantes na sessão do Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo (TJD/SP), sediado no prédio da FPF, quando entrou em julgamento um processo de perda de pontos (jogador irregular) de um time amador da cidade de Tabapuã. Alceu, o presidente do time, por conta da nossa amizade, insistiu para que eu fizesse a defesa. Como conhecia os fatos, fiz a defesa. O time foi absolvido, a parte contrária entrou com recurso e, por conta disso, fiz a minha estreia no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que funcionava na Rua da Alfândega, sede da então CBD. Como verba honorária, recebi leitoas, doces caseiros, garrafões de pinga "caseira" e convite para uma visita à cidade".

JD – Como viu a reformulação do CBJD? Quais seriam os pontos positivos e negativos?

João Zanforlin – "Tem mais pontos positivos do que pontos negativos. Positivamente, relaciono como principais, a diminuição das penas, o cuidado maior com as denúncias por imagem, fixação de tipos infracionais específicos, constituição de princípios de proteção à competição, ao jogo limpo, substituição de pena aplicada por pena de advertência, responsabilização solidária nas penas pecuniárias, adoção da legislação na WADA (Agência Mundial Antidopagem) nos casos de doping, instituição do recurso de embargos declaratórios. Ponto negativo é que esse Código continua sendo aplicado em quase todos os esportes. O futebol merecia um Código próprio, aliás, como determina a lei 9.615/98. Foi necessário adaptar tipos infracionais, penas, procedimentos para contemplar, num só documento, todos os fatos cometidos na competição. Às vezes com prejuízos ao futebol ou à modalidade esportiva correspondente".

JD – A administração do Andrés Sanchez é para ficar na história do Corinthians por tudo que aconteceu nos últimos anos que ficou à frente do clube?

João Zanforlin – "Com pouco tempo de administração, o presidente Andrés já merece ter o seu nome gravado na história do Corinthians. Primeiro por ter, com o seu grupo de trabalho, mudado radicalmente o Estatuto do clube. Entre tantas alterações, destacam-se a diminuição do mandato do presidente, proibição de reeleição e instituição de voto direto dos sócios na escolha do presidente. Depois, a contratação de Ronaldo. Desportivamente, o Fenômeno deu dois títulos ao Corinthians (campeão Paulista e da Copa do Brasil). Economicamente, por causa de sua participação nos jogos, possibilitou maiores rendas de bilheterias e maiores receitas de patrocínio, com preços fixados bem acima dos valores pagos no futebol brasileiro. Pesquisas também mostraram que o Corinthians ficou mais conhecido no exterior graças ao jogador. Mas, com toda certeza, a nação corintiana vai considerar as obras do CT construído nos 200 mil m² do Parque Ecológico ao lado da rodovia Ayrton Senna e as do estádio do Corinthians na Zona Leste, no bairro de Itaquera, com capacidade para mais de 60 mil pessoas, a serem concluídas pela Odebrecht até 2014, como as maiores realizações da administração de Andrés Sanchez".




Busca de notícias      










Todos direitos reservados 2024 - Desenvolvido pela Williarts Internet