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19/05/2010 - Historias do Futebol: Eu barrei Renato Gaúcho no Botafogo

Naquela terça-feira, 14 de julho de 1992, abri O Globo e vi uma foto chocante para a torcida alvinegra: Renato Gaúcho, vestindo a camisa do Botafogo, sorridente, dava churrasquinho na boca do atacante Gaúcho, do Mais Querido, que usava a camisa rubro-negra. Senti de imediato que haveria uma crise de enormes proporções no Mourisco (o Glorioso não havia ainda recuperado a sede de General Severiano). Depois da derrota de 3 a 0, na primeira partida decisiva do Brasileiro daquele ano, no Maracanã lotado, aquela fotografia era um acinte ao Botafogo e de pouquíssima vergonha e profissionalismo por parte de Renato Gaúcho, jogador polêmico e técnico mais polêmico ainda.

Almocei às garfadas, peguei o carro e rumei para o Mourisco. O ambiente era o pior possível. Centenas de torcedores, os nervos à flor da pele, queriam linchar Renato Gaúcho ou, no mínimo, incendiar seu carro, mas nenhum dos jogadores apareceu. O gabinete do presidente Emil Pinheiro (1923-2001) fervilhava. Era um entra-e-sai de dirigentes e funcionários. Esperei o momento certo, furei o bloqueio e me vi cara a cara com Emil, que era a expressão não apenas da derrota acachapante mas da surpresa com a atuação do time que o Ernesto Paulo mandara a campo e que era até então favorito para a conquista do título. Para minha surpresa – pois não imaginava a confiança e a amizade que ele depositava em mim – Emil Pinheiro mandou sair todo mundo de sua sala e, rigorosamente a sós, me perguntou:

– Porto, você acha que o Ernesto Paulo pode escalar o Renato domingo, quando temos no mínimo que vencer por 3 a 0? (o empate favoreceria ao Botafogo, dono de uma campanha muito melhor).

Pensei alguns instantes e respondi na lata:

– Sem chance, Emil. A torcida aí fora está querendo fazer churrasco do Renato. Aquela foto foi uma agressão ao Botafogo.

Emil ainda tentou argumentar, disse que Renato era mesmo irreverente e que ele o tinha como um filho. Mas não mudei de idéia.

– Renato não pode mais a vestir "A Gloriosa" alvinegra. Nunca, em tempo algum, um jogador fez o que ele fez...

A muito custo, Emil cedeu a meus argumentos. E na hora, mandou por telefone um recado a Ernesto Paulo:

– Renato está banido do Botafogo!!!

Hoje, tanto tempo depois – 18 anos, mais exatamente – percebo que Renato não pode ser apontado como único responsável pela derrota humilhante. Ele jogou muito mal e pode, isso sim, ter sido expulso do Botafogo por falta de vergonha. Mas os culpados pelo fracasso foram outros.

O primeiro deles, Ernesto Paulo, que armou um time à la louca, deixando Júnior no meio-campo e Piá, na lateral-direita, inteiramente à vontade. E o mais grave: recebi, tempos depois, a denúncia de homem ligado ao departamento de futebol, que dois jogadores do Botafogo facilitaram o jogo. Nenhum deles era Renato. Ou seja, entregaram o ouro ao bandido. E que bandido!!!

No segundo jogo houve empate de 2 a 2 e o Mais Querido, com uma campanha inferior, sagrou-se campeão brasileiro. Mas não me arrependo de ter forçado Emil a mandar Renato embora; ele fez por merecer. A torcida, porém, não pôde dele se vingar. Renato, malandro, escondeu-se e não foi visto em lugar algum. E quando mais tarde, Túlio Maravilha, de maneira idiota, pois era ídolo da torcida, caiu no canto da sereia de jogar no Corinthians, um dirigente famoso do clube me perguntou:

– O que você acha de trazermos o Renato Gaúcho de volta?

Respondi friamente:

– Se ele voltar, quem some do Botafogo sou eu, que tenho vergonha na cara...

Saudações Botafoguenses,

Roberto Porto


PS.: A foto é de quando Renato Gaúcho, após assinar contrato, foi cumprimentar Emil Pinheiro. O time que tomou a goleada, para que os leitores examinem quem, supostamente, estava na gaveta, Renato Gaúcho à parte, foi: Ricardo Cruz; Odemilson, Renê Playboy, Márcio Santos e Válber; Pingo, Carlos Alberto Santos e Carlos Alberto Dias; Renato Gaúcho, Valdeir e Pichetti.


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