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15/08/2009 - A elegancia de Jorge Lima: Por Edwellington Villa

Quarto-zagueiro canhoto, com técnica refinada, que comete poucas faltas e dificilmente dá um chutão. No truculento futebol "moderno" é praticamente impossível encontrar um jogador com todas essas qualidades juntas. Seria uma "mosca branca". E o América já teve o privilégio de contar com "xerifões" talentosos. Um dos mais famosos foi Jorge Lima (foto), uma preciosidade que se estivesse em ação hoje, jogaria em qualquer clube europeu. Na época dele, o mercado era muito restrito e poucos craques brasileiros foram exportados para o "Velho Continente". Boêmio assumido, a vida desregrada também atrapalhou a carreira de Jorge Lima, que completou 50 anos de idade no dia 23 de fevereiro. Fluminense de Campos dos Goytacazez, ele deu os primeiros chutes como ponta-esquerda das equipes de base do Americano, tradicional clube de sua terra natal. Como era fã do lateral-esquerdo Marco Antônio, tricampeão mundial com a Seleção Brasileira na Copa do México, passou a atuar na ala.

Em 1975, foi levado ao América do Rio pelo seu irmão, o centroavante Sérgio Lima, um dos goleadores da Taça Guanabara. O técnico Djalma e o diretor Moacir Aguiar decidiram colocá-lo na quarta-zaga e acertaram em cheio. "Eu não gostava de treinar. Na defesa eu me posicionava melhor e corria menos", comenta. Jorge Lima foi vice-campeãoestadual sub-20 pelo Ameriquinha, ao perder a final para o Fluminense. Promovido ao time principal pelo técnico Danilo Alvim, firmou-se na retaguarda americana durante o Campeonato Nacional de 1976. O América de Rio Preto estava precisando de um zagueiro e o presidente Benedito Teixeira, o Birigüi, ficou impressionado com o desempenho de Jorge Lima num amistoso pelo "xará" carioca em Leopoldina (MG). Birigüi e Valdir Custódio Leite acertaram todos os detalhes e trouxeram o becão.

Chegou a Rio Preto no dia 29 de maio de 1979 e tornouse um dos maiores ídolos do América. Estreou no empate com o Grêmio Sãocarlense por 1 a 1, em amistoso preparatório para o Paulistão. A primeira vez que defendeu o Rubro contra um grande foi na vitória de 2 a 0 sobre o Santos, dia 8 de julho de 1979, no estádio Mário Alves Mendonça. Disputou a Taça de Prata e a Taça de Ouro (equivalente ao Brasileirão) de 1980, quando o América fez uma campanha desastrosa. Inclusive, na goleada de 5 a 0 sofrida para o Colorado (atual Paraná Clube), em Curitiba, ele não esquece o cai-cai para evitar um massacre maior. Luís Fernando Calori, Gerson Andreotti e Serginho Índio tinham sido expulsos. Jorge Lima e Marinho simularam contusões e a partida acabou aos 26 minutos do segundo tempo.

Foram mais de 150 jogos durante os seis anos dedicados ao América, sempre com atuações destacadas. Tanto que em abril de 1983, o empresário Francisco Monteiro, o Todé, quis levá-lo para o Atlético-PR, mas a negociação emperrou. O Botafogo-RJ e o Sport Recife também tentaram contratá-lo, mas a diretoria americana não o liberou. Formou dupla de zaga com Mauro, Ailton Silva, Miro, Lacerda, Camilo, Marcos Vinicius, Vantuir e Orlando Fumaça. "A maioria lembra de mim e do Fumaça jogando juntos, mas eu tinha mais identificação com o Mauro", diz. Quando o Paulistão terminava, o "xerifão" era emprestado para disputar o Brasileirão por outros clubes. Foram duas passagens pelo Grêmio Maringá (82 e 84) e integrou o elenco do Bangu, vice-campeão brasileiro de 1985.

Depois de recusar uma proposta de Cr$ 300 mil do Novorizontino, Birigüi decidiu vendêlo ao Barretos, por Cr$ 150 mil. "Ele (Birigüi) alegou que não iria reforçar um concorrente", recorda Jorge Lima. Na época, o time de Novo Horizonte era um dos adversários do América no Paulistão e o Barretos disputava a Intermediária. Permaneceu na equipe barretense durante cinco temporadas. Depois, peregrinou por diversos clubes e levou calote de alguns. Jogou no Comercial de Ribeirão Preto, Ferroviária, Mirassol, Caldense, Radium de Mococa, Primavera de Indaiatuba, Batatais, Comercial de Cornélio Procópio (PR), Chapadão do Sul (MS), Anapolina, River (PI), José Bonifácio e Uberaba, onde pendurou a chuteira em 1996.

Cachaça antes do jogo e calotes
Quando foi jogar no Uberaba, o último clube de sua carreira, Jorge Lima já trabalhava na Lécio Pneus, em Rio Preto. "Como fiquei cinco meses sem receber salários no Uberaba, peguei o aparelho de fax do escritório do presidente e ia trazer embora", lembra. "Aí, o presidente me deu vários cheques e devolvi o fax. Troquei os cheques em bares lá de Uberaba", acrescenta. Consciente, Jorge Lima reconhece que a bebida prejudicou sua trajetória. Ele lembra, inclusive, uma passagem no Mirassol, em 1990, quando o meia Gilberto (vindo do Fluminense) levou ao vestiário uma garrafinha com cachaça escondida em sua pochete. "A gente dava uns golinhos para aquecer." Porém, ele não confirma a lenda de que levava pinga para a concentração dentro de frascos plásticos de desodorante para enganar dirigentes. "Isso é imaginação do povo." Na opinião de Jorge Lima, Careca, Juari e Serginho Chulapa foram os centroavantes mais chatos que marcou. "O Careca e o Juari eram muito rápidos e o Serginho era forte e usava muito bem o corpo", descreve. "Mas, eu dava um sustinho (pegada) neles e eles sossegavam."

Depois de encerrar a carreira, ele trabalhou numa loja de materiais para construção de Rio Preto e foi campeão da 1ª Copa Kaiser pela Matinha. Mudou-se para Bady Bassitt e montou uma escolinha de futebol. Completou cinco anos de abstinência do álcool após ficar internado no Lar São Francisco de Assis da Providência de Deus de Jaci, dirigido pelo Frei Francisco. É funcionário público municipal de Bady há sete anos como instrutor da escolinha de futebol. Dá aulas para 40 garotos nascidos entre 1990 e 1992. "Devo muito à minha esposa (Maria Júlia), ao vice-prefeito Jura (Jurandir de Jesus Garcia) e ao prefeito Airton (da Silva Rego)", diz. Leva uma vida tranqüila ao lado da mulher, Maria Júlia, com quem está casado há 26 anos, e dos filhos Juliano, Jorginho e Vitor Hugo. Jorginho, aliás, seguiu os passos do pai e joga profissionalmente como zagueiro. Depois de passagens pelo Rio Preto, Mirassol e outros clubes, ele está no Democrata de Sete Lagoas, da Primeira Divisão de Minas Gerais.


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