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15/07/2011 - Sergio Bergantim: O Último Grande Herói

Em 1976 nós estávamos numa situação em que as vitórias não vinham e não apresentávamos boas jornadas. Um dia, o Sérgio pediu para que fizéssemos uma reunião com os jogadores. Com a sabedoria que tem e o dom de falar bem, ele começou a dizer coisas que mexeram com o plantel. Sempre soube tirar o máximo de brio dos companheiros. Nunca me esqueço desse dia, pois tinha uma vontade imensa de chorar ouvindo suas palavras. Daquele momento em diante, começamos a vencer e nos classificamos para as finais do torneio, empatando o último jogo contra o Santos na Vila Belmiro", testemunhou Mauro Pastor.

Fizemos uso do depoimento de um atleta que marcou época na Ferroviária, falando sobre o arqueiro Sérgio Bergantin, o goleiro que mais vezes vestir a camisa grená, atuando na Ferroviária por dez anos. Quando se trata do testemunho de ex-atletas, todos são unânimes em ressaltar as qualidades do ex-afeano como jogador e, sobretudo como homem. O goleiro é citado pelos companheiros de trabalho como um ‘gentleman', na melhor acepção do termo. Infelizmente não temos espaço suficiente para detalhar os benefícios e a entrega do atleta a Ferroviária, mas cabe o resumo da história do goleiro que por mais vezes vestiu a camisa grená em todos os tempos: 389 partidas, segundo pesquisa idealizada pelo professor Moreira.

Sua trajetória é similar a de tantos outros jogadores. Formação humilde, desejo de uma vida digna e claro, muitos sonhos. Atuando com os amigos em Santa Cruz das Palmeiras em jogos do amador, o garoto foi observado pelo emblemático Picolin, o maior olho clinico que já passou pela Ferroviária e no final do ano de 1967, Sérgio já estava nas categorias de base da agremiação araraquarense.

"Éramos uma turma e tanto. Dado, Carlos Alberto, Getúlio e Machado. Naquele período tínhamos o chamado ‘aspirantão' e defendíamos a Ferrinha nessa categoria. O Machado e o Getúlio acabaram seguindo suas trajetórias em outras agremiações e o Carlos Alberto brilhantemente assumiu o posto de titular do time", conta o goleiro, que ficou marcado pela força de vontade dentro e fora do campo e na dedicação aos estudos. Vale destacar que Machado, Carlos Alberto e Sérgio Bergantin ocuparam a posição de goleiros da Ferroviária por 20 anos.

Carlos Alberto (o irmão)
"O que falar dele né? Companheiro de quarto, amigo, um goleiro em projeção com um período significativo no clube. Naquele momento quando o Carlos Alberto faleceu precocemente, ainda não era a minha hora. Havia um tempo para atuar como suplente, aprendendo e aprimorando mais os fundamentos, mas Deus possui os seus caminhos e tem metas para a vida de cada filho seu.

Quando me dei conta estava no ‘Brinco de Ouro da Princesa', para jogar contra o Guarani como goleiro titular, a única coisa que fiz foi olhar para o céu e dizer: Cara! Eu estou perdido", relembra o goleiro. Nesse confronto, Sérgio saiu-se muito bem e dali para frente foram dez anos de dedicação a camisa grená.

"Olha, confesso que treinar machucado, com dores era até normal, tamanha à vontade de defender a Ferroviária. Cheguei a entrar em campo para aquecer com o dedo quebrado, para analisar se não tinha mesmo condições de atuar. Essa época foi um período romântico do futebol, a afinidade com o clube e a torcida", destaca o ex-goleiro.

O diferencial
Mesmo vindo de família humilde, Sérgio Bergantin aprendeu cedo as prioridades da vida. Desde sua chegada, o arqueiro não optou apenas pela carreira de jogador de futebol, e durante as noites, único período em que tinha livre, ele se entregou aos estudos e fazia bem as duas atividades. Defendendo a meta afeana, Sérgio Bergantin se formou como Técnico em Contabilidade, Educação Física, Pedagogia, Estudos Sociais, Técnico de Futebol, Atletismo, Basquete e Vôlei.

"Talvez na época parecesse até estranho, mas eu tinha o sonho de estudar e gosto de lembrar dessa atitude. Muitas vezes eu adormeci em frente à pensão do São Geraldo, estudando, lendo livros e no meio da madrugada, o porteiro me chamava para ir dormir no alojamento. Creio que tenha conquistado a confiança dos diretores e também dos profissionais do futebol, pois atuando como goleiro da Ferroviária, já dava aulas de Educação Física, mantinha meus estudos de pé. Em uma única semana, dava dez aulas num único dia, viajava para estudar no outro, voltava para lecionar novamente, treinar e isso se estendia até o fim da semana, quando jogava. Andava pelas ruas com uma bolinha de tênis batendo na parede, a fim de manter a agilidade", relembra.

Ao todo Sérgio realizou 389 confrontos pela equipe. A marca até hoje não foi atingida na posição. Recentemente o professor foi escolhido em função do seu bom trabalho como educador na cidade, entre outros professores da rede pública para estar representado Araraquara em um encontro com o governador, "O mais prazeroso de tudo é quando nós andamos na rua e observamos o número de amizades que fizemos ao longo da vida", ressalta.

Palmeiras
Em 1974, Émerson Leão, goleiro do Palmeiras, foi convocado para a Seleção Brasileira e disputou a Copa do Mundo. Nessa feita o Palmeiras fez uma pesquisa minuciosa para escolher o novo arqueiro da equipe. O escolhido foi Sérgio Bergantin, que durante seis meses defendeu a meta alviverde.

"Foi uma passagem muito interessante, bons jogos, a possibilidade de defender a Seleção Paulista, que foi outra situação significativa na minha carreira. Com a volta do Leão, independente de qualquer outro aspecto, ele não iria ficar na reserva. Depois de alguns diálogos e também por questões éticas, voltei para a Ferroviária. Posteriormente o Corinthians mostrou interesse, mas a pretensão era por empréstimo, e preferi ficar. O São Paulo e a Portuguesa também tiveram interesse, mas acabei ficando na Ferrinha até quando encerrei minha carreira, num momento em que os frutos do estudo eram colhidos e já não era possível realizar a dura, mas prazerosa jornada de dar aulas e defender o time, já que os jogos passaram a ocorrer duas vezes por semana", conta.

Caráter
Sérgio Bergantin é tido pelos seus contemporâneos no futebol como o melhor caráter que a Ferroviária já teve. "Creio que índole é uma coisa que nós começamos a formar muito, mas que com o passar do tempo vamos contornando e melhorando nosso comportamento. Acho que a minha história de vida e claro, os estudos, contribuíram também para que eu me comunicasse com uma maior facilidade com os jogadores e criasse vínculos fortes. Sempre tive preocupação com os outros atletas, sobretudo, com os mais novos e busquei seguir uma disciplina durante minha carreira", explicou o arqueiro, que tinha como principias virtudes, a elasticidade para chegar a bola e o reflexo.



Por Alessandro Bocchi


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